An edition of Lei X Graça (2015)

Lei X Graça

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Last edited by Silvio Dutra
September 2, 2016 | History
An edition of Lei X Graça (2015)

Lei X Graça

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Uma incorreta compreensão do assunto tratado neste livro pode fazer com que sejamos facilmente conduzidos para uma mentalidade e prática legalista ou antinomista, as quais devem ser evitadas se desejarmos prosseguir na carreira da vida cristã de maneira correta e adequada.
Durante anos temos nos dedicado ao entendimento e à divulgação do papel da Lei e da graça, respectivamente, conforme projetados nos conselhos eternos de Deus para a nossa salvação e crescimento espiritual.
Como pode ser observado no sumário deste livro, são tantos os aspectos que se encontram relacionados ao assunto da Lei e da Graça, que devemos dedicar tempo e esforço para alcançarmos um entendimento adequado de como ambas trabalham para a nossa salvação e santificação.
Por que o apóstolo João afirma que a Lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a verdade e a graça vieram por meio de Jesus Cristo?
O que foi a Antiga Aliança, e o que sucedeu à mesma desde que foi inaugurada uma Nova Aliança com base o sangue de Jesus?
Por que Jesus afirma que a Lei e os profetas duraram até os dias de João Batista, ao mesmo tempo que diz que não veio revogar a Lei e os profetas?
Respostas para estas e muitas outras perguntas podem ser encontradas neste livro.

Publish Date
Publisher
Silvio Dutra
Language
Portuguese
Pages
402

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Edition Availability
Cover of: Lei X Graça
Lei X Graça
2015, Silvio Dutra
Paperback in Portuguese

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Book Details


Published in

Rio de Janeiro, Brasil

Table of Contents

Lei
X
Graça
Silvio Dutra
DEZ/2015
2
A474
Alves, Silvio Dutra
Lei x Graça./ Silvio Dutra Alves. – Rio de
Janeiro, 2015.
402p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Alianças. 3. Condenação
4. Testamentos. 5. Justificação. 6. Libertação
I. Título.
CDD 230
3
Sumário
Introdução.....................................................
6
É Irrevogável e Indissolúvel Porque é Eterna...........................................................
10
Deixar que a Graça nos Conduza................
12
Não é por Persuasão, mas por Graça..........
14
A Graça Está Destinada a Vencer................
16
Senhor Justiça Nossa...................................
22
A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo.......
27
O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei.................................................................
34 A Graça não Condena..................................
38
Graça Sobre Graça.......................................
42
A Troca da Antiga Aliança pela Nova...........
44
Jesus Não Veio Condenar Mas Salvar.........
56
A Justiça do Evangelho Não é Juízo............
59
O Real Significado da Graça.........................
62
Uma Nova Aliança Diferente da Antiga.........
65
Uma Aliança Firmada em Graça...................
67
A Bênção da Graça Perdoadora...................
73
A Graça Está Sujeita a Decadências............
81
Alianças e Dispensações Para um Único Propósito.......................................................
83
A Graça Nunca Desconsidera o Viver Pecaminoso..................................................
94
A Graça se Manifesta na Nossa Fraqueza...
101
A Justiça do Evangelho Testemunhada pela Lei e pelos Profetas......................................
106
A Justiça Manifestada sem Lei.....................
111 A Luz da Lei e a do Evangelho.....................
122
É Pela Graça mas Não é Fácil Conforme Possa Parecer ..............................................
124
4
Impossível para a Lei mas Não para a Graça que Opera pela Fé.............................
126
Uma Graça que Cresce................................
131
Todo Mérito é da Graça................................
132
O Recebimento é Gratuito Mas é Condicional...................................................
138
Graça............................................................
140
Justa Cooperação da Graça com a Vontade Consciente....................................................
143
A Dispensação do Espírito Santo.................
145
A Graça Opera Pela Obediência..................
149
A Graça Supera a Aflição.............................
151
Cobre como as Águas do Dilúvio.................
154
A Graça não Condena..................................
156
O Modo de Concessão da Graça..................
160
A Aliança da Graça – 2 Samuel 7.................
162
Características do Evangelho Verdadeiro.....
171
Como Saber Qual é o Evangelho Verdadeiro?...................................................
174
O Evangelho Não Condena..........................
179
Por Que Jesus Não Veio Condenar?............
182
O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei.................................................................
185
Aceitos por Causa da Justificação................
189
Quem Condenará a Quem Deus Justifica?..
191
Resgatados da Ira e da Maldição.................
194
Cristo, Nossa Redenção, Justiça e Santificação...................................................
196
O Que é a Antiga Aliança..............................
243
5
O Que é a Nova Aliança...............................
246
A Graça Exige Perseverança........................
261
Pregar o Evangelho a Toda Criatura............
273
Uma Nova Esperança para Adúlteros e Ladrões.........................................................
283
O Que é a Caducidade da Letra...................
295
O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus.........
299
Fazer a Vontade de Deus é Mais do que Cumprir a Lei Moral.......................................
307
Como o Crente Está Morto Para a Lei?.......
312
O Espírito Santo é uma Promessa da Nova Aliança..........................................................
317
A Antiga Aliança Era Figura da Nova............
328
A Finalidade da Lei.......................................
332
Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei...........
338
Breve Comentário de Gálatas 4....................
342
Breve Comentário de Gálatas 5....................
370
6
Introdução
Há cerca de vinte anos, em uma visão noturna, vi escrito em letras douradas gigantes as palavras do nosso título, como se estivessem em chamas, escritas exatamente na forma como as estamos apresentando.
Junto com a visão fui instruído em espírito com as seguintes palavras: “você escreverá um livro sobre este assunto”.
Ao que repliquei: “Senhor tu conheces a dificuldade que tenho para entender de modo adequado qual é a relação que existe entre a lei e a graça.
Ao que simplesmente respondeu: “eu te darei entendimento”.
Era uma madrugada fria de inverno, e por cerca de três horas despertei do meu sono, e ainda naquela mesma noite comecei a escrever, com a Bíblia aberta à minha frente, as coisas que me vinham à mente na referida ocasião.
Animado pela visão comecei a estudar o assunto com maior afinco e recordo que cheguei a preparar um esboço de livro com cerca de cento e cinquenta página, todavia, sentia que algo de substancial faltava à minha exposição, de maneira que não tendo desistido de prosseguir
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interessado no tema, abandonei a ideia de escrever o livro.
Posteriormente, em nova revelação, cerca de dez anos depois da primeira, foi-me ordenado em sonho que “fosse aos puritanos e a Martyn LLoyd Jones”, sem que nada mais fosse acrescentado.
Até a ocasião, por incrível que possa parecer, pois já havia sido ordenado ao pastorado, nunca tinha ouvido falar sobre os mesmos.
Creio que esta instrução tinha a ver com a primeira visão, para que eu fosse conduzido a um melhor entendimento do significado do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, e como é que a Lei de Deus se relaciona a ele.
Desde então, comecei a escrever abundantemente sobre o assunto em diversos artigos, sem no entanto condensá-los em um livro – tarefa à qual estou me entregando neste fim do ano de 2015.
Em vez de apresentar o assunto de forma didática e acadêmica, optei por uma forma mais direta e simples, sem me ater a qualquer arranjo prévio quanto à divisão do assunto em capítulos.
Na verdade, se o fizesse, ficaria muito limitado no desenvolvimento do tema, pois quantos capítulos seriam suficientes para abranger de modo profundo um assunto que é em sua
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natureza infinito e eterno, a saber, o da lei e a graça de Deus?
Com a apresentação livre dos diversos artigos, cremos que poderemos observar melhor o assunto em seus diversos ângulos, de modo a obtermos uma maior compreensão de tudo o que é de vital importância para o nosso conhecimento.
Estamos fazendo uma consideração prática do tema porque ele tem muito a ver com a nossa vida prática.
Não se trata de algo para apenas satisfazer a nossa curiosidade ou desejo de ampliar nossos conhecimentos, mas temos diante de nós algo que se relaciona à vida ou à morte; à bênção ou à maldição eternas.
Como poderíamos então tratá-lo de modo descuidado ou não objetivo?
Tenho testemunhado que muitos que andavam na graça, vieram a decair da mesma, e não acharam qualquer auxílio na Lei para serem reerguidos.
Como pode ser então isto?
Não é a Lei proveniente do mesmo Deus de toda a graça?
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Esta e muitas outras questões serão respondidas ao longo das páginas deste livro, que espero, seja de grande ajuda para reerguer os caídos e manter em firmeza os que continuam de pé na presença do Senhor.
10
É Irrevogável e Indissolúvel Porque é Eterna
Deus fez uma aliança eterna com os cristãos, e prometeu isto desde os dias dos profetas, e o prometeu especialmente a Davi.
Sendo eterna não pode ser anulada.
Sendo aliança em seu caráter matrimonial onde Ele é o esposo, e a igreja a noiva, o que se requer então dos aliançados é que eles sejam fiéis.
Deus sempre será fiel porque não pode se negar a si mesmo.
Todavia, os cristãos, por causa do resquício de corrupções que remanescem na natureza terrena, são exortados a serem fiéis em tudo durante a sua peregrinação terrena, porque, tal casamento, do Criador com a criatura, requer isto.
Deus continuará amando seus filhos adúlteros, mas os sujeitará à disciplina da aliança.
Ele não os repudiará porque tem prometido manter o compromisso por toda a eternidade.
Diante de tal caráter imutável da promessa que Ele fez, não resta aos aliançados senão a alternativa de serem também fiéis, de modo que
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se viva de modo agradável Àquele com os quais se aliançaram numa união de amor indissolúvel e eterno.
Ao falar do caráter eterno da Nova Aliança que faria com os crentes por meio da fé em Jesus Cristo, Deus disse que esta consistiria na fiéis misericórdias que havia prometido a Davi.
“Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Isaías 55:3)
Esta promessa de Isaías 55.3 foi confirmada em Atos 13.34.
Davi fizera menção ao caráter eterno desta aliança em suas últimas palavras antes de morrer:
“Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança?” (II Samuel 23.5)
12
Deixar que a Graça nos Conduza
“Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito,” (Hebreus 6.1)
Este “deixemo-nos levar para o que é perfeito” se refere à vocação de Deus para todos os cristãos de crescerem na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, até a estatura de varão perfeito.
Não que eles chegarão ao estado de perfeição moral absoluta sem qualquer pecado enquanto estiverem neste mundo, mas que devem chegar à perfeição espiritual, à plenitude do desenvolvimento das suas faculdades, para poderem discernir tanto o bem quanto o mal, o que é possível somente para aqueles que chegarem à plenitude do seu amadurecimento espiritual, de maneira a estarem aptos a darem um correto e adequado testemunho da verdade, no poder do Espírito (Pv 4.18; I Cor 2.6; II Cor 13.11; Ef 4.13; Fp 3.15; Col 1.28; 2.6; 4.12; II Tim 3.16,17; Hb 5.12-14; Tg 1.4).
Esta perfeição é atingida se aperfeiçoando a santidade no crescimento da graça e do conhecimento de Jesus Cristo (II Cor 7.1; Ef 4.12; Hb 13.21; I Pe 5.10).
Do mesmo modo que há uma perfeição a ser esperada no porvir que é total e absoluta, sem
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qualquer pecado, há também uma perfeição que é para ser buscada e atingida enquanto ainda estamos neste mundo e que se refere ao nosso amadurecimento espiritual pelo crescimento progressivo em santificação até atingir tal medida de perfeição que foi proposta por Deus aos cristãos, e conforme foi exigida ao próprio Abraão: “Anda na minha presença e sê perfeito.” (Gên 17.1).
O cristão deve ser confirmado por Deus, depois de ter sido aperfeiçoado na fé, no amor e na esperança, pela renovação de sua mente e caráter, através do processo da santificação. Somente assim, poderá se achar fortificado e fundamentado (I Pe 5.10).
Assim, o “deixemo-nos levar” do texto significa permitir e cooperar voluntariamente com trabalho da graça na nossa vida, especialmente pela paciência nas tribulações e aflições.
Sabendo que tudo coopera juntamente para o seu bem o cristão perseverante na fé e na santificação há de experimentar graus cada vez maiores desta perfeição relativa ao seu amadurecimento espiritual, conforme lhes serão concedidos por Deus.
14
Não é por Persuasão, mas por Graça
Uma pessoa não é salva por Cristo por meio de argumentos humanos persuasivos.
Ainda que alguém pudesse compreender nocionalmente todos os mistérios espirituais concernentes à justificação pela fé, à regeneração e santificação do Espírito Santo, ele não poderia ser salvo e santificado a menos que estas realidades espirituais lhe fossem comunicadas de modo experimental pela graça divina.
Sem uma experiência real de conversão, sem que o próprio Espírito Santo opere em nós esta salvação, continuaremos os mesmos de sempre, só que com a diferença de possuir agora conhecimentos religiosos.
Por isso a fé não é apenas o assentimento da nossa mente às verdades reveladas, ou seja, a nossa aceitação de que a Palavra de Deus seja a verdade.
Além deste assentimento é necessário a confiança em Cristo que nos leva a nos entregar inteiramente a Ele e ao Seu trabalho e cuidado. Isto consiste em se apropriar do conhecimento da verdade ao qual demos o nosso assentimento que se torna real e prático na nossa confiança no
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Senhor e na disposição de cumprir os Seus mandamentos e vontade.
Deus honrará este tipo de fé que é mais do que mero conhecimento e assentimento relativo à verdade.
E responderá com a concessão da Sua graça e poder para operar a nossa transformação (conversão, santificação etc).
16
A Graça Está Destinada a Vencer
Satanás arremete contra nós, procurando nos destruir, quando estamos enfraquecidos e doloridos.
Tal como Simeão e Levi deram sobre os siquemitas, quando estavam abatidos em dores, pela circuncisão (Gên 34.25).
Todavia, Cristo nos fortalece na nossa fraqueza, e habita com o quebrantado de coração (Is 61.1).
Não desprezemos o trabalho de humilhação de nossas almas, pelo qual o Senhor administra a nós a Sua graça em maior medida.
Sempre é deixado algo para que os cristãos lutem, de modo que entendamos que necessitamos de Cristo, para que possamos exalar o Seu bom perfume.
Mas ainda que possa parecer um paradoxo, são estes corações quebrados como canas, e estes pavios fumegantes que fazem as orações mais preciosas diante de Deus, por causa da dependência dos gemidos inexprimíveis do Espírito, através deles.
Quão preciosas são para o Senhor as orações que fazemos com um coração quebrantado!
17
Assim, ao falarmos de pavio fumegante devemos ter em conta que isto tem o propósito de nos lembrar que a menor fagulha da graça é preciosa.
Há uma bênção especial nesta pequena faísca.
Jesus não veio salvar justos e sãos, mas pecadores e enfermos.
Deus se agrada de que nos alegremos com os humildes começos.
Ele se agrada em usar grãos de mostarda e formar grandes arbustos a partir destas pequenas sementes.
Ele preferiu a pequena cidade de Belém Efrata, e não Jerusalém, para nos trazer o Salvador.
Ele não começou a Igreja com pessoas notáveis, poderosas, nobres, importantes e nem mesmo com um grande número de seguidores.
O Seu método é primeiro provar fidelidade no pouco, para depois conduzir ao muito.
O Seu ministério é restaurador e nos deu um exemplo disto na reconstrução dos muros e portas de Jerusalém com Neemias.
E muito mais do que muros e portas, Ele está interessado em restaurar vidas. E fará isto principalmente com paciência e amor.
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Os pastores devem então, ser pessoas simples e humildes, seguindo o exemplo do Senhor deles, e exporem a verdade de maneira clara, e nunca de forma obscura.
A verdade não teme algo tanto quanto o encobrimento, e não deseja algo tanto que seja exposta clara e abertamente à visão de todos.
Daí Jesus ter dito que tudo o que ensinou reservadamente aos discípulos deveria ser proclamado de cima dos telhados.
Paulo era profundo, no entanto se tornou como ama acariciando seus filhos (I Tes 2.7), e se fez fraco com os fracos (I Cor 9.22).
Cristo desceu do céu e se esvaziou de Sua majestade, para se oferecer a nós, como oferta suave de amor. E não desceremos de nossas elevadas vaidades para fazermos o bem a qualquer alma necessitada de salvação?
Devemos nos guardar daquele espírito que em vez de exibir paciência, longanimidade, mansidão e misericórdia aos homens, demonstra fúria, exaltação e ira obstinada, ainda que em nome de fazer prevalecer a verdade.
Devemos lembrar que não podemos fazer prevalecer a verdade agindo contra a verdade.
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Devemos nos lembrar sempre que o fruto da justiça é semeado em meio à paz, sobretudo, a paz interior dos nossos corações, enquanto ministramos.
No exercício da disciplina na Igreja devemos nos acautelar para não tentar matar uma mosca na testa de alguém com um martelo. O poder que é dado à Igreja é para edificação e não para destruição.
O amor cobre uma multidão de transgressões. Não foi exatamente isto que Deus fez conosco ao perdoar todos os nossos pecados, quando nos salvou em Cristo?
O Espírito Santo está contente em habitar em almas fumegantes e ofensivas. Que nós pudéssemos reter algo desta mesma disposição misericordiosa!
A graça não reside em almas perfeitas neste mundo. Lembremos sempre disto.
Como nenhum cristão se encontra em estado de perfeição absoluta deste outro lado do céu, então nós temos que nos exercitar sempre em espírito de misericórdia, de perdão e mansidão.
Por isso, nunca devemos nos julgar, de acordo com os nossos sentimentos presentes, porque nas tentações nós veremos muita fumaça desprendendo de pensamentos incorretos.
20
Nós devemos nos precaver do falso raciocínio, porque nosso fogo não é como o dos demais, ou então por parecer que não há qualquer fogo em nós.
As portas de Jerusalém estavam queimadas, mas Deus providenciou para que fossem restauradas através de Neemias, de forma que erraram todos aqueles que pensavam que Jerusalém permaneceria sem portas para sempre.
Devemos lembrar que estamos na Aliança da Graça, em que nem toda medida é como fogo pleno, pois há muita faísca, que deve ser também vista como chama.
Todos os cristãos têm a mesma fé preciosa (II Pe 1.1) por meio da qual obtiveram a perfeita justiça de Cristo.
Uma mão fraca pode pegar uma joia preciosa.
Algumas uvas mostrarão que a planta é uma videira e não um espinheiro.
Uma coisa é ser deficiente na graça e outra coisa não ter qualquer graça.
Deus sabe que nós não temos nada de nós mesmos, então na aliança da graça Ele não requer nada além do que Ele dá, e que sempre nos dá o que Ele requer.
21
Se não pudermos trazer um cordeiro, então permitirá que tragamos duas pombas e uma rola (Lev 12.8).
O evangelho é uma moderação misericordiosa, em que a obediência de Cristo é estimada como sendo a nossa (Rom 5.19).
22
Senhor Justiça Nossa
No capítulo 23 de Jeremias o Senhor repreende a infidelidade e a corrupção dos sacerdotes e anciãos de Israel (pastores do povo naquela dispensação) e os profetas que falavam em Seu nome sem terem sido levantados por Ele, os quais haviam feito o Seu povo se desviar da Sua presença.
O protesto de Deus se fundamenta no fato deles nunca terem ensinado a Sua Palavra, conforme fora revelada e escrita para eles, senão, aquilo que eles afirmavam ser a Sua Palavra, quando na verdade, era a própria palavra deles, ensinada para atender aos seus propósitos cobiçosos, interesseiros, carnais e egoístas.
Isto pode ser visto claramente nas palavras de repreensão dirigidas contra eles como as da seguinte passagem:
“28 O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale fielmente a minha palavra. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor.
29 Não é a minha palavra como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra?
23
30 Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu próximo.
31 Eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que usam de sua própria linguagem, e dizem: Ele disse.” (Jer 23.28-31).
O efeito que era produzido no povo, de andarem contrariamente com o Senhor, era uma prova evidente de que a vida e o ensino destes pastores e profetas não eram segundo a verdadeira Palavra de Deus, porque o efeito dela é sempre o de produzir temor e santidade no Seu povo, como o próprio Senhor se expressou em relação a isto da seguinte maneira:
“21 Não mandei esses profetas, contudo eles foram correndo; não lhes falei a eles, todavia eles profetizaram.
22 Mas se tivessem assistido ao meu conselho, então teriam feito o meu povo ouvir as minhas palavras, e o teriam desviado do seu mau caminho, e da maldade das suas ações.” (v. 21,22).
O que eles ensinavam e profetizavam não provinha do céu senão dos seus próprios corações enganosos e corrompidos:
“25 Tenho ouvido o que dizem esses profetas que profetizam mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei.
24
26 Até quando se achará isso no coração dos profetas que profetizam mentiras, e que profetizam do engano do seu próprio coração?
27 Os quais cuidam fazer com que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu próximo, assim como seus pais se esqueceram do meu nome por causa de Baal.”
Isto é um grande alerta para os ministros do evangelho, para que não incorram no mesmo erro deles, deixando de pregar a genuína Palavra do Senhor, no poder do Espírito.
Quando se desvia deste rumo os resultados sempre serão funestos.
Há muitos sonhadores que desejam conduzir a Igreja de Cristo pelas visões do seu próprio coração, afirmando que são revelações recebidas da parte de Deus.
Se estas visões não estiverem de acordo com a Palavra revelada na Bíblia, em gênero, número e grau, em vez de serem proclamadas, devem ser esquecidas e abominadas, porque não será apenas o povo que será prejudicado por elas, mas o próprio Deus terá a Sua ira despertada contra tais pastores ou profetas, como se vê neste capítulo de Jeremias.
Como o quadro que havia prevalecido em Israel por séculos, sempre foi este de o povo não
25
receber a devida instrução por parte da grande maioria de seus pastores e profetas, então o Senhor mesmo seria o Pastor do Seu povo, e o faria através de pastores que estariam debaixo da justiça de um Rei justo que procederia da descendência de Davi, nosso Senhor Jesus Cristo, e estando assim justificados por Ele, tanto eles, seus pastores, quanto o rebanho de Deus sobre o qual seriam constituídos, seriam conhecidos pelo nome de O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.
Este Rei justo viria então a se manifestar em dias futuros para buscar as ovelhas perdidas da casa de Israel que haviam sido dispersadas por todos os maus pastores e profetas que haviam presidido sobre elas.
“3 E eu mesmo recolherei o resto das minhas ovelhas de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e frutificarão, e se multiplicarão.
4 E levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor.
5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra.
26
6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (v.3 a 6).
Esta promessa está vinculada à da Nova Aliança, constante do capítulo 31.
27
A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo
No sétimo capítulo de Romanos nós vemos o caráter firme e seguro da nossa aliança com Jesus, e pela qual somos libertados da condenação de uma aliança segundo a lei.
Deus como o Grande Legislador e Juiz de todo o universo, criou o homem e fez com que ele fosse responsável perante Ele segundo a norma da lei moral que ele inscreveu em sua consciência, instalando ali um tribunal que age no próprio homem condenando-o naquilo que é reprovável e aprovando-o naquilo que é louvável.
Mas, segundo a Lei Régia há a exigência da perfeita obediência, conforme foi revelado a Adão, e que a penalidade para qualquer ato de desobediência é a morte, e todo homem responde à referida Lei até hoje.
Posteriormente, nos dias de Abraão, Deus acrescentou novos mandamentos para serem guardados pelas pessoas da descendência do patriarca, com as quais formaria um povo para Si, para se revelar ao mundo através do mesmo, e principalmente para que por este povo nos fosse dado o Messias.
O caráter da obediência completa exigida de toda a humanidade da Lei Régia foi ainda mais detalhado com os mandamentos que foram
28
dados através de Moisés. E desde então, até que viesse o Messias, o modo de agradar a Deus, passava obrigatoriamente pelo cumprimento dos mandamentos da Lei.
A pena de morte espiritual e eterna para os desobedientes foi mantida porque se afirma na Lei de Moisés que é maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas da Lei, para cumpri-las.
Isto descreve a condição de miséria espiritual e de condenação que paira sobre toda a humanidade, porque todos são pecadores, e não têm em si mesmos a condição e o poder para obedecerem perfeitamente a todos os mandamentos da Lei.
Como poderia então Deus se prover de filhos semelhantes a Cristo?
Se todos estão obrigados à Lei, como poderão ter vida, estando mortos; como poderão ser livres, estando condenados?
Só havia um modo de Deus nos libertar da condenação da Lei e nos dar vida eterna, permanecendo Justo, por não remover ou contrariar a Lei. Isto Ele fez nos considerando como mortos para a Lei, por ter feito com que a morte de Jesus na cruz fosse a nossa própria morte.
29
Ele visitaria o Seu próprio Filho Unigênito com o castigo que era destinado a nós pecadores. Ele executaria a sentença de morte exigida pela Lei nEle, fazendo com que fosse feito pecado e maldição no nosso lugar.
Assim, a Lei não seria removida, mas nós seríamos resgatados por meio de Cristo de debaixo da sua condenação e maldição.
É basicamente isto que Paulo expõe no sétimo capítulo de Romanos; de modo que toda a argumentação que ele fizera quanto à condição de não se fazer o bem que queremos, e fazer o mal que não queremos, pelo pecado que opera na nossa carne, é sobretudo uma condição que explica sobretudo a condição em que se encontram aqueles que permanecem debaixo da Lei e não da graça do evangelho, a saber as pessoas que não foram regeneradas pelo Espírito Santo.
Elas podem dizer isto, por não terem encontrado a solução que Paulo havia encontrado: "miserável homem que sou". Isto porque não têm a Cristo que é o único que pode nos livrar do corpo desta morte.
Este livramento que se obtém somente por Cristo e em Cristo, não é decorrente do fato de que agora os próprios crentes são perfeitos segundo a Lei, porque sempre haverá resquícios de pecado e de desobediência em sua natureza
30
terrena que ainda carregam neste mundo, mas sim, e exclusivamente pelo fato de que foram resgatados da condenação da Lei por terem morrido para a Lei em Cristo.
Uma Lei não tem autoridade sobre quem já está morto. Assim, os crentes já não são julgados ou condenados por Deus com base na Lei, porque não estão mais debaixo da Lei, quanto ao que se refere ao seu poder de condenação daqueles que pecam contra os seus mandamentos. Eles são julgados agora pela lei da liberdade, respondendo, livres que são, não mais a um Juiz, mas a um Pai de amor, que os corrige e dirige como filhos amados, por causa de Jesus Cristo.
Haverá ainda um grande conflito entre o Espírito e a carne, entre a velha e a nova natureza, em todos os crentes, mas juntamente com Paulo eles podem dizer em uníssono: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor." Não serão mais condenados por não serem tão bem sucedidos nesta guerra contra as suas almas, quanto gostariam de ser. Contudo, sabem que são amigos de Deus, que amam a Deus, que odeiam o diabo e o pecado, e que por fim serão transformados à perfeita imagem de Jesus, ainda que isto ocorra somente na glória.
Todavia, esta grande verdade central do evangelho não deve servir de motivo para que abusemos da liberdade que foi conquistada para nós por um preço elevadíssimo de sangue, e não
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de um sangue qualquer, senão o puro e imaculado sangue do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Preço este que foi pago para que livres do pecado, pudéssemos viver em novidade de vida santificada perante Deus. Afinal, foi para isto que fomos chamados e justificados.
Para vivermos esta vida santa sem a qual não podemos manter nossa comunhão com Deus, necessitamos de poder do alto.
Veja que quando os apóstolos viram todos os sinais que Jesus havia realizado, Sua ressurreição e ascensão, a uma mente carnal pareceria que isto seria o suficiente para que eles saíssem pelo mundo afora dando testemunho das coisas que haviam visto e ouvido.
Todavia, nosso Senhor lhes falou da necessidade de permanecerem em oração, e aguardando em Jerusalém o batismo do Espírito Santo, para que fossem revestidos de poder, pois quem dá e sustenta o testemunho de Cristo em nós é o poder do Espírito Santo.
Por este motivo vemos o apóstolo Paulo dirigindo a Timóteo as seguintes palavras, para o cumprimento adequado do seu ministério:
“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus.” (2 Tim 2.1)
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E a todos os cristãos:
“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.” (Ef 6.10)
Vemos assim a nossa necessidade vital de estarmos permanentemente fortalecidos na graça de Jesus, mediante o poder do Espírito Santo que em nós opera.
Muitos pensam erroneamente que quando se fala em batismo do Espírito Santo, revestimento de poder do Espírito, ou enchimento do Espírito, que isto signifique simplesmente receber um poder sobrenatural que operará em nossas vidas independentemente das condições morais e espirituais em que nos encontremos.
Todavia, se examinarmos com mais cuidado não somente o texto bíblico, mas a nossa própria experiência prática em relação a este assunto, verificaremos que é muito mais do que isto o significado do poder da graça e do Espírito Santo atuando em nossas vidas.
Antes de tudo, devemos lembrar que este poder nos é dado para sermos cheios do fruto do Espírito Santo, que tem a ver com as nossas atitudes, com o nosso comportamento, com a transformação progressiva do nosso caráter e coração.
É um poder para nos habilitar a sermos obedientes aos mandamentos de Deus, para
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aprendermos a ser mansos e humildes de coração, a sustentarmos um bom testemunho de comportamento em nossa vida cristã, de modo a nos tornarmos exemplo para ser seguido por outros.
Trata-se de ser cônjuges exemplares, filhos exemplares, servos exemplares, líderes exemplares, cidadãos exemplares, enfim, sermos achados em todas as áreas de relações humanas como homens e mulheres de Deus, que trazem estampada em suas vidas a imagem de Jesus Cristo, conforme veremos no estudo do oitavo capítulo de Romanos, no qual se afirma que fomos predestinados por Deus para tal propósito.
Nada disto poderá existir sem que haja uma transformação do nosso coração. E por isso necessitamos crucialmente deste poder do alto, porque como o próprio Senhor Jesus afirmou, sem Ele nada podemos fazer, notadamente no que tange às coisas que são celestiais, espirituais, e divinas.
Em cumprimento à promessa que nos fez em relação à Nova Aliança (Jeremias 31.31-35) Deus já nos deu um coração de carne em substituição ao coração insensível de pedra às coisas concernentes ao reino dos céus que tínhamos antes da nossa conversão a Cristo.
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O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei
Não encontramos nas Escrituras a expressão pacto de obras, ou aliança de obras. Todavia, ambas as formas, especialmente a primeira é muito empregada para definir a condição de Deus como o Grande Juiz e Legislador que exige perfeição absoluta para que possamos estar eternamente em Sua presença.
A falta desta condição implica em morte espiritual e eterna.
Em sua infinita sabedoria, bondade e misericórdia, o Senhor tem conhecido pela sua onisciência, que nenhum descendente de Adão está habilitado para atender a tal demanda desta Lei Eterna que emana da própria natureza perfeitamente santa e justa de Deus.
Assim, entendemos que Ele não tem proposto a pecadores uma opção de salvação por este modo de se cumprir perfeitamente a Sua vontade e mandamentos.
Isto sempre será feito por pura graça, misericórdia, e simplesmente mediante a fé, como foi proposto ao próprio Adão quando o Senhor foi procurá-lo com a promessa da redenção quando ele se escondeu
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envergonhado da sua nudez atrás das árvores do jardim.
Não pode entretanto, ser removida esta lei que exige perfeição absoluta, e por isso Jesus não morreu apenas como nosso substituto para quitar a culpa do nosso pecado, como também para nos revestir dessa perfeição requerida pela justiça divina, que há de ser absoluta na glória, e mediante o trabalho da santificação da graça pelo Espírito Santo e aplicação da Palavra de Deus aos nossos corações, conforme o penhor do trabalho da nossa transformação e purificação já iniciado aqui na Terra a partir da nossa conversão. O grande mandamento de Deus foi revelado por Jesus como sendo o amor de uns pelos outros com o mesmo amor com o qual ele nos amou; ou seja, o dever imposto é o de amar com o amor de Deus. Então quando Tiago alude a isto, ele se reporta em sua epístola à questão da acepção de pessoas que estava ocorrendo na igreja em favor dos mais abastados e contra os pobres e necessitados do rebanho. Isto era um pecado claro e contundente contrário ao que Ele chama de Lei Régia, ou seja a Lei do Rei, esta Lei que está amarrada à própria natureza e essência de Deus, que é amor.
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“Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem;” (Tiago 2.8) Não convinha que aqueles que foram resgatados da morte espiritual e eterna, inclusive e principalmente por se transgredir tal mandamento do amor, que é o principal de todos, continuassem transgredindo o mesmo. “Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.” (Tiago 2.12) A esta lei da liberdade da condenação em Cristo, aludiu também o apóstolo Paulo em Rom 8.2: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.” Então, se não fosse por Cristo, todo o nosso esforço em cumprir perfeitamente a Lei – ao qual devemos nos dedicar com sinceridade e amor – seria totalmente perdido caso viéssemos a transgredir um único ponto da lei que está indissoluvelmente ligada à natureza de Deus, porque é Legislador e Juiz conforme demanda a sua justiça que haja perfeita conformação à sua santidade e amor. “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.” (Tiago 2.10) – Este é o caráter da lei para aqueles que não estão debaixo da cobertura do sangue de Jesus. Daqui vemos quão ineficaz é a
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tentativa de se justificar por meio das obras da lei. Assim, devemos clamar e dar graças a Deus por nos ter dado Jesus Cristo, juntamente com o apóstolo quanto à nossa condição natural de sermos achados mortos em delitos e pecados que pode ser somente revertida por estarmos no Senhor: Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.
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A Graça não Condena
Deus não está condenando a qualquer pessoa na presente dispensação da graça, conforme afirmação de Jesus de que não veio condenar, mas salvar.
A natureza de Deus é longânima, perdoadora, misericordiosa, amorosa, e por isso uma das características do amor destacada em I Cor 13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou seja, ele não se exaspera.
Deus se ira contra o pecado, mas não tem qualquer prazer na morte dos ímpios, ou seja, de todos aqueles que não Lhe amam e aos Seus mandamentos.
A ira pode ser definida como uma oposição séria e violenta de espírito contra qualquer mal, real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou ofensa, porque isto está contra a natureza do amor.
Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem e a orar para o bem de todos, até mesmo de nossos inimigos, e até daqueles que zombam de nós e nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom 12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e
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orar para o bem de todos, e em nenhum caso desejar o mal.
Porque como imitadores de Deus, na busca da sua imagem e semelhança, é justamente o que devemos fazer, porque isto é parte da essência divina.
Dizemos que é um dever porque o evangelho veio trazer a restauração em nós, da imagem e semelhança, não com Adão, antes da queda no pecado, mas a do próprio Cristo, conforme se afirma amplamente na Bíblia.
O que temos em Cristo, quanto ao trato com as imperfeições que há na humanidade? Graça, amor, bondade, misericórdia, perdão, reconciliação, e justiça (a sua justiça que nos justifica).
Os próprios juízos divinos na presente dispensação, têm em vista contribuir para a continuidade da referida restauração, e são corretivos e decorrentes da rejeição obstinada da graça que nos está sendo oferecida.
As obras más ou boas de todas as pessoas serão somente passadas em revista no grande dia do Juízo Final.
Por isso toda vingança é proibida por Deus, já que Ele afirma que toda a vingança lhe pertence.
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A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom 12.19), de forma que toda a ira que contém um desejo de vingança, é contrária ao cristianismo e proibida por Deus.
Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”.
Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo irada com uma outra, logo esta ira se transformará em ódio.
Assim, nós achamos que na verdade acontece com aqueles que retêm um rancor nos seus corações contra outros, durante semana depois de semana, e mês depois de mês, e ano depois de ano.
Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as pessoas contra as quais se deixaram irar assim deste modo.
Este é um pecado mais terrível à vista de Deus.
Então, não é de se admirar que esta seja a principal estratégia do diabo para nos afastar de Deus, e para nos manter sob julgamentos em
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nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de sermos oprimidos por ele.
Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco para ter um coração manso, sofredor, paciente, perdoador.
Mais do que isto, necessitamos do derramar abundante do amor de Deus nos nossos corações que é operado sobrenaturalmente pelo Espírito Santo.
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Graça Sobre Graça
“12 E o Senhor vos aumente, e faça crescer em amor uns para com os outros, e para com todos, como também o fazemos para convosco;
13 Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos.” (I Tes 3.12,13).
As graças operadas pelo Espírito Santo são a fonte da nossa santidade, no aumento delas em nós pelo trabalho da santificação.
Nada se perde deste trabalho progressivo do Espírito nos cristãos, porque uma graça não é substituída por outra, senão acrescentada, conforme dizer do apóstolo Pedro:
“5 E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência,
6 E à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade,
7 E à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade.” (II Pe 1.5-7).
O que foi conquistado será mantido por vigilância e oração, e será aumentado pelo recebimento de outras graças (virtudes e poder)
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que também serão aperfeiçoadas em seu crescimento.
O que não aprendeu ainda a ser misericordioso será com certeza aperfeiçoado em misericórdia.
O de mau temperamento será aperfeiçoado em mansidão.
O modo do Espírito Santo implantar estas virtudes é pela formação de hábitos.
Assim como aprendemos determinadas habilidades e comportamentos pelo hábito de repeti-las.
A santificação é pois em seu progresso um hábito que é incorporado em nós, em relação a todos os nossos deveres espirituais, à medida que eles nos vão sendo ensinados e implantados em nós pelo Espírito Santo, consoante a aplicação da doutrina da Palavra de Deus.
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A Troca da Antiga Aliança pela Nova
“Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.” (Hebreus 8:13)
Toda vez que abrirmos as páginas do Velho Testamento, devemos sempre colocar como pano de fundo o Evangelho de Cristo, para que não tomemos ao pé da letra, como mandamento divino ordenado aos discípulos de Jesus, muitos dos preceitos da antiga dispensação, que durou de Moisés a João Batista (Mt 11.13; Lc 11.16), os quais não podem e não devem ser aplicados na nova dispensação em que estamos vivendo há cerca de dois milênios.
A Lei Antiga, determinada por Deus para vigorar em Israel, por cerca de 1440 anos prescrevia:
 morte por apedrejamento em razão de determinadas transgressões daquela Lei dada por meio de Moisés.
 como maldito de Deus deveria se anunciar a si mesmo publicamente o leproso.
 proibidos estavam vários alimentos classificados como impuros.
 sacrifícios de animais oferecidos para cobrir o pecado.
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 e muitos outros preceitos civis e cerimoniais, além dos morais.
Deus, pela Lei, revelava que era o Juiz do Seu povo e ensinava ao mesmo tempo o quanto é oposto ao pecado.
Todavia, em sendo Juiz, é também pai bondoso, amoroso, misericordioso, perdoador e salvador.
Como revelou isto, já que os preceitos da Lei antiga poderiam ofuscar tais atributos relativos à Sua completa longanimidade, amor e bondade?
Ele o fez trazendo uma nova lei por meio de Cristo, para substituir a antiga.
Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá.
Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.
Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
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Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.
Heb 8:7 Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda.
Heb 8:13 Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.
Heb 9:15 Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados.
Heb 10:9 então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo.
Heb 10:10 Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.
A Lei da nova aliança, do novo testamento, do evangelho, da graça, pela qual se revogou a primeira, é chamada pelo apóstolo de lei régia (Tg 2.8), porque prescreve o amor ao próximo,
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sem qualquer tipo de condenação legal, conforme ocorria na primeira, apesar de também prescrever o amor ao próximo.
Assim, a lei do amor de Cristo não vigora pelo cumprimento de ordenanças cerimoniais e civis, como a primeira, mas simplesmente por fé, graça, misericórdia e arrependimento.
A punição dos malfeitores é designada para as autoridades civis de cada nação, conforme determinação da parte de Deus.
Não é uma característica ou atribuição do evangelho, pelo qual se oferta a libertação do espírito do jugo e condenação do pecado.
A lei do evangelho é amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo.
O amor nunca busca o mal, ou que seja do próprio interesse, não se conduz inconvenientemente, não é preconceituoso, enfim, o amor faz somente o bem ao seu semelhante.
Mat 22:35 E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou:
Mat 22:36 Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?
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Mat 22:37 Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.
Mat 22:38 Este é o grande e primeiro mandamento.
Mat 22:39 O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Mat 22:40 Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.
Rom 13:10 O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.
Poderia haver uma lei melhor do que essa?
No episódio da mulher adúltera que Jesus livrou da condenação por apedrejamento, podemos constatar o quanto Ele realmente mudou a antiga lei por uma nova, porque pela antiga, ela deveria morrer apedrejada.
É por isso que é ordenado por Cristo aos cristãos, na Bíblia, que façam o convite da salvação pelo evangelho a todas as pessoas e em todos os lugares da terra.
Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
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Este convite consiste basicamente no oferecimento gratuito que Ele está fazendo da Sua própria justiça divina, amor e misericórdia, para perdoar todos os nossos pecados e justificar a todos os que nEle crerem, de modo que sejam livrados da condenação, e para o recebimento da vida eterna.
Todavia, em havendo recusa em se ouvir a mensagem do evangelho, o próprio Cristo ordena que não haja insistência.
Luc 10:16 Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou.
Mar 6:11 Se nalgum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó dos pés, em testemunho contra eles.
O evangelho é o tempo da paciência, da misericórdia, da longanimidade de Deus para com todos os pecadores.
A ninguém Deus está condenando, enquanto durar esta dispensação. Ao contrário, está salvando.
João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.
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João 12:48 Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia.
O evangelho é a lei divina, se assim podemos nos referir a ele, na presente dispensação da graça, e esta lei de justiça oferecida para a nossa justificação e perdão, a ninguém condena.
É a rejeição do evangelho, segundo nosso Senhor Jesus Cristo, que será o motivo da condenação no último dia, como Ele o afirma em João 12.48.
João 3:16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
João 3:17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
João 3:18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.
Mar 16:16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.
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Esta nova dispensação do evangelho substituiu a chamada antiga dispensação da lei de Moisés, porque Jesus se ofereceu a si mesmo como sacrifício, em nosso lugar, para satisfazer a exigência da justiça divina.
Não é do teor e essência do evangelho condenar as pessoas pelos seus maus atos e até mesmo pensamentos, porque até os próprios cristãos que fazem a oferta do evangelho também são pecadores, que foram remidos pela graça, mediante a fé em Jesus.
Aos que têm abraçado a fé no evangelho, Cristo lhes impõe a disciplina da nova aliança, pela admoestação mútua à prática do amor e das boas obras.
Outra característica do convite do evangelho é que não se deve fazer distinção de qualquer pessoa, que não deve haver preconceito de raça, religião, condição social, ou de qualquer outra natureza.
Desta forma, aqueles que têm sentimentos preconceituosos, não estão de modo algum anunciando o verdadeiro evangelho de Cristo, tal como ele se encontra registrado nas páginas da Bíblia.
Rom 3:21 Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas;
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Rom 3:22 justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção,
Rom 3:23 pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,
Porque isto seria uma contradição, uma vez que não se pode conciliar preconceito com o fato de Jesus não fazer acepção, distinção de qualquer pessoa, e de igual modo, devem agir aqueles que falam em Seu nome.
Por outro lado, deixar de anunciar o evangelho, em desobediência ao mandamento de Deus, para o bem eterno dos ouvintes que o receberem, por livrar o espírito da condenação eterna a ser proferida no dia do Juízo Final, seria então uma grande prova de falta de amor e de misericórdia para com nossos semelhantes, esconder deles esta mensagem, ou então adulterá-la.
Por isso é também ordenado nas Escrituras que se deve ter cautela com o ensino de falsos pastores, profetas e mestres que falam em nome de Cristo, e que se dizem cristãos, e mensageiros genuínos do evangelho, quando na verdade não são, e o fazem por motivo interesseiro e por torpe ganância.
Mat 7:16 Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.
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2Pe 2:1 Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor.
2Pe 2:2 E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade;
Mat 10:16 Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.
Mat 10:17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas;
Mat 10:25 Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?
A prudência da serpente é recomendada pelo Senhor aos que se empenham na obra da pregação do evangelho, ao lado da simplicidade das pombas.
As serpentes evitam confrontos desnecessários, mas atacam quando são atacadas. Por isso o cristão deve reter apenas a prudência da serpente, e associá-la à inofensividade das pombas, que nunca atacam quando são atacadas.
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Por fim, ao concluir esta breve explanação, deve ser dito que a ninguém deve ser imposto o evangelho como uma forma de obrigação a ser cumprida, e nem mesmo nas congregações de Cristo, porque Deus quer ser amado e adorado em espírito e de modo voluntário.
Ninguém deve ser condenado ou acusado por conta da religião ou costumes que tenha adotado, evidentemente, é claro, desde que não infrinjam as normas legais e os costumes de cada sociedade à qual se pertença, mas isto não é um encargo dos cristãos enquanto cristãos, mas das autoridades constituídas.
Os mensageiros do evangelho devem ser promotores da paz, e por isso é dito por Cristo que bem-aventurados são os pacificadores.
Para este propósito, da promoção da paz e do bem estar dos seus semelhantes, devem orar em favor de todos os homens.
1Tm 2:2 Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,
1Tm 2:2 em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito.
1Tm 2:3 Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador,
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1Tm 2:4 o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.
Devem também os cristãos serem modelos de bom comportamento e de conduta, como pais, filhos, empregados, empregadores, ou o que for.
Devem estar sujeitos às autoridades, porque conforme afirmado na Bíblia, não há autoridade genuína que não tenha sido instituída por Deus.
Rom 13:1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.
O evangelho não é pregado por mero dever de consciência ou por obediência ao mandamento divino, mas sobretudo porque os discípulos de Jesus são movidos em amor a fazê-lo, pelo mesmo Espírito Santo que neles habita, e que também atuava em nosso Senhor Jesus Cristo.
“como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele;” (Atos 10:38)
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Jesus Não Veio Condenar Mas Salvar
Marcos 2:17 Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.
João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.
Dê a devida atenção a estas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo.
Até que Ele volte, a porta da salvação estará aberta para todo aquele que se arrepender dos seus pecados e buscar viver para Ele.
Amados leitores, nosso Senhor mesmo definiu a Sua principal missão em ter vindo a este mundo há cerca de 2.000 anos atrás, como sendo a de salvar e não a de condenar pecadores.
Então, enquanto perdurar esse tempo de graça até que Ele volte, Deus está abrindo uma grande oportunidade para todas as pessoas que queiram ser livradas da manifestação da ira vindoura, em forma de juízo de uma condenação eterna, que há de vir sobre todos os que viveram neste mundo, sem terem se convertido a Cristo.
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Por isso, queremos ser muito claros, sinceros e diretos em todas as mensagens transmitidas aos amados leitores, mantendo o foco do evangelho que aponta somente para Jesus Cristo para que sejamos salvos de tal condenação em razão do pecado.
É bom lembrar que um único pecado praticado ao longo de toda a vida já sujeita o seu praticante à condenação eterna.
Portanto, não há um único justo, de si mesmo, pela sua própria justiça, diante de Deus.
Por isso Jesus morreu em nosso lugar na cruz, carregando sobre si toda a culpa dos nossos pecados.
Em suma, tudo o que se refere à necessidade de um viver reto, do dever de se guardar os mandamentos de Deus, e tudo o mais que se refira à santificação de nossas vidas, somente pode ser praticado e vivido caso sejamos convertidos a Cristo, e estando em comunhão com Ele, por meio do Espírito Santo.
Assim, se a Lei santa de Deus lhe condena justamente por causa do pecado, lembre que pela fé em Jesus, nos está sendo oferecida gratuitamente a libertação de tal condenação, ao mesmo tempo que somos por Ele capacitados a viver de modo aprovado pela justiça divina, pelo poder da graça de Jesus, mediante o trabalho do Espírito Santo em nossos corações.
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Não há qualquer condenação no evangelho, porque Jesus, pelo evangelho que nos trouxe, ou seja, por esta maravilhosa notícia, que é o significado desta palavra no original grego do Novo Testamento, tem se oferecido para ser a nossa justiça, de modo que Deus possa se agradar de nós e se reconciliar conosco.
A rejeição do evangelho. Desta oferta de justiça da pessoa de Jesus, tão graciosa, é que traz condenação.
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A Justiça do Evangelho Não é Juízo
O propósito de Deus,
jamais pode ser frustrado.
Então o que faria para tornar justo
o pecador culpado?
Que se opondo ao seu Criador
e não querendo se sujeitar à sua vontade,
segue o seu caminho de vaidade?
Que resistindo a se entregar a Jesus
resiste também ao recebimento da Sua graça?
E sem a graça, sabemos, somente há ruína,
perdição, ódio, desobediência e morte.
Ah! Que situação difícil para ser resolvida!
Difícil para nós, mas não para Deus,
a quem tudo é fácil e possível.
Difícil e penoso seria sim,
o único modo pelo qual
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o pecador poderia ser justificado.
Deus visitaria o seu pecado,
com juízos, no Seu Filho Amado.
Colocaria sobre Ele nossas transgressões,
resistências e descaminhos,
e com o grande golpe do seu juízo
castigaria o próprio Cristo,
fazendo com que a justiça exigida
fosse por fim atendida.
Jesus tem desde então justiça,
e não juízo para oferecer,
pelo Evangelho.
Quem quiser ser justo,
para receber a graça
salvadora e transformadora,
basta vir a Cristo,
com a mão do coração estendida,
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e Ele a concederá com agrado
para apagar nosso pecado.
Por isso Ele diz que não veio
a este mundo para condená-lo,
mas sim, para salvá-lo.
Oh! Senhor amado!
Muito obrigado por sua justiça!
Felizes são os que têm fome e sede
desta sua maravilhosa justiça,
pela qual, nós perdidos pecadores,
somos saciados,
justificados e abençoados!
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O Real Significado da Graça
Há um grande paradoxo no entendimento carnal relativo à graça divina, uma vez que se costuma considerar como sendo graça exatamente o oposto daquilo que a graça que nos foi dada em Cristo é na verdade; pois os dons naturais e comuns de Deus para toda a humanidade são buscados por pessoas religiosas como se fossem o grande propósito da vida cristã.
Geralmente visa-se tão somente ao que é externo, e não propriamente o que seja espiritual, celestial e divino, para ser aplicado à transformação do próprio caráter e vida, segundo o propósito de Deus na concessão da Sua graça que nos foi dada em Cristo.
Todavia, a Bíblia não nos deixa cegos quanto a este importantíssimo assunto, conquanto podemos observar na grande maioria das passagens bíblicas referentes à graça, qual é o propósito de Deus quanto à sua concessão.
Antes de tudo a graça não é dogma, mas o poder de Deus para o atingimento do objetivo da fé, a saber, a nossa salvação. E é no conhecimento da mesma graça que devemos crescer com vistas ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
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O maior dom que temos recebido da graça de Deus é a vida do próprio Cristo e a habitação do Espírito Santo em nós. As demais graças são consequência desta referida e gravitam em torno da mesma.
Quando estamos na graça, esta produz um bom estado na alma que pode ser discernido em espírito tanto por nós, quanto por aqueles que estiverem na mesma condição.
A graça divina é o maior poder operante neste mundo, pois somente ela é mais forte do que o poder do pecado.
O nosso acesso a esta graça, na qual estamos firmes, e sem correr o risco de sermos rejeitados por Deus, custou um alto preço a nosso Senhor Jesus Cristo – o preço do seu sofrimento e derramamento do seu sangue numa terrível morte de cruz.
É impróprio, por conseguinte, o pensamento associado à palavra graça, de ser algo fácil ou barato.
A salvação é de fato gratuita, mas custou o preço de morte para Cristo, carregando os nossos pecados, e para nós, ela exige o pagamento do preço da nossa consagração a Deus, uma vez tendo sido convertidos mediante a simples fé no Senhor.
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Fomos comprados por preço para vivermos para Deus.
Com o advento de Jesus Cristo foi inaugurada uma nova dispensação para substituir a antiga que vigorou desde os dias de Moisés. Daí ser chamada de dispensação da graça, enquanto a antiga era chamada de dispensação da Lei.
Deus está sendo longânimo nesta dispensação em relação a todos os pecadores, concedendo-lhes assim a oportunidade de se arrependerem e crerem em Cristo, de modo a serem livrados da condenação eterna. Esta é uma das características essenciais da citada dispensação.
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Uma Nova Aliança Diferente da Antiga
Devemos ter o devido cuidado ao estudarmos a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, nas partes relativas ao Antigo Pacto, porque ali encontramos muitas figuras de realidades que se cumpriram em Cristo, e muitos preceitos que foram revogados e alterados por Cristo com a instituição da Nova Aliança, que revogou a Antiga, de modo que não pratiquemos na dispensação da graça aquelas coisas e atitudes que eram determinadas e aceitas por Deus no Antigo Pacto, mas que de modo algum podem ser aceitas nesta nova dispensação, em que novas diretrizes foram dadas para substituírem muitas das diretrizes antigas, como por exemplo a lei do olho por olho, dente por dente; o ofício sacerdotal com a apresentação de animais em sacrifício; as guerras santas ordenadas por Deus para extermínio de povos idólatras etc. A Nova Aliança não é ministério de morte, mas de vida. Isto é, os ministros de Deus estão encarregados de levar a vida de Cristo aos homens, e não a condenação e a morte. Isto fica agora exclusivamente nas mãos de Deus, e a Igreja de Cristo não é mais a espada de Deus, como Israel foi no mundo antigo para exercer juízos de Deus sobre o mundo de ímpios. Deus é o Juiz exclusivo do que se refere a tirar ou não a vida de qualquer pessoa, de modo que não deseja nenhuma cooperação da Igreja neste
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sentido, ao contrário, foi vedado à Igreja na presente dispensação toda e qualquer forma de juízo, e daí Cristo ter determinado que o crente a ninguém deve julgar neste sentido, porque o juízo sobre vida ou morte está agora exclusivamente nas mãos de Deus. À Igreja cabe pregar o evangelho, e aqueles nos quais Cristo será cheiro de morte para a morte e não aroma de vida para a vida, é assunto que se encontra fora da alçada da Igreja, e que está totalmente nas mãos do Grande e único Juiz O dever do qual a Igreja está incumbida é o de levar a mensagem de salvação e se empenhar muito para a salvação de alguns, porque Jesus, na dispensação da graça, se empenha não em condenar os pecadores, mas salvá-los.
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Uma Aliança Firmada em Graça
Em Isaías 55 vemos que o evangelho é para os que têm fome e sede de justiça.
A mesa do banquete está pronta e tudo o que de nós se exige é apetite. É tudo de graça.
Por isso o convite da salvação é dirigido a todos os que têm sede para que venham às águas da salvação, e que poderão adquirir (comprar) o vinho espiritual da alegria, e o leite racional que nos alimenta que é a graça de Cristo, que acompanha o evangelho, para sermos alimentados por ela, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1).
Diz-se que todo esforço e gasto de dinheiro para obter a salvação é vão, porque a salvação verdadeira que Deus está operando pelo Filho, é completamente gratuita.
A boa comida espiritual, e o tutano divino são achados somente na mesa de Cristo, e não nas mãos dos que fazem da religião ocasião de comércio (Is 55.2).
A mensagem do evangelho deve ser ouvida atentamente, pela voz dos ungidos do Senhor, através dos quais Cristo fala, para que pessoas se convertam a Ele, para entrarem na aliança
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eterna, que Ele havia prometido como sendo firmes beneficências a Davi (v. 3).
Estas firmes beneficências a Davi são citadas também em passagens do Novo Testamento, como em At 13.34.
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação. Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra, ele o será no céu.
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Para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos.
Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que na lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador.
É dito que a aliança é segura porque está assim bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu.
Ela está tão bem estruturada que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu.
E uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo, embora todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça.
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As misericórdias prometidas aos aliançados é segura, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé.
A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.
É segura porque é suficiente.
Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo.
É somente disto que a nossa salvação depende. Muitos podem pensar que quando se conclama, na profecia de Isaías, ao ímpio a deixar o seu caminho e o homem maligno os seus pensamentos para se voltar para o Senhor, para achar misericórdia e perdão, porque se diz que Deus é rico em perdoar, que isto não se aplique às pessoas perversas.
No entanto, é um convite a todas as pessoas porque não há quem não peque, e Cristo veio salvar e justificar ímpios (Rom 4.5), de forma que aquele que se julgar justo e bom a seus próprios olhos jamais poderá ser salvo por Cristo, porque Ele salva aqueles que se reconhecem pecadores.
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Para esclarecer este ponto, para que ninguém fizesse uma avaliação errada relativa à sua real condição diante de Deus, Ele declarou que os seus pensamentos não são os nossos pensamentos, nem os nossos caminhos os seus caminhos (Is 55.8).
Se nos compararmos com outras pessoas é possível que nos achemos bons e justos.
Mas se contemplarmos os que estão no céu, especialmente ao próprio Deus em sua perfeita santidade e glória, nós veremos quão imperfeitos somos.
Clamaremos tal como Isaías fizera no capítulo sexto, quando viu a santidade e glória com que os serafins louvavam ao Senhor no Seu trono de glória.
Por isso se ordena que olhemos para Cristo para que sejamos salvos, porque somente quando contemplamos a majestade da sua santidade, é que podemos enxergar qual é o nosso real quadro de miséria e de necessidade que temos de sermos salvos por Ele.
Então esta salvação não será achada em nós mesmos. Porque ela nos vem inteiramente destes caminhos e pensamentos elevados de Deus que procedem do céu e não da terra.
É do alto que a graça e o Espírito são derramados, e por isso somos conclamados a
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olhar para o alto, para Cristo, para o tesouro do céu e não para o que é terreno, quando o assunto se refere à nossa salvação.
Esta salvação vem do alto, mas a Palavra que salva foi revelada por Cristo na terra, e está não apenas na Bíblia, mas junto da nossa boca e coração, para que façamos a confissão da fé no Seu nome e senhorio, para que sejamos salvos.
Deus pôs esta autoridade para nos salvar na Sua Palavra. A palavra do evangelho é a semente que contém a vida eterna.
De maneira que todo o que crê na Palavra da verdade será salvo, porque esta Palavra gerará em seu coração a fé pela qual Deus o salvará. Por isso Ele afirma o que se lê em Is 55.10,11.
Estes que crerem no evangelho e forem salvos sairiam dando testemunho por todas as partes com a alegria e a paz com que seriam guiados pelo Espírito Santo, e por onde passarem anunciando as boas novas, a maldição será transformada em bênção porque se diz que em vez de espinheiros e sarças, cresceriam a faia e a murta que são plantas ornamentais. E isto seria para o Senhor um nome e um sinal eterno que nunca se apagará (v. 12, 13).
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A Bênção da Graça Perdoadora
Se nada mais fosse dito além das coisas referidas nos capítulos anteriores ao 30º do livro de Deuteronômio, e o livro fosse fechado com as palavras do capítulo precedente (29º), não haveria nenhuma esperança para Israel prosseguir como povo da aliança feita com Abraão, Isaque e Jacó, e mesmo da aliança feita com eles no Sinai, porque a maldição da Lei os baniria para sempre da presença de Deus quando invalidassem a aliança com os seus pecados.
Entretanto, o capítulo 30º de Deuteronômio é iniciado com a promessa de Deus de usar de misericórdia para com eles, quando na terra do seu cativeiro eles se voltassem arrependidos de seus pecados para Ele.
A Lei colocou diante deles a escolha da bênção ou da maldição, conforme o seu comportamento diante do Senhor e dos Seus mandamentos.
Haveria bênçãos no caso de obediência, e maldições no caso de desobediência.
Servir ou não a Deus não seria uma opção que não afetaria as suas vidas.
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Ao contrário, seria uma questão de vida ou de morte.
A Aliança que eles fizeram com o Senhor não gerou um compromisso de serem meramente religiosos, mas um compromisso que afetaria profundamente o rumo das suas vidas; quer para o bem, quer para o mal.
O bem por escolherem ouvir o Senhor e guardarem os Seus mandamentos, e o mal, em caso contrário.
Mas eles são lembrados que não estavam diante de um Deus inflexível e implacável, pois Ele sabia perfeitamente que o homem é carnal e dado a se desviar dos Seus caminhos, e não andará neles caso não seja assistido pela Sua graça e misericórdia, e também pelo temor que Lhe é devido.
Assim como Ele disse que não destruiria mais a terra com as águas do dilúvio, por saber que o homem é carnal; de igual modo Ele fez promessas de misericórdia para que Israel pudesse retornar para Ele depois que eles Lhe tivessem voltado as costas para servirem a outros deuses.
Ele aceitaria a esposa infiel de volta, desde que esta deixasse os seus amantes e voltasse para o Seu marido.
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O Senhor sabia em todo o tempo que estava entrando em aliança com uma esposa que lhe seria infiel em várias ocasiões, mas nem por isso deixou de desposá-la (a nação de Israel) porque a amava.
De igual modo, os cristãos da Igreja de Cristo, apesar de suas infidelidades para com o Senhor, não podem romper o laço matrimonial que têm com Ele porque são laços indissolúveis em razão da perfeita fidelidade do Senhor, que permanece fiel ao que nos tem prometido, apesar da nossa infidelidade.
Afinal, foram libertados da escravidão ao pecado, por Cristo, para viverem em obediência completa a Deus, mas como carregam a fraqueza da carne neste mundo, há esta ação da misericórdia restauradora do Senhor operando em suas vidas para serem curados de suas apostasias e pecados.
Por esta promessa de misericórdia e restauração da Antiga Aliança, vemos que o caráter de Deus é realmente perdoador e compassivo.
Nenhum pecador, por pior que seja, poderá se desculpar em juízo de não ter alcançado a salvação, porque a misericórdia do Senhor é infinita.
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Ele tem prometido que usa de misericórdia com qualquer um, independentemente de seus méritos.
Isto significa que ninguém poderá impugnar a decisão de Deus de usar de misericórdia para com o pior dos pecadores, porque Ele determinou em Sua Soberania usar de misericórdia com quem Ele quisesse, isto é, conforme a Sua própria vontade, e nada mais. Ninguém poderá se desculpar pelo fato de se ter desviado e não ter buscado reconciliação com o Senhor e com a Sua Igreja, porque ninguém está excluído de alcançar misericórdia quando se arrepende e se volta para Deus.
O verso 10 fala de conversão e do modo desta conversão: “quando obedeceres à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei; quando te converteres ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma.” Os versos 11 a 14 falam da possibilidade e alcance próximo desta conversão, uma vez que a vontade revelada de Deus é conhecida na Sua Palavra, e o que crê na Palavra do Senhor e se dispõe a obedecê-la, será salvo. Estas palavras de Moisés citadas nos versos 11 a 14 são usadas pelo apóstolo Paulo em Rom 10.6-8 para se referir ao evangelho de Cristo, que
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salva mediante a mesma conversão em se dizer não ao pecado e se voltar para Deus e para a Sua Palavra:
“Porque este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil demais, nem tampouco está longe de ti. Não está no céu para dizeres: Quem subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Mas a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.” (Rom 10.11 a 14).
O que tanto Moisés quanto Paulo querem se referir é que a Palavra de Deus para a salvação já foi revelada por Ele de uma vez para sempre e está registrada na Bíblia.
Não precisamos de nenhuma nova revelação, de nenhum novo profeta, de nenhuma nova visão ou sonho para sabermos qual é a vontade de Deus relativamente a nós para que possamos ser salvos.
A Sua vontade já está revelada na Bíblia. O Espírito Santo abrirá o entendimento daqueles que Se aproximarem de Deus com todo o coração e alma, para que possam não somente entender a Sua Palavra, como também a serem transformados por meio dela em novas criaturas.
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Há uma ilustração interessante neste capítulo, quanto ao fato de que os povos inimigos que o próprio Deus trouxe para oprimir e desterrar os israelitas, por causa da sua desobediência, seriam repreendidos pelo Senhor assim que Seu povo buscasse se converter dos seus maus caminhos.
O mesmo se dá com cristãos desobedientes que são entregues a Satanás para destruição da carne.
Caso eles se arrependam dos seus pecados e voltem para Deus numa verdadeira conversão que implique na obediência à Sua Palavra, eles não são apenas restaurados à comunhão, como os espíritos malignos que os oprimiam são repreendidos e afastados pelo Senhor. Muitas das aflições que sofremos têm o propósito de nos conduzirem ao arrependimento e à conversão ao Senhor e à Sua Palavra.
Ninguém deve contar com a aprovação e a bênção do Senhor quando vive na prática deliberada do pecado, mas pode e deve esperar a Sua bênção quando se arrepende e se converte dos seus maus caminhos.
Isto é prometido pelo Senhor abundantemente em várias passagens das Escrituras, como por exemplo em Jer 31.18-20 e II Crôn 7.13,14.
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Verdadeiros penitentes podem ter grande encorajamento quanto às compaixões e misericórdias do Senhor, que nunca falham.
Moisés fecha este capítulo 30º com uma convocação aos israelitas para que se apegassem verdadeiramente ao Senhor, porque nisto estava a felicidade e a vida deles. Não haveria nenhuma bênção vivendo longe do Senhor.
Não haveria nenhuma vida aparte da comunhão com Ele.
Seria marcante entre eles a diferença que haveria entre os que servissem e amassem a Deus e aqueles que não o servissem e amassem, porque o próprio Deus os distinguiria com o derramar da sua bênção e vida para os primeiros, e das suas maldições e castigos para os últimos.
A adoração verdadeira ao Senhor traria vida, e a adoração aos falsos deuses lhes traria morte. É isto o que sempre ocorreu no mundo. Os que se voltam para Deus encontram a vida, e os que resistem a Ele à Sua vontade permanecem debaixo da Sua ira e mortos em seus pecados.
A Palavra de Deus é um atalaia que adverte aos homens em toda a parte sobre a sua condição diante de Deus.
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Ela é uma Palavra de vida para os que nela creem e se arrependem de seus pecados, por darem crédito à Palavra do Senhor que é a verdade. E os que a ignoram ou que resistem a ela não lhe dando a devida atenção permanecerão condenados em seus pecados.
Por isso Jesus diz quanto à Palavra do evangelho: “Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia.” (Jo 12.48).
O sentido do Novo Testamento é o mesmo, porque o evangelho coloca todo homem diante da vida ou da morte, da maldição ou da bênção.
“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.16).
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A Graça Está Sujeita a Decadências
“Apo 2:25 - tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha.”
“Apo 3:11 - Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.”
“Gál 5:4 - De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes.”
Estas passagens bíblicas, entre outras de igual teor, apontam para o fato de que a graça está sujeita a decadências.
Se não nos exercitarmos espiritualmente todos os dias, e se nos tornamos negligentes no uso dos meios destinados a fortalecer a graça (oração, vigilância, meditação e prática da Palavra, comunhão dos santos etc), podemos ter como certo de que seremos achados enfraquecidos na fé, sofremos perdas em nossa santificação e comunhão com Deus.
Daí a advertência apostólica:
“Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.” (I Cor 10.12)
Ele diz: o “que pensa”, porque é possível pensarmos que estamos fortificados na graça do
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Senhor, quando na verdade podemos estar enfraquecidos.
Todavia, caso estejamos fortificados nesta graça em que estamos firmes por causa da obra de Jesus em nosso favor, é importante prestarmos a devida consideração à referida advertência, porque é possível a qualquer santo que venha a ficar enfraquecido na graça, por falta de diligência espiritual, e cair da comunhão com o Senhor, ainda que não para uma queda final, que signifique a perda da sua salvação.
A coroa que podemos perder citada por nosso Senhor em Apo 3.11 refere-se ao galardão futuro, e para que tal não suceda devemos guardá-la por não permitir que o fascínio do mundo, as tentações de Satanás, um viver segundo a carne, a furtem de nós.
Decadências na graça são comuns na vida da maioria dos crentes, em uns são mais graves e constantes do que em outros, todavia, importa que sempre nos levantemos no caminho estreito em que nos encontramos pela fé, toda vez que nele cairmos, de modo que retomemos a nossa caminhada e nos fortifiquemos na graça que está em Jesus Cristo, de modo a permanecermos e perseverarmos na nossa jornada neste caminho estreito que nos conduz a uma mais íntima comunhão e conhecimento do Senhor, e por fim ao céu.
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Alianças e Dispensações Para um Único Propósito
Deus interage com a humanidade através de dispensações e alianças ou pactos, previamente prefixados por Ele em Sua onisciência e soberania, para conduzir-nos até a conclusão da história da nossa redenção, quando todas as coisas serão restauradas em Jesus Cristo com a criação de um novo céu e de uma nova terra.
Se nos detivermos examinando com paciência estas dispensações e alianças a partir da perspectiva do próprio Deus ao planejá-las tendo o grande fim em vista de glorificar em Cristo uma humanidade que havia caído no pecado, podemos entender que não se trataram de dispensações e alianças independentes e para fins particulares, senão, partes integrantes visando ao mesmo fim.
Então, quando a primeira aliança foi feita com Adão, baseada na obediência perfeita do homem e toda a sua descendência para a vida, ou da desobediência para a morte, o grande alvo era o de encerrar a todos sob o pecado (Gál 3.22), de forma a possibilitar que a promessa da salvação pudesse ser fosse concedida a todos os que nEle cressem.
Assim, estas dispensações e alianças existem cronologicamente para nós, mas para Deus,
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especialmente a chamada Nova Aliança em Jesus Cristo, têm um alcance atemporal, pois elas abrangem ou estão relacionadas a todas as gerações da humanidade.
Este foi o caso da aliança feita com Noé, de haver continuidade da multiplicação e manutenção da raça humana e de todos os demais seres viventes sobre a face da terra, e de não haver mais destruição por águas de dilúvio (Gên 9.9-17).
Esta promessa de não haver destruição da raçã humana por Deus e de todas as condições necessárias para a sua manutenção é a garantia do cumprimento da promessa da aliança da redenção (Nova Aliança), feita a Abraão, a qual se manifestaria a partir do seu descendente (Cristo – Gál 3.16), e cujo benefício alcançaria até mesmo Adão e os seus descendentes que tivessem vivido antes de Abraão, e que tivessem sido justificados por meio da sua fé em Deus.
Somente cerca de 430 anos depois da promessa da Nova Aliança feita a Abraão, Deus estabeleceu uma aliança exclusiva com os israelitas nos dias de Moisés, a qual chamamos de Antiga Aliança ou Velho Testamento.
Apesar desta Antiga Aliança, ou Aliança da Lei, ter sido feita com a nação de Israel, ela estava inserida no contexto do plano da redenção da humanidade, conforme citamos anteriormente.
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Todavia, seria de breve duração, na chamada Dispensação da Lei, que durou cerca de 1440 anos. Este foi o período de vigência que Deus estabeleceu para ela.
Assim, a Nova Aliança que tem vigorado na chamada Dispensação da Graça, desde que Jesus morreu e ressuscitou, é denominada Nova, não no sentido de ser a mais recente, ou uma aliança que não teria qualquer tipo de vinculação com as anteriores, mas, sim, que ela é a aliança através da qual se cumpre o propósito redentor de Deus, desde que Ele havia coberto o primeiro casal com as peles de animais sacrificados, e de lhes ter feito a promessa de um descendente (Cristo) que esmagaria a cabeça da Serpente, Satanás, o diabo.
Os que estão aliançados com Cristo estão também aliançados com a Sua vitória. É nEle, segundo a promessa de aliança que Deus fizera desde Abraão, que eles são perdoados, lavados de seus pecados e regenerados e santificados pelo Espírito Santo, para estarem reconciliados com Deus como seus filhos amados.
Por isso temos em muitas passagens bíblicas no próprio Velho Testamento, ou seja, nos dias da Antiga Aliança, várias promessas relativas à Nova Aliança, especialmente nos profetas, como por exemplo em:
Jeremias 31.31-34:
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“Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá.
Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.
Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.”
Ezequiel 36.26,27:
“Eze 36:26 Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.
Eze 36:27 Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.”
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O capítulo 31 de Jeremias é introduzido pela citação “Naquele tempo”, ou seja, nos dias da Nova Aliança, da dispensação da graça.
O Senhor diz que na referida época, Ele seria o Deus de todas as famílias de Israel e elas seriam o Seu povo (Jer 31.1), isto, sabemos agora, por causa da promessa de que todo cristão seria um verdadeiro israelita, conhecido e conhecedor de Deus, integrante de Sua família, porque de outro modo, seria impossível o cumprimento de tal promessa em que todas as famílias de Israel pudessem ser consideradas integrantes do verdadeiro povo de Deus.
Deus faria isto por causa do Seu grande amor que é eterno, e da Sua benignidade que atrairia aqueles que salvaria pela Sua misericórdia a Si mesmo, e hoje sabemos que Ele o faz, nos atraindo a Jesus Cristo para sermos salvos por Ele (Jer 31.3).
Haveria nestes dias futuros de bênçãos quem gritasse como sentinelas no monte de Efraim, que se subisse ao monte Sião, à presença do Senhor, porque haveria cânticos de alegria, e haveria exultação por causa de Israel, que seria posta como a principal das nações, e o que se proclamaria seria o seguinte: “Salva, Senhor, o teu povo, o resto de Israel.”. Este resto de Israel, é o remanescente fiel deste povo que será salvo por Cristo.
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O Senhor havia falado antes somente em destruir, mas agora Ele está falando de uma edificação que ocorreria no futuro.
Já não falaria mais em destruição, mas em edificação, por isso Jesus disse que não veio condenar o mundo, ou julgá-lo, mas salvá-lo, ou seja, na presente dispensação da graça, Ele está sendo inteiramente longânimo para com todos os pecadores, na expectativa de que se arrependam e vivam.
Ele estará convocando, através da Igreja, as pessoas de todos os recantos da terra, para que se arrependam e creiam nEle para que vivam, em vez de destruí-las por causa dos seus pecados.
Então, em face de tal graça e misericórdia, os de Israel, que haviam sido espalhados pelas nações, por causa dos juízos de Deus, tornariam a ser reunidos por Ele em sua própria terra, assim como o pastor ajunta o seu rebanho para guardá-lo.
O pecado e o diabo que eram mais fortes do que Israel e que continuamente o levavam a pecar e a se desviar de Deus, seriam vencidos por Jesus, que é mais forte do que ambos, de modo que uma vez sendo amarrados por Ele esses valentes, Israel poderia ser libertado (Jer 31.11).
Então o Senhor passou a proclamar as bênçãos que viriam não somente sobre os judeus, que
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haviam sido deportados para Babilônia, como também para os israelitas que haviam sido levados em cativeiro pelos assírios, ou seja, para os descendentes deles, especialmente sob o governo de Jesus, quando fossem reunidos a Ele.
Haveria um clamor em Ramá, por causa da matança de meninos de dois anos para baixo em Belém e seus arredores, por ordem do Rei Herodes, que tentaria impedir o cumprimento da promessa de Deus, de dar a Seu povo o Rei que o salvaria dos seus pecados (Jer 31.15, Mt 2.16-18).
Todavia, o propósito eterno de Deus não poderia ser frustrado, e Herodes nada poderia fazer para impedir a chegada a este mundo do Rei dos reis, e Senhor dos senhores, por causa de quem o povo de Deus canta com júbilo e fica radiante com os benefícios do Senhor, em todas as Suas provisões, e também por quem suas vidas se tornam como jardins regados, de modo que nunca mais desfalecerão.
Além disso, por causa da Nova Aliança em Cristo, haverá cântico de júbilo nos altos de Sião, que simbolizam a condição elevada da alma na presença de Deus nas regiões celestiais (Jer 31.12 a).
Jovens e velhos dançariam alegremente quando o Senhor edificasse o Seu povo, e o pranto deles seria transformado em alegria, porque seriam
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consolados pelo Espírito Santo, e o Senhor lhes daria alegria no lugar da tristeza (v. 13).
Todo o choro pelas tribulações e aflições, especialmente as produzidas pelo Inimigo, deveria ser reprimido, bem como todas as lágrimas dos olhos, porque o Senhor recompensaria o trabalho dos Seu povo, e o livraria da opressão do Inimigo (v. 16).
Os que haviam sido castigados deveriam abandonar as suas queixas, e pedirem ao Senhor para serem restaurados, porque estava preparando uma nova dispensação (a da graça) onde prevaleceria mais a Sua misericórdia do que os Seus juízos, e os que se achavam desviados poderiam regressar a Ele com confiança, porque saciaria toda alma cansada e fartaria toda alma desfalecida (v. 25).
Tudo isto fora dado em sonho a Jeremias (v. 26), para que o Senhor o confirmasse logo depois ao profeta com a promessa relativa à Nova Aliança, na qual se cumpririam todas estas bênçãos que ele vira em sonho.
Deus disse que no passado havia falado em arrancar e derrubar, transtornar, destruir, e afligir, relativamente às casas de Israel e de Judá, como vemos nas Suas ameaças em quase todo o Velho Testamento, mas disse que nos dias que ainda viriam (dispensação da graça),
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Ele agora vigiaria para edificar e para plantar (v. 28).
Por isso o apóstolo Paulo diz que a Igreja é a lavoura de Deus, referindo-se a ela como uma plantação, e também como o edifício de Deus, porque o Senhor prometeu plantar e edificar, e não arrancar e destruir o Seu povo nos dias da Nova Aliança.
Nós vemos também o apóstolo se dirigindo à Igreja carnal de Corinto, dizendo que os repreenderia pelos seus pecados, mas que não os destruiria porque o ministério que havia recebido do Senhor era para edificação e não para destruição (II Cor 13.10).
Deus revogaria também o princípio da iniquidade dos pais ser visitada nos filhos até a terceira e quarta geração, conforme previsto na Antiga Aliança, porque na Nova, cada um responderia pelos seus próprios pecados perante Ele (Jer 31.29, 30).
Depois de ter feito esta introdução de promessas de bênçãos, revelou ao profeta como elas se cumpririam, a saber: com a entrada em vigor da Nova Aliança no lugar da Antiga, conforme já comentamos anteriormente (v. 31 a 34).
Para ratificar a imutabilidade deste Seu propósito que se cumpriria em Cristo, o Senhor afirmou que se tal promessa pudesse ser revogada, então Israel deixaria também de ser
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uma nação diante dEle para sempre, porque não há outro modo de existir um povo para Deus, senão na união dos Seus filhos com Jesus Cristo, sendo salvos por Ele, pela justificação da Nova Aliança, com a qual o próprio Abraão havia sido justificado, antes mesmo da Lei, para que se soubesse, que é por tal justificação em Cristo que se tem vida eterna, e não pela Lei de Moisés (v. 35, 36).
Deus não rejeitaria Israel apesar de tudo quanto haviam feito, porque usaria de misericórdia e salvaria o remanescente da referida nação, e não deixaria de fazer isto de modo algum, e por isso afirmou que o faria somente caso alguém pudesse medir os céus e os fundamentos da terra (v. 37).
Assim, os judeus deveriam ter confiança, enquanto estivessem no cativeiro, que o Senhor visava ao bem do Seu povo, e não à Sua destruição, e que deveriam voltar com alegria e com confiança para a sua própria terra, depois que fossem libertados por Ele do cativeiro em Babilônia, porque o Seu propósito para Israel é o de que seja colocado como cabeça das nações na terra para sempre, sem que possa ser jamais derrubado, e isto terá cumprimento por ocasião da volta de Jesus (v. 38 a 40).
Todos os que creem em Cristo fazem parte do verdadeiro Israel de Deus. É a todos eles que são feitas estas promessas. Eles governarão as
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nações da Terra juntamente com Cristo no período do milênio.
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A Graça Nunca Desconsidera o Viver Pecaminoso
A profecia de Isaías é considerada evangélica porque fala do Messias se manifestaria ao mundo para salvar os pecadores.
O evangelho é uma boa nova relativa à salvação, mas não encobre o pecado do homem, e não deixa de apontar para o juízo eterno de Deus sobre o pecado, e a necessidade de fé e arrependimento para o perdão dos pecados e a consequente reconciliação com Deus.
Não é sem razão que o livro de Isaías seja muito citado no Novo Testamento, porque, como dissemos, o seu caráter é totalmente evangélico, porque foi para esta missão de falar do evangelho que Isaías foi chamado por Deus.
Então o enfoque na profecia de Isaías está na obra operada pela graça e pelo poder de Deus, e não pelo mero esforço pessoal do homem.
A graça evangélica que seria manifestada está sempre associada à fé e ao arrependimento, e a um caminhar condigno com a santidade de Deus.
Os fariseus não podiam entender esta mensagem, porque estavam endurecidos, mas
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os apóstolos a entenderam perfeitamente porque a viram encarnada na pessoa de Cristo.
Então é por isso que não vemos nenhuma das epistolas escritas pelos apóstolos desobrigando os crentes de um viver santo e piedoso, sob a alegação de não estarem mais debaixo da Lei e sim da graça do evangelho; porque sabiam que a graça é do remanescente fiel, é dos eleitos, é daqueles que amam a vontade de Deus, é daqueles que detestam o pecado e que amam a santidade.
Foi pra salvar estes que viriam a se arrepender o pecado que Cristo se manifestou. Ele morreu por todos os pecadores, mas apenas aqueles que creem e se arrependem podem ser beneficiados pela Sua morte e desfrutar das bênçãos prometidas por Deus para o Seu povo.
No capítulo 29 de Isaías, Jerusalém é chamada pelo codinome de Ariel. E o capítulo é introduzido pela expressão interjetiva “Ah!” como um suspiro, porque é relativa à cidade onde Davi acampou, isto é, onde ele estabeleceu a sua casa, porque Jerusalém era chamada de a cidade de Davi.
Mas eles não andaram nos caminhos de Davi. Não imitaram a sua devoção e piedade.
Então é proferido o que o Senhor lhe faria:
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“Então porei Ariel em aperto, e haverá pranto e lamentação; e ela será para mim como Ariel.” (v. 2).
São proferidas as assolações que lhes sobreviriam da parte de Babilônia, que a sitiaria e a abateria (v.3,4), e eles se sentiriam como mortos que descem ao pó.
Muitos inimigos prevaleceriam contra Judá, porque os babilônios viriam coligados a outros povos contra Judá, como por exemplo os moabitas e amonitas (v. 5).
Como todos os juízos do Senhor, isto viria repentinamente, como o ladrão, tal como nos dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, e como também será no tempo do fim, conforme Jesus afirmou.
Deus está esperando bons frutos de árvores más.
Antes, é dito na profecia que estas árvores más serão cortadas.
Deus deixa entregues a si mesmos aqueles que amam as trevas e não a luz. Aqueles que amam a mentira e não dão ouvidos à verdade. Ele deixa os que resistem continuamente à Sua vontade, entregues ao próprio endurecimento deles. Ele não lhes concede graça para que achem arrependimento. E nem toca a trombeta de alerta para eles para que despertem do sono de
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morte em que se encontram, como vemos afirmado nos versos 10 a 12 de Isaías 29:
“10 Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, os profetas; e vendou as vossas cabeças, os videntes.
11 Pelo que toda visão vos é como as palavras dum livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não posso, porque está selado.
12 Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não sei ler.”
Eles eram religiosos só de aparência. Eram falsos piedosos em suas obras externas, mas não tinham o poder da piedade operando pela graça em seus corações. Então a devoção deles não era em espírito e em verdade, mas uma adoração falsa. Como se costuma dizer: da boca para fora, mas não de fato e de verdade. Então se afirma o que lemos no verso 13:
“Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração, e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens, aprendidos de cor;”.
Com isso o Senhor prometeu que faria uma obra maravilhosa com aquele povo hipócrita, com
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aqueles judeus que eram apenas no nome, mas não no coração, que consistiria em maravilhas e sinais externos, mas em fazer com que a sabedoria dos seus sábios perecesse diante da glória sobre-excelente do evangelho.
O entendimento dos entendidos a seus próprios olhos nos assuntos da religião ficaria obscurecido pela grande luz do evangelho, porque pelo Espírito Santo derramado no coração dos crentes, eles discerniriam que a doutrina dos líderes de Israel não passava de fumaça e de mandamentos de homens (v. 14).
Deus é onisciente e tudo sabe e conhece, inclusive as intenções dos corações. Mas os que não têm o Seu temor não conseguem ver esta verdade, e vivem enganando e sendo enganados, pensando que o Senhor não leva tal procedimento em consideração (v. 15). Não sabem que há um “Ai!” proferido contra eles, porque serão afligidos no dia do juízo.
Eles não conseguem enxergar que Deus é o oleiro e não o barro. Ao contrário, agem como se fossem oleiros, pensando que podem manipular o Senhor em suas obras e ações, e por isso rejeitam o Seu governo e disciplina em suas vidas (v. 16).
Assim, enquanto os sábios e entendidos, que pensavam enxergar e conhecer completamente a Deus e a Sua vontade, permaneceriam cegos e
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endurecidos pelo Senhor, Ele daria vista espiritual aos que se reconheciam cegos, isto é, ignorantes da Sua pessoa e vontade, e daria que aqueles que nunca ouviram ou não podiam entender a Sua Palavra, pudessem ouvi-la e compreendê-la (v. 17, 18).
Deus não se revelaria aos sábios e entendidos a seus próprios olhos, mas aos pequeninos, a saber, aos mansos (submissos), aos pobres de espírito, e por isso se afirma que são estes os que são bem-aventurados porque são aqueles a quem Deus se dará a conhecer, como também a Sua vontade.
Deste modo, estes pequeninos que se converteriam ao evangelho não se alegrariam e não gloriariam em si mesmos e no seu conhecimento, mas unicamente no Senhor (v. 19).
Enquanto isto, os opressores, os arrogantes, seriam reduzidos a nada, e todos os escarnecedores da verdade e todos os que se dão à iniquidade, seriam desarraigados, porque não serão eles que herdarão a terra, senão somente aqueles que se deixam instruir por Deus, porque são mansos e pobres de espírito (v. 20).
Estes que são desarraigados têm alguns dos seus pecados descritos no verso 21:
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“os que fazem por culpado o homem numa causa, os que armam laços ao que repreende na porta, e os que por um nada desviam o justo.”
Os versos 22 a 24 descrevem de modo muito claro a grande verdade evangélica que somente quem é espiritual pode discernir as coisas espirituais, e tudo discernir sem ser por ninguém discernido.
Então Deus fala pelo profeta nestes versículos que esta mensagem ficará selada para o entendimento dos israelitas, e assim eles não poderiam ficar envergonhados da glória vazia da devoção deles, pensando que fosse algo muito elevado, quando na verdade era uma adoração de lábios de corações afastados do Senhor. Mas isto, como se diz no verso 23 só poderia ser discernido quando o Senhor fizesse a obra das Suas mãos no meio de Israel através de Jesus Cristo, então santificariam o Santo de Jacó e temeriam ao Deus de Israel, porque veriam que o Seu reino não consiste em palavras, mas em demonstração do Espírito Santo e de poder, o que seria manifestado pelo evangelho.
Tão abundante seria o derramar da graça, que os errados de espírito viriam a ter entendimento, e os murmuradores deixariam a murmuração para aprenderem a instrução do Senhor (v. 24).
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A Graça se Manifesta na Nossa Fraqueza
“12 Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque também eu sou como vós; nenhum mal me fizestes.
13 E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne;
14 E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo.
15 Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis.
16 Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?” (Gál 4.12-16).
Paulo roga humildemente aos crentes da Galácia como um pai que insta com seu filho perdido a voltar ao mesmo bom caminho em que andava antes da sua perdição.
Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que estava perplexo com o que eles haviam feito, e receava então que estivesse trabalhando em vão em relação a eles.
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Mas como que lembrando imediatamente da condição deles de terem sido feitos filhos de Deus, tal como ele havia sido feito também, ele desce ao nível deles, não no que se refere ao pecado, mas da miséria deles, e por um momento também se sente miserável com eles, ante a impotência de poder fazer por si mesmo algo em relação a eles, de modo que todo o seu trabalho e cuidado não se tornasse infrutífero.
Assim lhes fez recordar quão grande era o afeto que eles tinham por ele quando lhes pregou o evangelho pela primeira vez, e como lhe haviam tratado tão bem, mesmo diante da sua fraqueza na ocasião, provavelmente em razão de alguma possível enfermidade, pois lhes disse que estavam dispostos até mesmo, se possível fora, a arrancarem os seus próprios olhos para lhos darem.
Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos judaizantes naquela região. O livro de Atos conta detalhes do que ocorreu ao apóstolo quando pregava o evangelho nas cidades da Galácia (Perge, Derbe, Listra, Antioquia da Psídia e Icônio).
Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e impotência pessoais, serviram aos propósitos de Deus, porque o poder de Cristo, e a Sua graça, se aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que quando somos fracos então é que somos fortes,
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porque trocamos a nossa incapacidade pelo poder do Espírito Santo, que nos assiste nas nossas fraquezas.
Deste modo, Paulo introduz esta seção da epístola chamando a todos os crentes gálatas de irmãos.
Ele quer demonstrar que apesar de apóstolo de Cristo ele não se envergonha de chamá-los de irmãos, desde o maior até o menor deles, assim como o nosso Salvador também não se envergonha de nos chamar de irmãos, apesar de ser o nosso Senhor.
No amor cristão as diferenças se dissolvem.
Assim como Cristo se rebaixou deixando a glória dos céus, por amor, também devemos nos humilhar para que possamos ser úteis àqueles que se encontram em necessidade espiritual, que é comum a todos nós.
Não devemos lhes falar do alto da nossa autoridade e importância (que na verdade nem é nossa, caso a tenhamos, mas de Cristo), porque esmagaríamos a cana quebrada e apagaríamos o pavio fumegante, e certamente não é este o ministério do Senhor Jesus neste mundo, porque tem se compadecido das nossas misérias espirituais.
Quando o próprio Paulo havia pregado o evangelho em fraqueza, os gálatas superaram
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por causa do seu amor a ele, a tentação que foi para eles vê-lo naquela fraqueza.
Eles não o desconsideraram e nem o desprezaram como possivelmente estavam fazendo agora, por causa dos argumentos dos judaizantes, porque procuravam por todos os meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante dos seus olhos, afirmando que se fosse verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito a tantas tribulações, fraquezas e perseguições.
Os falsos apóstolos se gloriavam das suas honrarias, das suas posses e conquistas terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus por observarem a Lei de Moisés.
Agora os gálatas não haviam conseguido vencer a tentação de considerar Paulo alguém que não era bem sucedido segundo os padrões do mundo.
Ele rogou que eles voltassem a ser como foram no princípio. Que não julgassem segundo a aparência, e que não interpretassem as tribulações como prova de um possível desfavor de Deus.
A grande preocupação do apóstolo não era com a questão de receber a honra que lhe era devida, mas com a própria condição espiritual dos crentes gálatas que estavam se desviando da simplicidade que é devida a Cristo, e sem a qual
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não é possível termos comunhão uns com os outros.
Paulo fecha esta seção da epístola afirmando que o que estava dizendo quanto à reprovação do que eles estavam fazendo agora, que ela não era movida por nenhum ressentimento pessoal, ou por inimizade, ao contrário, eram palavras de um autêntico amigo, porque eram a pura expressão da verdade. O amor folga com a verdade.
O amor não recorre à mentira. Que então os gálatas aprendessem a julgar segundo a reta justiça conforme convém a todo filho de Deus.
Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que estiver errando, e se o irmão errado tiver algum senso ele agradecerá ao seu amigo.
O apóstolo queria que os gálatas soubessem por que ele lhes tinha falado a verdade, para o próprio bem deles, e que não pensassem que ele os repugnava. Ele lhes falou a verdade porque os amava.
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A Justiça do Evangelho Testemunhada pela Lei e pelos Profetas
Nos livros proféticos do Velho Testamento nós podemos constatar em inúmeros detalhes várias predições relativas ao ministério terreno de Jesus Cristo como também a glória do seu reino que se manifestará no final dos tempos.
É com tão grande exatidão que estas predições se cumpriram nEle e em tudo o que tem ocorrido no mundo desde então, especialmente pela obra do Espírito Santo através dos Seus santos na Terra, as quais não poderiam ser cumpridas em nenhum outro, que podemos ter a firme convicção da completa inteireza da fé que professamos na Palavra revelada de Deus na Bíblia.
Quão profundo e maravilhoso é que o Deus que é totalmente santo, justo e perfeito, criador de todas as coisas que existem no céu e na Terra, se manifestasse a pecadores como nós, e nos revelasse o Caminho para a salvação de nossas almas que se encontravam perdidas.
Quando examinamos por exemplo, o capítulo 32 de Isaías, nós vemos nos versos 1 a 5; e 15 a 18 condições que prevaleceriam nos dias do evangelho.
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O reinado do Messias seria de justiça, e os príncipes que estariam juntamente com ele, governariam com justiça (v. 1).
Somente um varão (Cristo) serviria de abrigo contra o vento e refúgio contra a tempestade, e seria como ribeiros de águas em lugares secos, e a sombra numa terra sedenta; ou seja, Ele seria o amparo e o socorro do Seus povo nas tempestades de aflições que têm que enfrentar neste mundo; bem como o Provedor de todas as suas necessidades, especialmente a de saciar a sua sede espiritual de justiça (v.2).
Aqueles que andassem por fé e não por vista, ou seja, com os olhos espirituais abertos, jamais teriam sua visão ofuscada; assim como aqueles que têm seus ouvidos espirituais abertos, para ouvirem o que o Espírito Santo diz à Igreja, sempre ouviriam a voz de Deus, dando-lhes conhecimento da Sua vontade (v. 3).
É dito que o coração dos imprudentes, ou seja dos precipitados, dos temerosos, entenderia o conhecimento na dispensação do evangelho, indicando isto que a graça capacitaria e guiaria na instrução de uma vida piedosa segundo o conhecimento de Deus e da verdade, que seria alcançado pela conversão e pelo trabalho progressivo da santificação, pessoas que têm dificuldade para aprenderem a prudência e a sabedoria de Deus (v. 4).
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É dito também no verso 4 que a língua dos gagos estaria pronta para falar distintamente. Isto significa que pessoas não eloquentes, ou com dificuldades para se expressarem verbalmente seriam capacitadas pelo Espírito Santo na dispensação do evangelho a pregarem e a darem testemunho de Cristo com ousadia e desprendimento.
O discernimento do Espírito Santo permitiria ao crente conhecer que não há qualquer nobreza espiritual na tolice, e também conhecer as aparentes generosidades que procedem de corações avarentos (v. 5).
As reformas que o rei Ezequias estava realizando em Judá não tinham o poder de estabelecer um governo no coração dos seus súditos. Mas o Rei justo prometido neste capítulo 30 de Isaías, Jesus, o Messias, somente Ele, tem o poder de gerar uma obediência que seja de dentro para fora, e não apenas exterior, porque tem o poder de estabelecer o Seu governo no coração dos Seus servos, e além disso, realizar a transformação de suas vidas e caráter.
Nos versos 15 a 18 nós temos o registro do modo como seria estabelecido este governo no coração, e as suas consequências abençoadas.
É dito no verso 15 que tal sucederia a partir do momento que o Espírito fosse derramado lá do alto sobre o povo de Deus. Sabemos que isto
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começou a acontecer desde o dia de Pentecostes em Jerusalém, com os primeiros discípulos, logo após a morte e ressurreição de Jesus.
A consequência disto é que o deserto se tornaria em campo fértil (v. 15b). Os campos desolados e infrutíferos dos corações desertos seriam tornados férteis e frutíferos para Deus pela água viva do Espírito Santo, na regeneração e na santificação dos salvos.
Estes desertos infrutíferos (pessoas) que nada entendiam e vivam do juízo e da justiça de Deus, teriam esta justiça habitando neles, porque o Espírito passaria a habitar em seus corações (v. 16).
Estes que foram justificados por Deus, por causa da obra de Reforma do coração, realizada pelo Rei prometido teriam paz com Deus, porque seriam reconciliados com Ele por meio da justiça de Cristo que receberam pela graça, mediante a fé. E somente isto seria o suficiente para lhes garantir o sossego e a segurança eterna, pelo livramento da condenação e da ira de Deus, que repousaria sobre eles (v. 17).
A estes que foram assim justificados foi feita a promessa de Deus de que habitariam em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos de descanso, porque os que são da fé têm entrado no descanso de Deus, que não é propriamente um lugar, mas a condição de
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alma e espírito que estão em plena comunhão com Ele, e assim não podem ter qualquer temor (v.18).
Estas boas promessas dos dias do evangelho estão entremeadas com as repreensões e juízos dos versos 6, 10 a 14 e 19, nos quais são repreendidos os tolos e especialmente as mulheres de Israel que viviam em deslumbramento em vez de uma vida de humildade, piedade e santidade.
Elas, assim como todo o povo de Judá não deveriam se gloriar na prosperidade material que haviam alcançado sob o reinado de Ezequias e nem na glória do palácio real, porque toda aquela prosperidade viria a ser removida da terra, que seria deixada deserta, bem como o palácio real.
Esta profecia demonstra que toda glória terrena é passageira e aparente, e não é nela em que deve estar o nosso coração, senão somente no Senhor, que é o Rei de reis, cujo reino é eterno e inabalável.
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A Justiça Manifestada sem Lei
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rom 3.21 a 26)
A justiça prometida por Deus para a justificação de pecadores, e que passou a se manifestar na dispensação da graça, à qual Paulo chama de tempo presente, com a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo a este mundo para morrer na cruz, foi profetizada nas Escrituras do Velho Testamento, porque Paulo diz que ela foi testemunhada pela Lei e pelos profetas, modo comum de se designar as Escrituras no passado.
Abraão e muitos outros no passado, haviam sido justificados por esta justiça, mas o seu significado, modo de aplicação e tudo o mais
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que a ela se refere, seria revelado e manifestado somente no evangelho e na pessoa de Jesus Cristo.
Esta justiça de Deus prometida seria manifestada sem lei, conforme dizer do apóstolo, isto é, ela não seria decorrente das obras da lei, mas no ato de justiça que seria cumprido por Cristo morrendo no lugar do pecador, carregando sobre Si todos os pecados deles, para que pudessem ser perdoados e justificados por Deus.
Isto seria feito também por um ato de pura graça para qualquer um que creia, sem qualquer distinção de pessoas.
Então erram com o alvo da vontade de Deus quanto à salvação, todos aqueles que procuram ser justificados por meio da observância da obras da Lei, uma vez que a justiça prometida está sendo oferecida gratuitamente para a nossa salvação, não por praticarmos as obras da Lei, mas por causa da fé em Cristo. As boas obras seguirão a salvação, mas jamais serão a sua causa.
Deus deliberou que seria misericordioso na dispensação da graça, para com as nossas transgressões e não lembraria dos nossos pecados (Hb 8.12, 10.17), porque poderia nos perdoar completamente uma vez que castigaria
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o Seu próprio Filho unigênito no lugar daqueles que viriam a crer nEle.
Estes que creem, e somente eles, podem receber o dom precioso da justiça divina, porque não serão apenas perdoados, mas completamente santificados.
Não seria justo perdoar um malfeitor para que ele continuasse na prática da injustiça.
Por isso, os que são justificados por Deus, recebem esta maravilhosa bênção, porque passarão a ser justos, se inteirando da causa da justiça e servindo à justiça, pela implantação neles de uma nova natureza espiritual, celestial, santa e divina, que crescerá até a maturidade de varão perfeito.
Por isso os crentes necessitam de Cristo, porque não podem viver e praticar isto sem o poder e a vida de Cristo operando neles.
Cristo é a justiça do crente, para que se torne justiça de Deus, porque Jesus se fez, ao morrer na cruz, maldição e pecado por nós.
Ele se fez a Si mesmo, maldito, para que pudéssemos ser feitos santos (Gal 3.13).
Ele se fez pecado, para que fôssemos feitos santos e justos. (2 Cor 5.21)
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Ele se tornou assim a nossa propiciação, porque a justiça perfeita de Deus deveria ser satisfeita quanto ao nosso pecado, porque a justiça demanda a morte espiritual e eterna do pecador, ou seja, ficar separado para sempre de Deus e sujeito à uma condenação de tormentos eternos.
Então, somente o sacrifício de Jesus poderia satisfazer à justiça divina, porque nenhum outro possuía tão profundo e infinito valor e dignidade para morrer no lugar de muitos.
Como o crente é reconciliado com Deus, tendo paz com Ele, por causa da redenção que há no sangue do sacrifício do Senhor por nós, então se afirma nas Escrituras que a justiça e a paz se reconciliaram, porque é somente por meio da justiça de Deus que nos é oferecida gratuitamente em Cristo, que podemos ter paz com Ele para sempre.
Vejamos então, alguns textos do Velho Testamento que profetizaram acerca de tal justiça divina destinada a transformar pecadores em santos e justos diante de Deus.
Slm 85:10 Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.
Rom 5.1 Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;
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(Veja como a justiça que recebemos pela fé em Jesus, traz como resultado a nossa paz (reconciliação) com Deus. É somente por este meio que acaba a guerra espiritual que havia entre nós e Deus, e o Juízo de condenação de Deus que paira sobre nós, enquanto não temos esta Justiça que promove a paz. O ato da justificação é a atribuição, a imputação da justiça de Jesus ao que crê.)
Isa 32:17 O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre.
(A justiça aqui referida, em tais efeitos, não poderia ser outra, senão a justiça do próprio Cristo, por meio da qual temos paz, descanso espiritual e segurança, eternos)
Isa 46:13 Faço chegar a minha justiça, e não está longe; a minha salvação não tardará; mas estabelecerei em Sião o livramento e em Israel, a minha glória.
(Este texto e o seguinte, revelam que a justiça que está sendo oferecida por Deus aos pecadores pelo evangelho, é a manifestação que haveria de uma Pessoa, e quem é tal pessoa, senão somente nosso Senhor Jesus Cristo.)
Isa 51:5 Perto está a minha justiça, aparece a minha salvação, e os meus braços dominarão os povos; as terras do mar me aguardam e no meu braço esperam.
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Isa 51:6 Levantai os olhos para os céus e olhai para a terra embaixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra envelhecerá como um vestido, e os seus moradores morrerão como mosquitos, mas a minha salvação durará para sempre, e a minha justiça não será anulada.
Isa 51:8 Porque a traça os roerá como a um vestido, e o bicho os comerá como à lã; mas a minha justiça durará para sempre, e a minha salvação, para todas as gerações.
Isa 56:1 Assim diz o SENHOR: Mantende o juízo e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, prestes a manifestar-se.
Jer 23:6 Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa.
Jer 33:16 Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; ela será chamada SENHOR, Justiça Nossa.
Deut 32:36 Porque o SENHOR fará justiça ao seu povo e se compadecerá dos seus servos, quando vir que o seu poder se foi, e já não há nem escravo nem livre.
Slm 17:15 Eu, porém, na justiça contemplarei a tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança.
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Slm 22:31 Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem o fez.
Slm 24:5 Este obterá do SENHOR a bênção e a justiça do Deus da sua salvação.
(Por isso Jesus diz no Sermão do Monte que são bem-aventurados os que têm fome e sede desta justiça, porque ela é benção e não juízo, vida eterna, e não morte espiritual e eterna)
Slm 40:9 Proclamei as boas-novas de justiça na grande congregação; jamais cerrei os lábios, tu o sabes, SENHOR.
Slm 40:10 Não ocultei no coração a tua justiça; proclamei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi da grande congregação a tua graça e a tua verdade.
(Salmo profético, onde se declara a proclamação do evangelho por nosso Senhor Jesus Cristo, oferecendo a Sua justiça para a salvação daqueles que nEle cressem)
Slm 94:15 Mas o juízo se converterá em justiça, e segui-la-ão todos os de coração reto.
(Maravilhosa e profunda verdade. O juízo, a condenação de Deus, que pairava sobre nós, foi transformado em justiça, que é graça e perdão misericordioso, para com os nossos pecados,
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porque Jesus pagou o preço devido em Sua agonia e morte).
Slm 97:8 Sião ouve e se alegra, as filhas de Judá se regozijam, por causa da tua justiça, ó SENHOR.
(Veja que se a justiça do evangelho fosse juízo condenatório, não se falaria desta grande alegria por causa da justiça do Senhor que nos está sendo oferecida por Ele por amor e gratuitamente. O que se exige de nós, é somente arrependimento (mudança de mente) e fé.
Slm 98:2 O SENHOR fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os olhos das nações.
(A justiça de Deus que é vista pelas nações é o próprio Cristo, em sua obra de redenção em favor dos pecadores, para que sejam justificados e tornados justos)
Slm 118:19 Abri-me as portas da justiça; entrarei por elas e renderei graças ao SENHOR.
Slm 119:40 Eis que tenho suspirado pelos teus preceitos; vivifica-me por tua justiça.
Slm 119:123 Desfalecem-me os olhos à espera da tua salvação e da promessa da tua justiça.
Slm 132:9 Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis.
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Isa 1:27 Sião será redimida pelo direito, e os que se arrependem, pela justiça.
(Profecia que confirma tudo o que foi dito anteriormente sobre a justiça de Cristo, como sendo o manto que cobre os nossos pecados. Esta justiça é maravilhosa e eterna. Não pode ser perdida, conforme o primeiro homem criado perdeu a sua justiça, e juntamente com ele, todos nós, seus descendentes).
Isa 4:4 quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião e limpar Jerusalém da culpa do sangue do meio dela, com o Espírito de justiça e com o Espírito purificador.
Isa 61:11 Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o SENHOR Deus fará brotar a justiça e o louvor perante todas as nações.
(Está ou não está, o evangelho de Cristo prevalecendo em todo o mundo, há séculos?
É o cumprimento desta profecia e de todas as que se referem à justiça de Cristo, para a nossa salvação. Aleluia!)
Isa 62:1 Por amor de Sião, me não calarei e, por amor de Jerusalém, não me aquietarei, até que saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação, como uma tocha acesa.
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(Veja que a salvação é diretamente relacionada à justiça de Cristo, nesta profecia. Guarde bem isto: é salvação, e não juízo! O juízo é decorrente da rejeição da Justiça que nos é oferecida pelo evangelho para a nossa justificação.)
Mal 4:2 Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros soltos da estrebaria.
(Jesus é o Sol da justiça, que pelo qual vivem os que são iluminados pela sua luz, e tornados fervorosos em amar e servir a Deus, por causa do calor do Seu amor por nós).
Hab 2:4 Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.
(O justo é antes de tudo aquele que foi justificado pela fé, e o efeito desta justiça de Cristo que o justifica, é a vida eterna com Deus)
Isa 53:11 Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si.
(Profecia de Isaías proferida no contexto de todo o capítulo 53, referente ao ministério e obra de redenção do Messias em favor dos ímpios. O Justo com “J” maiúsculo é Jesus, que tem justiça abundante e suficiente para cobrir os pecados de todos aqueles que dEle se aproximam com
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um coração arrependido e com fé, de que é poderoso para lhes dar a vida espiritual, celestial e divina, pelo novo nascimento operado pelo Espírito Santo).
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A Luz da Lei e a do Evangelho A Lei de Deus é uma luz que ilumina e nos revela a condição tenebrosa do nosso coração pecaminoso, para que reconheçamos e confessemos nossos pecados a Deus. Todavia, a Lei não é a graça de Deus, a qual não somente nos revela a misericórdia e o perdão que estão disponíveis para nós, pecadores, como também é o poder que pode remover os nossos pecados. Assim, a luz do evangelho é de um tipo diferente da luz da Lei; porque a luz da Lei traz temor, tristeza e quebrantamento; e a do evangelho revivifica, conforta e refrigera o coração. Daí a promessa feita desde os dias do Velho Testamento, quanto ao efeito do evangelho de Cristo:
“Isa 61.1 O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados;
Isa 61:2 a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram
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Isa 61:3 e a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo SENHOR para a sua glória.”
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É Pela Graça mas Não é Fácil Conforme Possa Parecer
Do diálogo de nosso Senhor Jesus Cristo com Nicodemos pode ser extraído um grande alerta e ensinamento para os líderes do movimento de crescimento de igrejas.
Nicodemos havia procurado o Senhor, ainda que à noite por temor do julgamento que os judeus inimigos de Jesus poderiam fazer daquela sua visita.
Entretanto ele reconheceu e declarou que sabia que Deus era com o Senhor Jesus por causa dos sinais que Ele fazia, e também o chamou de Mestre, por ter entendido que a sua mensagem era de fato espiritual e celestial. Para Rick Warren e para a maioria de seus pupilos, isto teria sido o suficiente para dizerem com grande entusiasmo a Nicodemos: “seja bem-vindo à família de Deus”.
Todavia, não foi este o parecer de Jesus.
Ele disse diretamente a Nicodemos que ele não poderia entrar no Reino de Deus caso não nascesse de novo da água e do Espírito.
Disse-lhe ainda que não estava no poder do próprio Nicodemos a entrada no Reino, porque
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isto dependeria primeiro que Ele, Jesus, fosse levantado na cruz, para salvar os pecadores, e que isto havia sido feito em figura no Velho Testamento, quando Moisés levantou a serpente de bronze no deserto para que os israelitas não morressem das mordidas das serpentes abrasadoras que lhes haviam atacado.
Disse também que quem opera este novo nascimento é o Espírito Santo, que o faz conforme lhe apraz, assim como o vento sopra aonde quer, ou seja, a salvação não depende de quem corre ou de quem quer, mas de Deus usar de misericórdia para com aquele que ele irá salvar.
Assim, não basta que alguém levante a mão e diga que aceita a Jesus como Salvador, ou que faça uma rápida oração de entrega, porque se não houver o arrependimento que é produzido pela graça de Deus, quando o Espírito Santo nos convence de que somos pecadores, abrindo os nossos olhos espirituais para entender o significado da nossa condição de real miséria diante da justiça e santidade de Deus, é que corremos desesperadamente para os braços de Jesus para achar o perdão dos nossos pecados, a justificação, e a decorrente regeneração e santificação do Espírito Santo, para que sejamos de fato salvos.
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Impossível para a Lei mas Não para a Graça que Opera pela Fé
"Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.
É evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé." (Gál 3.10,11)
A fé verdadeiramente honra a Deus, porque é a firme confiança em tudo o que a boca de Deus tem proferido. E porque a fé honra a Deus, Deus imputa a fé para justiça de todo aquele que Nele crê, tal como testificam as Escrituras acerca de Abraão.
A Lei revela que a transgressão de qualquer mandamento de Deus torna o homem culpado de uma condenação eterna.
Quem, na condição de pecador por natureza poderia cumprir tal exigência moral de Deus?
A Sua justiça o exige, porque se demanda conformação perfeita à Sua santidade para que alguém possa ir para o céu, sem culpa alguma.
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Mas o pecado ofendeu a justiça de Deus. Foi por causa desta ofensa que o pecador perdeu o céu. E não temos aqui uma mera questão jurídica forense, mas a impossibilidade de se harmonizar o que é perfeito com o que é imperfeito.
Então o caminho de volta ao céu deve passar obrigatoriamente pela plena satisfação da justiça de Deus, para que possamos ser santificados até o ponto em que esta santificação será completada até a perfeição no céu.
O homem necessita então de justiça para ser salvo.
Mas o alto nível desta justiça não pode ser encontrado nele ou ser produzido por ele.
Daí ter o próprio Cristo se tornado a nossa justiça.
É pela Sua justiça imputada a nós que podemos nos aproximar do Deus que é inteiramente justo e santo, pela esperança daquela perfeição que haveremos de ter na glória celestial.
Consequentemente a Lei afirma que todo aquele que não cumpre os Seus mandamentos permanece debaixo de maldição, porque os mandamentos da Lei refletem o caráter da perfeita justiça de Deus.
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Há somente uma maneira de ser resgatado desta maldição, uma vez que a própria maldição não pode ser removida, em razão da exigência da justiça de Deus que amaldiçoa todos os transgressores da Sua vontade, a menos que eles tenham sido justificados em Cristo Jesus, pela justiça que lhes é imputada por Deus somente pela graça e mediante a fé.
Deste modo, Paulo explica que nós somente podemos ser justificados pela fé que se firma no Evangelho, na boa nova de grande alegria de que Deus se faz favorável para com os pecadores que se arrependam de seus pecados e que se unem pela fé a Cristo, para serem justificados e santificados.
Por isso aqueles que pensam que poderão ser justificados pelo mero esforço deles em praticarem as obras da lei, à parte da fé em Cristo, estarão permanentemente debaixo da maldição da Lei, porque a Lei não foi dada por Deus para o propósito de justificar, e não poderia ser dada para tal objetivo, porque o homem é pecador e já se encontra condenado, independentemente do que possa fazer de bom.
As santas exigências da Lei comprovam o quanto o homem está distanciado da perfeita justiça e santidade de Deus.
Então a Lei não poderá justificá-lo, porque para isto seria necessário que o homem fosse
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perfeito no cumprimento de tudo o que a Lei exige desde o seu nascimento, quer em palavras, em pensamentos e ações, e tanto nos deveres relativos a Deus quanto ao seu próximo.
Ninguém além de Jesus Cristo conseguiu cumprir perfeitamente toda a Lei, e somente ele poderia reivindicar a justificação da Lei caso necessitasse dela, mas isto nunca seria preciso no seu caso, porque Ele não tinha do que ser justificado, porque era sem pecado.
Quando alguém confia em seu coração, que seus pecados são perdoados por causa do sacrifício de Cristo, e por causa da Sua justiça, Deus cobrirá os seus muitos pecados com o sangue do Seu Filho, e lhe aceitará por causa desta sua confiança nos méritos de Cristo como suficiente para expiar a sua culpa e dar-lhe a salvação.
É como se Deus dissesse: “Eu perdoarei os seus pecados porque você crê que o meu Filho é poderoso para livrá-lo da condenação futura, porque Ele próprio se fez maldição no seu lugar na cruz para que você não estivesse mais debaixo da maldição da Lei.
Por causa desta sua confiança nEle, Eu lhe darei o Espírito Santo que prometi derramar como aceitação plena do sacrifício que o meu Filho fez por você na cruz, de maneira que o Espírito Santo possa transformar o Seu coração e operar
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em você um caráter verdadeiramente santo, assim como Eu sou santo.
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Uma Graça que Cresce
Foi bem na terra do solo do nosso coração
que Jesus plantou na nossa conversão
a semente da graça, a semente da vida eterna.
A nós cabe arar, regar e adubar
com orações e com a Palavra
para que seja fértil a nossa terra.
Porque a semente deve germinar,
crescer, florir e frutificar
conforme Deus espera.
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Todo Mérito é da Graça
Temos de fato um viver abençoado quando obedecemos a Deus, dedicando-nos à prática das boas obras.
Mas, é preciso não confundir que a graça, que se manifesta num viver obediente, nunca é decorrente dos nossos méritos pessoais, mas sempre dos méritos de Jesus.
De fato, se não há disposição para obedecer à verdade, já não há qualquer graça para operar.
Quem busca acha. Ao que bate se lhe abre a porta. Ao que pede se lhe é dado.
A nós cabe agradecer e dar não apenas o nosso esforço, mas a nossa própria vida para o serviço de Deus, para que Ele a use como for do Seu inteiro agrado.
A consagração pessoal é necessária para que o Espírito Santo possa realizar a sua obra em nossas vidas, afinal Ele mesmo é uma das preciosas e grandes promessas da Nova Aliança, para todo o que crê (Gál 3.24).
Não podemos esquecer que a própria lei prescrevia a fé, o amor, a justiça e a misericórdia.
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A lei não é contrária à graça e à fé. Mas, a lei de si mesma, nada pode fazer além de afirmar o amor, pois não pode gerá-lo; de afirmar a vida eterna com Deus, mas não pode também gerá-la; de apontar a necessidade da salvação para o pecador, mas, não pode produzi-la. Somente a graça pode operar tudo isto, pela fé, e tudo o mais que se relacione à vontade de Deus.
Apesar de ser santa, justa, boa e espiritual, a lei não pode, no entanto, nos salvar (Rom 7.12,14).
A graça não é contrária à lei e nem a descumpre, antes é o potencial necessário para o cumprimento da lei.
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos a lei.” (Rom 3.31)
“16 Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.” (Rom 4.16)
Ora, se o cumprimento da lei só é possível pela graça, quão improcedente é a quase aversão que muitos sentem só de ouvir falar a palavra graça.
O problema é que esta não é uma forma correta de se abordar a questão.
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A vida cristã não consiste nem em se defender a graça, nem em se defender os mandamentos, mas sim em viver a vida de Jesus pela graça, para que se possa cumprir seus mandamentos, os quais confirmam muito doa que existem na própria Lei.
“23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
24 Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios, como está escrito.
25 Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se tornado em incircuncisão.
26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão?
27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a circuncisão és transgressor da lei.
28 Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.
29 Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na
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letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. (Rom 2.23-29)
Este gloriar dos judeus na Lei, referido por Paulo, não significa de modo algum a rejeição do apóstolo da Lei, mas a confiança deles de serem salvos pela Lei à custa da rejeição da graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Os dez mandamentos revelados por Deus ao povo de Israel nos dias de Moisés, confirmam a sua proveniência divina, e nos falam da perfeição em santidade do Senhor, uma vez que não se resumem a ordenanças morais, tal como se vê na lei dos homens.
Antes de citar os deveres morais na segunda parte dos mandamentos, com o dever de se honrar os pais, e a proibição de mentir, furtar, matar, adulterar e cobiçar, Deus fixou antes, na primeira parte, a necessidade de se lhe prestar honra, reverência e culto, pois sem isto, não é possível que o homem cumpra perfeitamente as suas obrigações morais para com Deus e para com o seu próximo.
Daí ser ordenado antes de tudo que se adore tão somente a Deus; que o Seu nome seja santificado e honrado e que se separe obrigatoriamente um dia semanal para a dedicação exclusiva à adoração e ao serviço do Senhor.
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Temos assim, uma pista, já na perfeição da Lei dada a Moisés, quanto ao modo correto da santificação:
Primeiro amar a Deus, separar-se para Ele, cultuar-lhe em devoção sincera, e assim sendo feito bom o coração pela Sua graça divina, a vida moral reta será uma mera consequência de tal adoração em espírito e em verdade.
E é exatamente tal ordem que encontramos no Novo Testamento, quanto ao modo da santificação, e do serviço a Deus e ao próximo.
“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor.” (Gál 5.6)
“Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” (Gál 6.15)
Em outras palavras: nem o judeu, nem o gentio, nem o legalista, nem o adepto da graça, têm no que se gloriar, caso não sejam novas criaturas em Cristo, e não vivam no amor que é pela fé.
Quem amará com o mesmo amor de Deus, conforme a lei exige, caso não seja capacitado pela graça para tal?
Tudo o mais que a lei exige, a qual é espiritual e santa, dada e revelada pelo próprio Deus, por
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acaso, não só poderá ser cumprido se formos capacitados antes pela graça de Jesus?
Quem é suficiente para isto?
Por isso Paulo dizia que a sua suficiência vinha de Deus, e que tudo o que fazia segundo a Sua vontade era conforme capacitação da Sua graça, e que tudo podia, somente porque a graça de Jesus o fortalecia.
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O Recebimento é Gratuito Mas é Condicional
Deus está oferecendo gratuitamente a salvação em Jesus Cristo com tudo o mais que está nela incluído com suas grandes promessas de bênçãos eternas.
Todavia, existe a condição exigida do nosso arrependimento e fé.
Não um mero arrependimento de se lamentar a nossa condição de transgressores da vontade divina, conforme expressada em seus mandamentos, mas o arrependimento que significa a busca de uma vida transformada pelo poder do Espírito Santo, em um novo nascimento espiritual instantâneo (regeneração-conversão) e renovação progressiva do nosso caráter (santificação).
Quanto à fé, que é outra condição exigida para a recepção do dom gratuito de Deus em Jesus Cristo, não é mera crença ou assentimento intelectual em relação à Palavra de Deus, mas a total e exclusiva confiança em Cristo, como nosso Salvador e Senhor, e busca de uma efetiva comunhão diária com ele, através da oração e da prática dos seus mandamentos.
Portanto, a noção que é tão comum de que a graça de Deus significa a sua disposição em
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conduzir à vida celestial pessoas em qualquer estado, e sem nada lhes exigir como condição para tal propósito, não é bíblica, porque não é ensinada em nenhum dos 66 livros que compõem a Bíblia.
Onde não houver o desejo, a intenção, a determinação de se viver segundo a vontade de Deus, e de ser transformado pelo seu poder, não se achará também qualquer graça da sua parte operando para a salvação.
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Graça
Há um grande paradoxo no entendimento carnal relativo à graça divina, uma vez que se costuma considerar como sendo graça exatamente o oposto daquilo que a graça que nos foi dada em Cristo é na verdade; pois os dons naturais e comuns de Deus para toda a humanidade são buscados por pessoas religiosas como se fossem o grande propósito da vida cristã.
Geralmente visa-se tão somente ao que é externo, e não propriamente o que seja espiritual, celestial e divino, para ser aplicado à transformação do próprio caráter e vida, segundo o propósito de Deus na concessão da Sua graça que nos foi dada em Cristo.
Todavia, a Bíblia não nos deixa cegos quanto a este importantíssimo assunto, conquanto podemos observar na grande maioria das passagens bíblicas referentes à graça, qual é o propósito de Deus quanto à sua concessão.
Antes de tudo a graça não é dogma, mas o poder de Deus para o atingimento do objetivo da fé, a saber, a nossa salvação. E é no conhecimento da mesma graça que devemos crescer com vistas ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
O maior dom que temos recebido da graça de Deus é a vida do próprio Cristo e a habitação do
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Espírito Santo em nós. As demais graças são consequência desta referida e gravitam em torno da mesma.
Quando estamos na graça, esta produz um bom estado na alma que pode ser discernido em espírito tanto por nós, quanto por aqueles que estiverem na mesma condição.
A graça divina é o maior poder operante neste mundo, pois somente ela é mais forte do que o poder do pecado.
O nosso acesso a esta graça, na qual estamos firmes, e sem correr o risco de sermos rejeitados por Deus, custou um alto preço a nosso Senhor Jesus Cristo – o preço do seu sofrimento e derramamento do seu sangue numa terrível morte de cruz.
É impróprio, por conseguinte, o pensamento associado à palavra graça, de ser algo fácil ou barato.
A salvação é de fato gratuita, mas custou o preço de morte para Cristo, carregando os nossos pecados, e para nós, ela exige o pagamento do preço da nossa consagração a Deus, uma vez tendo sido convertidos mediante a simples fé no Senhor.
Fomos comprados por preço para vivermos para Deus.
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Com o advento de Jesus Cristo foi inaugurada uma nova dispensação para substituir a antiga que vigorou desde os dias de Moisés. Daí ser chamada de dispensação da graça, enquanto a antiga era chamada de dispensação da Lei.
Deus está sendo longânimo nesta dispensação em relação a todos os pecadores, concedendo-lhes assim a oportunidade de se arrependerem e crerem em Cristo, de modo a serem livrados da condenação eterna. Esta é uma das características essenciais da citada dispensação.
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Justa Cooperação da Graça com a Vontade Consciente
Uma das grandes provas indiretas de que há uma justa cooperação da graça divina com a vontade consciente humana está em que crentes consagrados e santificados podem ter imaginações, sonhos e comportamentos pecaminosos quando sob o efeito de algum bloqueador (drogas alucinógenas etc) dos mecanismos psicológicos de restrição e contenção dos pensamentos e comportamentos impróprios que atuam pelo temor de punição, de reprovação social, de perdas consequentes (especialmente das bênçãos de Deus), e de tudo o mais que possa se opor à consciência do que é considerado correto e aceitável.
Esta é a razão de se ordenar aos crentes que sempre sejam cheios do Espírito Santo, ou seja, que estejam sempre debaixo da Sua influência e poder de modo a que tenham graça suficiente para cumprirem o que se lhes ordena na Palavra de Deus em vidas santificadas.
A falta de tal provisão de graça em justa cooperação com o exercício de nossa vontade consciente em obtê-la pelos meios ordenados na Palavra (oração, meditação, comunhão, perdão etc) é o motivo de que até mesmo crentes confirmados possam ter sonhos e pesadelos em que se encontram em
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imaginações pecaminosas, uma vez que durante o sono não há um controle consciente sobre a mente, e esta divaga e age livremente sem o controle do sistema nervoso simpático, ficando totalmente à mercê do parassimpático – ou inconsciente.
De tudo isto se depreende a nossa total dependência da graça de Deus para vivermos de modo que lhe seja agradável, e também, que vigiemos e nos esforcemos em plena diligência para moldarmos a nossa consciência em conformidade com os padrões morais e espirituais de Sua bendita Palavra.
Em suma, teremos tanto mais graças da parte de Deus quanto mais nos empenhemos em cultivá-las pelo exercício consciente constante da oração, da meditação na Palavra, do serviço cristão, da comunhão com nossos irmãos na fé e de tudo o mais que nos é ordenado por Deus para um viver abençoado.
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A Dispensação do Espírito Santo
Esta nova dispensação do Espírito (da graça) é imutável.
Ele tem sido designado como um Consolador eterno que estará para sempre com os cristãos.
O próprio Senhor Jesus declarou isto expressamente na primeira promessa que Ele fez de enviar o Consolador:
"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre;" (João 14.16).
É nesta promessa que consiste a permanência do Espírito para sempre com a Igreja.
Jesus fez esta promessa para afiançar a fé e a consolação da Igreja em todas as épocas, nas oposições que os cristãos terão que enfrentar na sua luta contra a carne, Satanás e o mundo.
Como Jesus havia sido o Consolador visível dos discípulos durante o tempo do Seu ministério terreno, e estaria partindo agora para o céu para a restauração de todas as coisas, eles poderiam temer que este outro Consolador que foi prometido poderia também permanecer somente um período com eles, de maneira que ficariam sujeitos a uma nova perda e tristeza.
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Então nosso Senhor Jesus Cristo lhes garantiu que este outro Consolador continuaria para sempre com eles até o fim das suas vidas, trabalho e ministério, como também estaria atuando com a igreja até a consumação dos séculos.
Isto porque Ele estava sendo prometido agora numa aliança eterna e inalterável. E Ele não deixará jamais a Igreja de modo que a aliança eterna de Deus não possa ser abolida.
"Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor: o meu Espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre." (Isa 59.21).
Entretanto, a par desta grande verdade, sempre há um número considerável de cristãos que vivem a maior parte das suas vidas em dificuldades e desconsolação, não tendo qualquer experiência da presença do Espírito Santo como um Consolador.
Mas esta objeção não tem força para enfraquecer a nossa fé quanto à realização desta promessa por maiores que sejam as desconsolações que possam suceder à Igreja de todas as épocas, porque nada pode anular a promessa do derramamento do Consolador.
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O cumprimento da promessa de Cristo não depende da nossa experiência, porque a consolação do Espírito não é para incrédulos.
A menos que nós entendamos a natureza das consolações espirituais corretamente, e as avaliemos de modo satisfatório, nós não poderemos desfrutá-las, ou então não estaremos delas conscientes, ainda que estejam operando em nosso favor.
Muitos quando se encontram debaixo das suas dificuldades supõem que não haja qualquer conforto a não ser o que seja decorrente da remoção destas dificuldades.
Eles não conhecem o conforto e alivio das tristezas sem que seja removida a sua causa.
Tais pessoas nunca podem receber a consolação do Espírito Santo ou qualquer experiência espiritual de refrigério.
É sendo fervorosos na oração pela presença do Espírito conosco, e buscando todos os nossos confortos dEle, considerando estas consolações acima de quaisquer prazeres terrenos, aguardando pela manifestação da Sua graça, que se recebe a consolação do Espírito.
Todo cristão pode se exercitar nisto, em busca da consolação do Espírito porque Ele foi prometido por Cristo para também operar este
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ofício em favor dos cristãos, e somente deles, porque Jesus também afirmou quando fez a promessa do Consolador que o mundo não poderia tê-lo como um Consolador, senão somente aqueles que O amam e guardam a Sua Palavra (João 14.16,17, 26; 15.26; 17.7,8).
O mundo pode ser o alvo de outras operações do Espírito para a convicção de pecados e conversão, e é disto que decorrerá posteriormente as consolações do Espírito.
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A Graça Opera Pela Obediência
Por natureza não temos nenhum poder em nós mesmos para viver a vida do céu, fazendo o que é espiritualmente bom, ou qualquer outro dever relativo à santidade evangélica.
É em Cristo que somos tornados fortes, mas esta força não é propriamente nossa, mas dEle.
Nós recebemos esta força divina na nossa conversão, a qual é a essência da santidade que há na nova natureza, recebida do céu e do Espírito Santo.
Mas esta força não pode se manifestar se o velho homem (nossa natureza terrena pecaminosa) estiver fortalecido, por deixarmos que opere livremente em nós a força do pecado.
Jesus obteve uma perfeita liberdade do pecado para os que n’Ele creem.
Contudo, se não forem constantes em todos os deveres de obediência, nenhum deles será fácil de ser cumprido porque a graça requer diligência para que possamos ser fortalecidos por Deus.
É pela repetição sistemática em obediências sucessivas que seremos conduzidos à formação
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deste hábito que é essencial à santificação da vida.
Porque onde não houver a busca de obediência voluntária e por amor, à vontade de Deus, expressada na Sua Palavra revelada na Bíblia, não haverá também qualquer graça operando, tanto para nos conduzir e capacitar à obediência requerida, quanto para transformar as nossas vidas, e nos dar um viver abençoado e vitorioso.
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A Graça Supera a Aflição
“Agora, por um pouco de tempo, sendo necessário, sois afligidos através de várias tentações”. (1Pedro 1.6)
Especialmente para os cristãos sinceros, este um tempo de aflições como nenhum outro, porque nunca se viu, em toda a história da humanidade, iniquidades tão multiplicadas como as presentes, tanto em intensidade quanto em variedade de formas.
Todavia, os cristão de agora não são menos assistidos pela graça de Jesus, do que os dos dias do apóstolo Pedro, aos quais, mesmo sendo afligidos por várias provações, receberam do apóstolo o seguinte testemunho:
“Vós que sois guardados pelo poder de Deus através da fé para a salvação”. (I Pe 1.5)
“a prova de sua fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece”. (I Pe 1.7)
Assim, ao mesmo tempo, que estavam “em aflição”, estavam de posse de uma fé viva.
A aflição não lhes destruiu a fé, e nem a paz.
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Eles se “regozijavam na esperança da glória de Deus”, porque estavam cheios de alegria no Espírito Santo.
No meio de sua aflição, ainda igualmente desfrutavam do ardor do amor de Deus, que fora derramado em seus corações.
Embora fossem afligidos, ainda eram santos; conservavam o mesmo poder sobre o pecado.
Eram ainda “guardados” do pecado “pelo poder de Deus”; eram “filhos obedientes, não conformados com seus primitivos desejos”, mas, “como Aquele que os chamou é santo”, assim eles eram “santos em todo o seu procedimento”.
Assim é que, em conjunto, sua aflição é bem consistente com a fé, com a esperança, com o amor de Deus e do homem, com a paz de Deus, com a alegria no Espírito Santo, com a santidade interior e exterior.
A aflição de modo nenhum enfraquece e muito menos destrói qualquer parte da obra de Deus no coração.
Ela de modo nenhum entra em conflito com a “santificação do Espírito”, que é a raiz de toda a verdadeira obediência, nem com a felicidade, que deve necessariamente resultar da graça e da paz que reinam no coração.
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Então, ainda que sejam multiplicadas as iniquidades e aflições, a graça é muito mais multiplicada por Deus no coração do cristão, para superá-las no amor de Jesus.
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Cobre como as Águas do Dilúvio
Lemos em Judas 24: “Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória,”.
Deus é poderoso para guardar o cristão de tropeços e conduzi-lo em segurança à Sua glória eterna.
É isto que o texto de Judas afirma.
O fato de a graça ter superabundado onde abundou o pecado é a verdade por meio da qual somos salvos.
Porque mesmo depois de convertidos, ainda estamos sujeitos ao pecado, e se não houvesse uma graça superabundante para cobrir os nossos pecados, nenhum de nós poderia ser salvo.
Isto é como as águas do dilúvio nos dias de Noé que cobriram todos os montes.
A graça cobre nossas montanhas de pecados, que pode não ser aos nossos olhos, mas aos olhos de Deus são verdadeiras montanhas, porque Ele considera pecado o que fazemos e o que deixamos de fazer, seja grande ou pequeno, e mais do que isso leva em conta a intenção do
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nosso coração, nossos pensamentos, imaginação etc.
O cristão, por mais consagrado que seja, aos olhos de Deus está cheio de pecados.
Mas, de onde lhe vem a santidade em que vive, a paz que sente no seu coração, a alegria em sua alma, senão da graça de Jesus, que o purifica de tudo o que desagrada a Deus.
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A Graça não Condena
Deus não está condenando a qualquer pessoa na presente dispensação da graça, conforme afirmação de Jesus de que não veio condenar, mas salvar.
A natureza de Deus é longânima, perdoadora, misericordiosa, amorosa, e por isso uma das características do amor destacada em I Cor 13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou seja, ele não se exaspera.
Deus se ira contra o pecado, mas não tem qualquer prazer na morte dos ímpios, ou seja, de todos aqueles que não Lhe amam e aos Seus mandamentos.
A ira pode ser definida como uma oposição séria e violenta de espírito contra qualquer mal, real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou ofensa, porque isto está contra a natureza do amor.
Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem e a orar para o bem de todos, até mesmo de nossos inimigos, e até daqueles que zombam de nós e nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom 12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e
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orar para o bem de todos, e em nenhum caso desejar o mal.
Porque como imitadores de Deus, na busca da sua imagem e semelhança, é justamente o que devemos fazer, porque isto é parte da essência divina.
Dizemos que é um dever porque o evangelho veio trazer a restauração em nós, da imagem e semelhança, não com Adão, antes da queda no pecado, mas a do próprio Cristo, conforme se afirma amplamente na Bíblia.
O que temos em Cristo, quanto ao trato com as imperfeições que há na humanidade? Graça, amor, bondade, misericórdia, perdão, reconciliação, e justiça (a sua justiça que nos justifica).
Os próprios juízos divinos na presente dispensação, têm em vista contribuir para a continuidade da referida restauração, e são corretivos e decorrentes da rejeição obstinada da graça que nos está sendo oferecida.
As obras más ou boas de todas as pessoas serão somente passadas em revista no grande dia do Juízo Final.
Por isso toda vingança é proibida por Deus, já que Ele afirma que toda a vingança lhe pertence.
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A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom 12.19), de forma que toda a ira que contém um desejo de vingança, é contrária ao cristianismo e proibida por Deus.
Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”.
Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo irada com uma outra, logo esta ira se transformará em ódio.
Assim, nós achamos que na verdade acontece com aqueles que retêm um rancor nos seus corações contra outros, durante semana depois de semana, e mês depois de mês, e ano depois de ano.
Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as pessoas contra as quais se deixaram irar assim deste modo.
Este é um pecado mais terrível à vista de Deus.
Então, não é de se admirar que esta seja a principal estratégia do diabo para nos afastar de Deus, e para nos manter sob julgamentos em
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nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de sermos oprimidos por ele.
Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco para ter um coração manso, sofredor, paciente, perdoador.
Mais do que isto, necessitamos do derramar abundante do amor de Deus nos nossos corações que é operado sobrenaturalmente pelo Espírito Santo.
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O Modo de Concessão da Graça
Nenhum crente pode de si mesmo exercer o princípio, ou poder, de uma vida espiritual, em qualquer instância, interna ou externa, em relação a Deus ou aos homens, de modo que isto deve ser um ato de santidade procedente do Espírito Santo.
O crente não pode fazê-lo de si mesmo, em virtude de qualquer poder habitualmente inerente a ele. Não é comunicada a nós neste mundo qualquer capacidade espiritual que seja independente da ação direta do Espírito Santo; porque é ele o gerador de todos os atos santos de nossas mentes, vontades e afetos, na execução dos deveres espirituais.
Acrescente-se que necessitamos de graças renovadas pelo Espírito, todos os dias, ou seja, não recebemos uma provisão de poder para ser estocada. A graça é concedida pelo Espírito à medida que se faz necessária e no tempo apropriado da sua necessidade.
É aplicado em nossa vida espiritual, quanto à concessão da graça, o mesmo princípio que regula a providência divina em nossas necessidades naturais.
Como ramos da Videira Verdadeira necessitamos receber a seiva (graça)
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vivificadora diretamente da raiz, que é Cristo. Assim, recebemos a graça, e não somos nós, de maneira alguma, quem a produz e distribui.
Daí dizer o apóstolo:
“E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus,” (2 Cor 3.4,5).
De si mesmo, o crente nada pode realizar porque toda santidade ou qualquer coisa espiritualmente boa é sempre efeito da graça e é operado em nós pelo Espírito Santo que é o autor de todas as operações divinas.
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A Aliança da Graça – 2 Samuel 7
Nós vemos no capítulo sétimo de 2 Samuel, que depois de longas e sucessivas guerras com as nações inimigas de Israel, e estando subjugados os povos inimigos dos israelitas, principalmente os filisteus, Davi estava enfim desfrutando em sua vida de um período da paz que ele tanto amava (Sl 120.7).
Em sua meditação sobre a pessoa de Deus ele se sentiu constrangido por estar residindo no palácio suntuoso que Hirão, rei de Tiro, construiu para ele, enquanto a arca ainda permanecia na tenda que ele havia preparado para ela em Jerusalém.
Davi estava descansado de seus inimigos em sua casa, mas não achou descanso em sua alma porque lhe pesava esta preocupação em edificar um templo para o Senhor, e ele compartilha o peso de sua preocupação com o profeta Natã, e este lhe encorajou a fazer tudo quanto estava no seu coração, porque o Senhor era com ele (v. 2,3).
Porém na noite daquele mesmo dia, Deus se manifestou a Natã dizendo-lhe que Davi não lhe edificaria nenhum templo (I Crôn 17.4), apesar de reconhecer que havia feito bem em ter-se preocupado em honrar o seu Deus, ao pensar em construir um templo para Ele (I Rs 8.18).
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Natã havia portanto, incentivado Davi a construir o templo, lhe falando como um amigo, mas não da parte de Deus.
Estava enganado neste particular quanto à vontade do Senhor para Davi, que teve que ser-lhe revelada por Deus, pois Davi havia sido separado para estender e consolidar as fronteiras de Israel, mas não para gastar a maior parte do tempo do seu reinado na construção de um templo, que já estava assentado nos desígnios de Deus como sendo algo para ser levado a efeito por seu filho Salomão, e é por isso que ele foi citado na mesma palavra que o Senhor havia dado a Nata, para ser dita a Davi.
Além disso, Deus não havia dado nenhuma autorização ou fizera qualquer pedido, desde a saída de Israel do Egito, até então, para que fosse construído um templo, e não cabia a Davi ou a qualquer outro, tomar uma iniciativa em relação a algo que o Senhor não havia ordenado.
Se Davi não estava confortado em saber que a arca permanecia habitando em tendas, Deus não estava nem um pouco desconfortável, porque qual é a habitação, por mais suntuosa que seja, que os homens possam edificar para o Senhor, que possa ser digna e estar à altura da Sua Majestade?
Se o próprio céu é obra das mãos dEle, tudo o que o homem possa edificar neste mundo com
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ouro, prata, pedras e madeiras preciosas e nobres, será mais do que nada para Aquele que não habita em moradas fabricadas por homens, pois nem o céu dos céus pode contê-lo (II Crôn 2.6).
Mas Deus mandou dizer a Davi que o templo que ele intentava erigir seria edificado pelo seu filho (v. 13), e esta profecia se aplica tanto a Salomão, quanto a Cristo, que é o descendente de Davi que está edificando a Igreja, para ser templo para a habitação de Deus no Espírito.
Deus não pode habitar naquilo que o homem edifica, mas criou o próprio homem para ser lugar da Sua habitação.
É dito que aquele que edificaria o templo seria filho de Deus (isto se aplica a Salomão e a Jesus), e a parte da profecia que afirma que se ele viesse a transgredir, seria castigado por Ele, mas não retiraria dele a Sua misericórdia como fizera com Saul (v. 14,15) se aplica óbvia e exclusivamente a Salomão.
Isto fala da segurança da promessa feita de que o trono de Davi seria firmado, ainda que Salomão, seu filho, viesse a falhar, bem como os seus descendentes, porque o cetro permaneceria na casa de Davi, e seria firmado para sempre em Cristo, que é da sua casa.
A casa de Saul foi rejeitada por Deus e não foi confirmada.
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Mas a Davi, o Senhor estava prometendo que a sua casa permaneceria no trono para sempre (v. 16).
Aqui está pois referido o caráter da aliança da graça, que é feita para aqueles que participarão do reino de Cristo pela fé nEle.
Esta promessa de que serão firmados no reino, ainda que venham a transgredir, é garantida pelo próprio Deus conforme revelou a Davi através do profeta Natã.
Esta é uma aliança para sempre que o Senhor jamais revogará, porque prometeu não remover a Sua misericórdia daqueles que fazem parte da casa de Davi.
Não da casa terrena, pois esta promessa não alcançou Absalão e a outros que eram da sua casa, mas a casa espiritual, daqueles que tivessem a mesma fé dele e que fossem eleitos por Deus para a salvação.
Isto não é maravilhoso?
Temos isto confirmado nas palavras dos profetas, dos apóstolos, e do próprio Cristo, como por exemplo em Is 55.3; Jer 33.21,22; Ez 34.23,24; Zac 12.7,8; At 13.34; 15.16; Apo 3.7.
Com a ida de Israel para o cativeiro, o tabernáculo (a casa) de Davi ficou caída (Amós 9.11), porque foi interrompida a sucessão de reis
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em Judá, da sua descendência, mas quando Cristo estiver reinando, o tabernáculo de Davi estará plenamente restaurado, e a promessa que Deus lhe fez estará vigorando para sempre em toda a sua plenitude.
Diante da grandiosidade da promessa que Deus lhe fizera quanto à casa que edificaria para ele, Davi se retirou da presença de Natã e foi adorar e agradecer ao Senhor diante da tenda onde se encontrava a arca (v. 18 a 29).
É importante destacar que Deus disse que edificaria tal casa a Davi para o bem de seu povo Israel (v. 8 a 11), e é com o mesmo propósito que Cristo foi exaltado com um nome que é sobre todo o nome, a saber, para dar descanso para o Seu povo.
“1 Ora, estando o rei Davi em sua casa e tendo-lhe dado o Senhor descanso de todos os seus inimigos em redor,
2 disse ele ao profeta Natã: Eis que eu moro numa casa de cedro, enquanto que a arca de Deus dentro de uma tenda.
3 Respondeu Natã ao rei: Vai e faze tudo quanto está no teu coração, porque o Senhor é contigo.
4 Mas naquela mesma noite a palavra do Senhor veio a Natã, dizendo:
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5 Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela habitar?
6 Porque em casa nenhuma habitei, desde o dia em que fiz subir do Egito os filhos de Israel até o dia de hoje, mas tenho andado em tenda e em tabernáculo.
7 E em todo lugar em que tenho andado com todos os filhos de Israel, falei porventura, alguma palavra a qualquer das suas tribos a que mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: por que não me edificais uma casa de cedro?
8 Agora, pois, assim dirás ao meu servo Davi: Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu povo, sobre Israel;
9 e fui contigo, por onde quer que foste, e destruí a todos os teus inimigos diante de ti; e te farei um grande nome, como o nome dos grandes que há na terra.
10 Também designarei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei ali, para que ele habite no seu lugar, e não mais seja perturbado, e nunca mais os filhos da iniquidade o aflijam, como dantes,
11 e como desde o dia em que ordenei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel. A ti,
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porém, darei descanso de todos os teus inimigos. Também o Senhor te declara que ele te fará casa.
12 Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino.
13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14 Eu lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens;
15 mas não retirarei dele a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.
16 A tua casa, porém, e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre.
17 Conforme todas estas palavras, e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi.
18 Então entrou o rei Davi, e sentou-se perante o Senhor, e disse: Quem sou eu, Senhor Jeová, e que é a minha casa, para me teres trazido até aqui?
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19 E isso ainda foi pouco aos teus olhos, Senhor Jeová, senão que também falaste da casa do teu servo para tempos distantes; e me tens mostrado gerações futuras, ó Senhor Jeová?
20 Que mais te poderá dizer Davi. pois tu conheces bem o teu servo, ó Senhor Jeová.
21 Por causa da tua palavra, e segundo o teu coração, fizeste toda esta grandeza, revelando-a ao teu servo.
22 Portanto és grandioso, ó Senhor Jeová, porque ninguém há semelhante a ti, e não há Deus senão tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos.
23 Que outra nação na terra é semelhante a teu povo Israel, a quem tu, ó Deus, foste resgatar para te ser povo, para te fazeres um nome, e para fazeres a seu favor estas grandes e terríveis coisas para a tua terra, diante do teu povo, que tu resgataste para ti do Egito, desterrando nações e seus deuses?
24 Assim estabeleceste o teu povo Israel por teu povo para sempre, e tu, Senhor, te fizeste o seu Deus.
25 Agora, pois, ó Senhor Jeová, confirma para sempre a palavra que falaste acerca do teu servo e acerca da sua casa, e faze como tens falado,
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26 para que seja engrandecido o teu nome para sempre, e se diga: O Senhor dos exércitos é Deus sobre Israel; e a casa do teu servo será estabelecida diante de ti.
27 Pois tu, Senhor dos exércitos, Deus de Israel, fizeste uma revelação ao teu servo, dizendo: Edificar-te-ei uma casa. Por isso o teu servo se animou a fazer-te esta oração.
28 Agora, pois, Senhor Jeová, tu és Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens prometido a teu servo este bem.
29 Sê, pois, agora servido de abençoar a casa do teu servo, para que subsista para sempre diante de ti; pois tu, ó Senhor Jeová, o disseste; e com a tua bênção a casa do teu servo será, abençoada para sempre.” (II Sm 7.1-29).
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Características do Evangelho Verdadeiro
Evangelho, semanticamente, reportando ao significado da palavra no original grego do Novo Testamento significa literalmente "anúncio de boas notícias". São boas em sua natureza e efeito para a humanidade.
Somente na Bíblia podemos achar os critérios de determinação do evangelho verdadeiro.
São tantas características a serem consideradas, que é muito comum, focar apenas numa ou em poucas, ou até mesmo distorcidas, e assim, não se chega a uma compreensão correta do verdadeiro significado do evangelho, em sua essência real e nos seus efeitos positivos para aqueles que o abraçam.
A principal característica que deve ser destacada é a do caráter de completa libertação e salvação que está sendo oferecida gratuitamente por Deus a todo aqueles que creem em Cristo, porque o próprio Jesus é a única Justiça que nos justifica e nos torna perdoados e aceitáveis a Deus, de forma que possamos ser reconciliados com Ele.
Uma segunda característica importante é que esta justificação que conduz à vida eterna, é operada instantaneamente, num dado
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momento da vida, e tem validade para sempre, por toda a eternidade.
Daqui em diante citaremos outras características sem enumerá-las.
Destaca-se também no evangelho, que é de fato boa notícia, a melhor das notícias, porque não traz em si qualquer juízo condenatório, porque esta justiça que é oferecida pela graça, e obtida mediante a fé, não é para condenar, mas para libertar da escravidão ao pecado.
Isto, por sua vez, nos conduz a um outro ponto importante, que é o de que todo aquele que é justificado pelo evangelho, é também instantaneamente transformado, ao que o Novo Testamento chama de novo nascimento do Espírito Santo, ou regeneração.
Há de fato uma mudança radical nos objetivos de vida de todo aquele que se converte, porque passa a habitar nele um novo princípio vivo operante de santificação, motivado pela presença do Espírito Santo, em comunhão com o espírito do convertido que se achava morto (separado de Deus, não participante da Sua vida divina, sem o conhecimento pessoal de Cristo, sem comunhão com o divino).
Este novo princípio de santidade implantado na natureza terrena do que crê, passa a exercer domínio e repulsa ao princípio vivo do pecado que ainda opera na carne.
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Daí sucede uma luta entre a natureza terrena carnal, e a nova natureza espiritual recebida do Espírito Santo.
O alvo deste combate é o de crucificar o ego carnal e fazer prevalecer a mente de Cristo no cristão.
Então, há uma ação real, espiritual, celestial e divina operando em nosso caminhar neste mundo quando abraçamos o verdadeiro evangelho de Cristo, porque somente Ele é o poder de Deus para a salvação de todos os que nele creem.
Sem esta realidade espiritual operando no viver não podemos dizer que somos autênticos cristãos (discípulos de Jesus, filhos e servos do Deus vivo), porque tudo o que se ensina na Bíblia a tal respeito cumpre-se somente nos que tiveram um verdadeiro encontro pessoal com Cristo.
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Como Saber Qual é o Evangelho Verdadeiro?
Se alguém digitar no buscador do Google ou de qualquer outro site de busca da Internet, simplesmente a palavra “evangelho”, irá deparar com várias propostas de evangelhos que diferem entre si.
Quando se digita a expressão “evangelho verdadeiro”, o filtro apresenta uma seleção mais apropriada de material relativa ao evangelho genuinamente verdadeiro. E isto aumenta e muito, quanto se digita a expressão “Retorno ao Evangelho Verdadeiro”.
Alguém indagaria:
“Mas há este risco de se comprar gato por lebre?”
“De se entrar por uma porta onde esteja escrito evangelho, e abraçar uma ilusão?”
É evidente que sim. Como em qualquer outro aspecto da vida, onde sempre haverá o falso e o verdadeiro.
Todavia, no caso do evangelho, é muito fácil se identificar qual seja o verdadeiro, e nisto somos ajudados pela própria semântica da palavra “evangelho”, que no original grego do Novo
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Testamento, significa “anúncio de boas novas, de boas notícias, de coisas boas”.
Ora, se aquilo que chamam de evangelho não é de fato a melhor das notícias para a humanidade, em relação à condição caída no pecado em que se encontra, tendo um espírito morto, sujeito à condenação eterna, então não temos diante de nós nenhum verdadeiro evangelho, porque segundo a promessa que nos foi feita por Deus, da justificação, da salvação e da vida eterna, e que se cumpre em Cristo, tem que possuir tal característica de ser uma boa nova de grande alegria, de um grande livramento, de uma grande salvação.
O evangelho não traz em si qualquer juízo ou condenação.
É a sua rejeição que produz tal efeito, porque na verdade toda pessoa já se encontra sob juízo de condenação, se não tem a Cristo, conforme Ele próprio ensinou em João 3.18:
“Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.”
Façamos então umas poucas reflexões:
 seria evangelho me dizerem que eu necessito retornar a este mundo depois de morto, para me purificar dos meus
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erros? E isto em sucessivas vezes sem conta?
 seria uma boa notícia, dizer que devo ir para um lugar intermediário entre a terra e o terceiro céu, para purgar os meus pecados, antes que possa ser admitido na presença de Deus?
 seria uma boa nova, anunciar que devo me esforçar ao máximo fazendo boas obras, para que de algum modo, possa ser considerado digno de ser salvo por Deus e ir para o céu depois da minha morte?
Por aí afora, multiplicam-se as indagações, que sempre me conduzirão à conclusão de que de fato não se trata de nenhum evangelho, ou seja, de nenhuma grande e boa notícia para mim.
Mas, se alguém me diz, como fez nosso Senhor Jesus Cristo, seus apóstolos, os chamados pais da Igreja que se seguiram aos apóstolos, ou alguém que segue ainda hoje nas mesmas pegadas, que eu simplesmente devo crer em Cristo, e aceitar pela graça o dom imerecido da salvação olhando para Ele e confiando simplesmente nEle, arrependido de meus pecados, e que isto, por si só, é o suficiente para me garantir o acesso ao céu, aí então tenho diante de mim realmente uma grande e boa notícia, na qual vale a pena, e muito mesmo, dar-lhe o devido crédito.
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Em face dos muitos falsos evangelhos que havia em seus próprios dias, logo no início da Igreja, disse o apóstolo Paulo aos gálatas:
“Gál 1:6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho,
Gál 1:7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
Gál 1:8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema (amaldiçoado).
Gál 1:9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.”
E também em Tito 3.4-7:
Tito 3:4 Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos,
Tito 3:5 não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo,
Tito 3:6 que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador,
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Tito 3:7 a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.
E ainda em Efésios 2.8,9:
Efs 2:8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;
Efs 2:9 não de obras, para que ninguém se glorie.
Se havia falso evangelho naquele tempo, imagina então a possibilidade de haver muito mais em nossos dias.
Não é para pouco propósito que nosso Senhor e os apóstolos nos alertam na Bíblia a termos muito cuidado com os falsos profetas, pastores e mestres que se multiplicariam próximo do tempo do fim. Porque isto tem a ver com o destino eterno de nossas almas. Pela fé no evangelho verdadeiro – céu. Por dar crédito a qualquer outro evangelho – inferno.
Realmente, não dá para brincar ou vacilar com tais coisas.
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O Evangelho Não Condena
O que condena é a sua rejeição.
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus...” (Rom 3.21a)
“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé. Ora, a lei não procede de fé,...” (Gal 3.11,12a)
Quando João Batista disse que a Lei veio por Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”, o que ele estava dizendo, em outras palavras, era que no período da dispensação da Lei, que vigorou de Moisés ao próprio João Batista, não houve nenhum evangelho em ação, apesar de ter sido anunciado pelos profetas do Antigo Testamento.
No período do Velho Testamento, correspondente à aliança da lei, imperava a condenação e a morte pelos juízos de Deus, inclusive contra o próprio povo da aliança, a saber, Israel.
Daí Paulo ter chamado aquela antiga aliança de ministério da morte e da condenação.
Porque não havia evangelho naquele período.
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Mas quando Jesus se manifestou e quando morreu no lugar dos pecadores na cruz, entrou em vigor uma nova aliança, agora não apenas com Israel, mas com pessoas de todas as nações da terra.
A graça e a verdade começaram a ser abundantemente reveladas e manifestadas nas vidas dos que creem no evangelho, a saber, que já não há morte e condenação para os que creem em Jesus Cristo.
Assim, no evangelho propriamente dito, não há qualquer condenação, morte ou juízo, senão libertação, vida, salvação, que são o fruto da verdade e da graça que operam e habitam naqueles que nele creem. Graça, justiça e verdade que nos foram trazidas com a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo.
O ministério da Lei condenava, porque fora instituído por Deus para este propósito.
Todavia, o do evangelho liberta e salva, porque manifesta a honra, a glória, a majestade, o poder, a graça e todos os méritos que pertencem à pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.
Daí dizer o apóstolo que já não há nenhuma condenação para quem está em Cristo Jesus.
Não confundamos portanto, toda a Bíblia, como se fosse o evangelho.
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Porque em suas páginas há também registros de revelações e situações exclusivamente relativos à antiga dispensação da Lei.
O evangelho é encontrado, principalmente, nas páginas do Novo Testamento, porque foram produzidas e inspiradas por Deus, no período que marcou o encerramento da aliança do Velho Testamento, inaugurado com o advento de Jesus Cristo.
Daí, Lei x Graça, ser uma boa indicação destes dois períodos distintos, das duas grandes alianças instituídas por Deus, sendo que a antiga foi removida, por ter sido substituída pela nova que é feita no sangue de Cristo.
Não devemos no entanto confundir juízo com condenação.
Deus julga os seus próprios filhos, mas não como um juiz togado, senão como um pai amoroso que não os poupará da repreensão e disciplina sempre que for necessário.
Ele açoita a todo filho a quem quer bem. Todavia, a nenhum deles condenará a uma sentença de morte e danação eternas.
Nosso Senhor Jesus Cristo dirige as seguintes palavras à Igreja de Laodiceia:
“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.” (Apo 3.19)
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Por Que Jesus Não Veio Condenar?
O principal motivo de não existir tantos juízos de Deus sendo despejados sobre a impiedade das pessoas e das nações, como estes existiam no período do Antigo Testamento, é que foi inaugurada uma nova dispensação, a da graça, desde que Jesus se ofereceu em sacrifício na cruz.
Não há qualquer condenação no evangelho, antes salvação, livramento, vida eterna, porque é esta missão de Cristo, continuada na Sua Igreja, nestes vinte séculos de vigor da Nova Aliança feita no Seu sangue com todas as pessoas que têm fé no Seu nome.
O próprio Cristo afirmou que não veio condenar o mundo, mas salvar.
Foi com base nesta verdade que o apóstolo Paulo afirmou o seguinte, dentre outras muitas passagens equivalentes:
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus...” (Rom 3.21a)
“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé. Ora, a lei não procede de fé,...” (Gal 3.11,12a)
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Quando João Batista disse que a Lei veio por Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”, o que ele estava dizendo, em outras palavras, era que no período da dispensação da Lei, que vigorou de Moisés ao próprio João Batista, não houve nenhum evangelho em ação, apesar de ter sido anunciado pelos profetas do Antigo Testamento.
No período do Velho Testamento, correspondente à aliança da lei, imperava a condenação e a morte pelos juízos de Deus, inclusive contra o próprio povo da aliança, a saber, Israel.
Daí Paulo ter chamado aquela antiga aliança de ministério da morte e da condenação.
Porque não havia evangelho naquele período.
Mas quando Jesus se manifestou e quando morreu no lugar dos pecadores na cruz, entrou em vigor uma nova aliança, agora não apenas com Israel, mas com pessoas de todas as nações da terra.
Não devemos portanto, entender que toda a Bíblia seja o evangelho.
Porque ela contém também registros de revelações e situações exclusivamente relativos à antiga dispensação da Lei.
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O evangelho é encontrado, principalmente, nas páginas do Novo Testamento, porque foram produzidas e inspiradas por Deus, no período que marcou o encerramento da aliança do Velho Testamento, inaugurado com o advento de Jesus Cristo.
Daí, Lei x Graça, ser uma boa indicação destes dois períodos distintos, das duas grandes alianças instituídas por Deus, sendo que a antiga foi removida, por ter sido substituída pela nova que é feita no sangue de Cristo.
Não devemos no entanto confundir juízo com condenação.
Deus julga os seus próprios filhos, mas não como um juiz togado, senão como um pai amoroso que não os poupará da repreensão e disciplina sempre que for necessário.
Ele açoita a todo filho a quem quer bem. Todavia, a nenhum deles condenará a uma sentença de morte e danação eternas.
Nosso Senhor Jesus Cristo dirige as seguintes palavras à Igreja de Laodiceia:
“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.” (Apo 3.19)
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O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei
Não encontramos nas Escrituras a expressão pacto de obras, ou aliança de obras.
Todavia ambas as formas, especialmente a primeira é muito empregada para definir a condição de Deus como o Grande Juiz e Legislador que exige perfeição absoluta para que possamos estar eternamente em Sua presença.
A falta desta condição implica em morte espiritual e eterna.
Em sua infinita sabedoria, bondade e misericórdia, o Senhor tem conhecido pela sua onisciência, que nenhum descendente de Adão está habilitado para atender a tal demanda desta Lei Eterna que emana da própria natureza perfeitamente santa e justa de Deus.
Assim, entendemos que Ele não tem proposto a pecadores uma opção de salvação por este modo de se cumprir perfeitamente a Sua vontade e mandamentos.
Isto sempre será feito por pura graça, misericórdia, e simplesmente mediante a fé, como foi proposto ao próprio Adão quando o Senhor foi procurá-lo com a promessa da
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redenção quando ele se escondeu envergonhado da sua nudez atrás das árvores do jardim.
Não pode entretanto, ser removida esta lei que exige perfeição absoluta, e por isso Jesus não morreu apenas como nosso substituto para quitar a culpa do nosso pecado, como também para nos revestir dessa perfeição requerida pela justiça divina, que há de ser absoluta na glória, e mediante o trabalho da santificação da graça pelo Espírito Santo e aplicação da Palavra de Deus aos nossos corações, conforme o penhor do trabalho da nossa transformação e purificação já iniciado aqui na Terra a partir da nossa conversão.
O grande mandamento de Deus foi revelado por Jesus como sendo o amor de uns pelos outros com o mesmo amor com o qual ele nos amou.
Ou seja, o dever imposto é o de amar com o amor de Deus.
Então quando Tiago alude a isto, ele se reporta em sua epístola à questão da acepção de pessoas que estava ocorrendo na igreja em favor dos mais abastados e contra os pobres e necessitados do rebanho.
Isto era um pecado claro e contundente contrário ao que Ele chama de Lei Régia, ou seja a Lei do Rei, esta Lei que está amarrada à própria natureza e essência de Deus, que é amor.
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“Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem;” (Tiago 2.8)
Não convinha que aqueles que foram resgatados da morte espiritual e eterna, inclusive e principalmente por se transgredir tal mandamento do amor, que é o principal de todos, continuassem transgredindo o mesmo.
“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.” (Tiago 2.12)
A esta lei da liberdade da condenação em Cristo, aludiu também o apóstolo Paulo em Rom 8.2:
“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.”
Então, se não fosse por Cristo, todo o nosso esforço em cumprir perfeitamente a Lei – ao qual devemos nos dedicar com sinceridade e amor – seria totalmente perdido caso viéssemos a transgredir um único ponto da lei que está indissoluvelmente ligada à natureza de Deus, porque é Legislador e Juiz conforme demanda a sua justiça que haja perfeita conformação à sua santidade e amor.
“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.” (Tiago 2.10) – Este é o caráter da lei para aqueles que não estão debaixo da cobertura do
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sangue de Jesus. Daqui vemos quão ineficaz é a tentativa de se justificar por meio das obras da lei.
Assim, devemos clamar e dar graças a Deus por nos ter dado Jesus Cristo, juntamente com o apóstolo quanto à nossa condição natural de sermos achados mortos em delitos e pecados que pode ser somente revertida por estarmos no Senhor:
Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.
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Aceitos por Causa da Justificação
A Bíblia ensina claramente que a carne é inimizade contra Deus.
Que aquele que ama o mundo é inimigo de Deus.
Éramos seus inimigos porque não éramos justos aos seus olhos de perfeita justiça e santidade.
Mesmo nos cristãos, que vivem na carne, há guerras, lutas, divisões, contendas, porque a falta de santificação impede um relacionamento pacífico, harmonioso, em unidade em amor.
Mas, mesmo nestes, por causa de Jesus Cristo, a guerra relativa à sua inteira aceitação por Deus acabou, porque são completamente justos aos seus olhos pela salvação que obtiveram em Cristo e que lhes deu acesso à glória da perfeição que terão no céu.
Podem portanto viver e agir como inimigos de Deus, amando o mundo e dispondo suas energias para a carne, e certamente serão por Ele disciplinados, mas são agora filhos amados, por causa da justificação gratuita que receberam pela misericórdia de Deus em Cristo Jesus.
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Foi por conhecer isto e por viver isto, que Paulo se dirigia aos cristãos carnais coríntios, chamando-os de filhos amados, mesmo quando muitos deles estavam sendo disciplinados com enfermidades e até a morte física, que procedia de Deus, em razão da sua carnalidade ostensiva, e que renitentemente, muitos deles se recusavam a abandonar.
O nosso coração está corrompido e é ele a fonte do pecado. Pecadinhos ou pecadões cheiram mal nas narinas perfeitamente santas de Deus. Todos somos condenáveis sob a Sua perfeita e inflexível justiça. Somos livrados desta condição somente por causa de Jesus Cristo.
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Quem Condenará a Quem Deus Justifica?
Deus afirma na Bíblia que tem prazer em salvar e que Seu braço nunca se recolherá para que não possa remir. E nunca lhe faltará poder para livrar do mal.
Então a consequência de falta de atendimento à convocação à reconciliação, o resultado é principalmente morte espiritual, que é a condição de espírito resultante da falta de comunhão com Deus.
Os que buscam o Senhor Jesus sempre receberão dEle palavras boas para instrução e para edificação e consolação porque não fala por Si mesmo, mas pelo Pai. E demonstrou isto fartamente em Seu ministério terreno.
O Pai Lhe sustentou na angústia, especialmente nos momentos que acompanharam a Sua morte, de modo que não recuou, ao contrário, ofereceu-se voluntariamente para ser ferido em suas costas com as chibatadas que recebeu dos soldados romanos, e para que sua barba fosse arrancada e não se envergonhou e não deixou de contemplar corajosamente os rostos daqueles que lhe cuspiam na face.
O Pai lhe amparou naquela hora difícil e por isso não se sentiu confundido, e pôde assim fazer o seu rosto como uma rocha inabalável, porque
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sabia que não seria envergonhado, antes glorificado e engrandecido pela Sua aflição e morte.
Não foram os homens os seu juízes naquela hora, porque a Sua morte foi injusta da parte dos homens, mas justa aos olhos de Deus, não propriamente por ter cometido alguma transgressão, ou por ter algum pecado, mas porque carregou os nossos pecados sobre Si, e era a ofensa dos nossos pecados que estava sendo visitada pelo juízo de Deus naquela hora de terrível angústia e dor, que o Senhor suportou por nós e em nosso lugar.
Foi o Pai que fez com que Ele fosse feito pecado por nós, para que pudéssemos ser feitos justiça para Deus.
Quem quiser contestar esta justiça divina deve apresentar-se ao próprio Cristo para que juntos sejam julgados por Deus.
Afinal foi justo o que o Pai fez por nós pelo Filho?
O Filho afirma que Ele foi justificado pelo Pai em tudo o que fez. Quem é então o homem para contender com Deus e para contestar tal obra, se apresentado como adversário de Cristo?
Se é o Pai que justifica o Filho, então aqueles que foram alvo da obra do Filho em Suas vidas, convertendo-se a Ele, são também justificados por Deus.
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Assim quem intentará acusação contra eles?
Quem os condenará?
Os que ousarem fazer isto perecerão e envelhecerão como um vestido e serão consumidos pela traça do pecado, que destrói oculta, silenciosa e progressivamente.
Então, aqueles que temem a Deus devem ouvir a voz do Messias.
Os que andam em trevas e que não têm luz devem simplesmente confiar no nome de Jesus e se firmarem, não em suas próprias convicções, mas no seu Deus.
Agora, aqueles que não atenderem tal convocação e continuarem se cingindo com o fogo do inferno, permanecerão andando em tais labaredas de tormento e serão atormentados para sempre pelo Senhor na morte espiritual eterna.
Porque o evangelho, é aroma de vida para a vida nos que se salvam, e cheiro de morte para a morte nos que se perdem.
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Resgatados da Ira e da Maldição
Lemos em Ef 2.14: “Porque ele é a nossa paz”.
Jesus mesmo é a nossa paz.
Enquanto Ele viver, Ele manterá este relacionamento de paz.
Deus ficou satisfeito com o sacrifício de Cristo pelos nossos pecados.
Sua ira em relação aos justificados se foi, eles têm paz e nada pode mudar este relacionamento.
Lemos em Hb 8.12: “Pois, para com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e dos seus pecados jamais me lembrarei.”.
Por quanto tempo isto durará? Para sempre. Por que? Porque Cristo satisfez a ira de Deus.
Dizer a qualquer cristão verdadeiro que ele pode perder sua salvação é dizer uma de duas coisas ou ambas: o trabalho de Cristo na cruz não foi suficiente ou o presente sumo sacerdócio de Cristo também não é suficiente.
Todavia não há nada de maior suficiência em todo o universo, porque é por meio de Cristo que tudo o que existe permanece sustentado pela palavra do Seu poder, que jamais passará.
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A salvação não vem de nós, ela é um dom gratuito e imerecido que recebemos por causa de Cristo. É por meio dEle, e dEle somente que tivemos acesso a essa graça maravilhosa e profunda que nos salva (Rom 5.17).
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Cristo, Nossa Redenção, Justiça e Santificação
(I Cor 1.30)
Nenhum homem está perfeito fora de Cristo.
Veja que é dito em I Cor 1.30 que Ele se tornou da parte de Deus para nós a nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção.
O apóstolo Paulo, bem instruído pelo Senhor acerca da verdade do Evangelho não colocou a nossa santificação aparte de Cristo.
Isto indica que é algo sobrenatural que teremos na nossa efetiva associação com Ele, crescendo em graça, de glória em glória, segundo a força operante do Seu poder até a estatura de varão perfeito.
Ainda que o pecado não tivesse entrado no mundo, necessitaríamos estar ligados espiritualmente ao Senhor, participando de Sua natureza divina, para que pudéssemos atingir o alvo do propósito de Deus na nossa criação.
Afinal, há eficácia no poder do Senhor em restaurar e tornar novas todas as coisas nas vidas daqueles que confessam os seus pecados e que fixam o propósito de Lhe serem agradáveis em tudo.
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Mais do que isso, nosso Senhor conquistou para os que estão ligados a Ele, pela fé, uma salvação segura e eterna.
Há uma figura maravilhosa no Velho Testamento, dada pelo próprio Deus com o propósito didático de nos ensinar esta verdade, antes que ela se cumprisse em Cristo, a saber, a firmeza, segurança e eternidade que há em nosso Senhor Jesus Cristo e no Seu sangue, que Ele derramou por nós na cruz.
Então vejamos:
Somente ao sumo-sacerdote de Israel, dentre tantos sacerdotes, era permitida a entrada no Santo dos Santos do tabernáculo terreno, uma única vez por ano, e não sem o sangue do sacrifício que deveria ser aspergido sobre a tampa da arca da aliança, para que os pecados do povo de Deus pudessem ser perdoados por mais um ano.
Isto indicava que a expiação do pecado seria realizada por uma única pessoa, e somente por ela (nosso Senhor Jesus Cristo), que é sumo-sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque, não de um tabernáculo terreno, mas do celestial.
Somente Ele poderia entrar no Santo dos Santos do céu, para fazer expiação pelo pecado de todo o povo de Deus, de uma vez para sempre, pela
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oferta não de sangue de animais, mas do Seu próprio sangue que havia derramado na cruz.
Ele entrou além do véu que separa o Lugar Santo, do Santo dos Santos celestial, no qual Deus Pai se encontra juntamente com os querubins, e por isso, estes também estavam representados em figura no tabernáculo terreno.
Ali, fixou a esperança da nossa salvação como uma âncora segura e firme, que penetrou além do véu, ou seja, a nossa salvação está ancorada pelo próprio Senhor, no Santo dos Santos celestial, como se afirma em Hb 6.17-20.
Então, o plano de Deus na nossa salvação está firmado na imutabilidade do seu propósito, segundo a Sua promessa feita a Abraão, para que tenhamos forte alento e certeza da segurança eterna que temos em Cristo, conforme se lê também em Hb 6.17-20.
Assim, quando a Bíblia fala em reconciliação por meio de Cristo, está se referindo não a algo passageiro ou que possa ser destruído, mas a algo firme, eterno e seguro.
Estaremos assim, ainda inseguros ou desinteressados em tal reconciliação, que é um assunto de morte ou de vida?
O que escolheremos: a morte espiritual eterna ou a vida eterna que está em Cristo Jesus?
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Se queremos a vida, sejamos então humildes de espírito e façamos uma confissão sincera dos nossos pecados ao Senhor, com a firme esperança de que seremos ouvidos, lavados e curados.
Afinal, fomos criados para sermos à imagem e semelhança do Senhor, e isto não pode existir sem que participemos da vida do próprio Deus, e cresçamos no homem interior (espírito) quanto ao Seu caráter e atributos comunicáveis (amor, santidade, misericórdia, etc).
“29 Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos;” (Rom 8.29)
Esta imagem e semelhança não pode existir sem estarmos ligados à Videira Verdadeira.
Ainda que não tivéssemos nenhum pecado, só estaríamos atendendo à demanda da justiça divina, se estivéssemos ligados a Jesus, posto que fomos criados para pertencermos a Ele.
Pertencer não como quem possui um objeto. Mas pertencer por ser participante da Sua própria vida. A cabeça (Cristo) e o corpo (a igreja).
Se Deus perdoasse apenas o nosso pecado e caso não recebêssemos o Espírito Santo para habitar em nós, ficando assim, desligados da
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vida de Deus, não se poderia afirmar que apesar de ter sido perdoados, que também estaríamos justificados.
O perdão do pecado, a vitória sobre o pecado são necessários, mas não são a causa de recebermos a vida eterna prometida, porque esta é o próprio Cristo vivendo em nós.
Assim, de nada aproveita ao homem confessar os seus pecados sem se render ao senhorio de Jesus Cristo.
“o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação.” (Rom 4.25)
A nossa justificação dependeu da ressurreição de Jesus. Ora, ainda que ele morresse resolvendo o problema do pecado, não poderíamos ser justificados caso Ele não tivesse ressuscitado, pois dependemos dEle mesmo para tal, estando ligados à Sua vida.
O perdão foi e é necessário por causa do pecado. A obra de expiação do pecado realizada por Cristo na cruz do calvário tem a ver com a morte do pecador, de modo a poder ser reconciliado com Deus, mas a ressurreição de nosso Senhor foi fundamental para que pudéssemos participar da Sua própria vida ressurrecta, obtendo assim, a vida eterna.
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“10 Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
11 E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora temos recebido a reconciliação.” (Rom 5.10,11)
O apóstolo Paulo mediante revelação e inspiração do Espírito, entendeu que somos salvos pela própria vida de Jesus, e é por meio dEle mesmo, por estarmos nEle, que somos reconciliados com Deus.
Podemos portanto afirmar que é em Cristo que estamos justificados.
Não é incorreto afirmar também que fomos justificados pelo sangue derramado na cruz, porque a expiação do nosso pecado é a porta de entrada para a justificação.
Há ainda outros que afirmam, em razão da imputação da justiça de Jesus ao crente, que a justificação é um ato declarativo da parte de Deus pelo qual nos considera justos, o que também é correto.
Seja qual for a conceituação que se dê à justificação, esta deve estar respaldada na Bíblia, portanto fica excluído qualquer conceito que a concilie às nossas obras, ao cumprimento
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da lei, enfim tudo que se relacione ao nosso próprio trabalho e mérito, pois como temos visto e continuaremos a aprender, a justificação é um ato exclusivo de Deus, que nos é concedido pela graça, e que recepcionamos simplesmente pela fé.
A justificação pela fé abre a porta para um viver na justiça do evangelho, de maneira que recebemos a justiça imputada, atribuída da justificação, para vivermos na justiça que é implantada pelo Espírito Santo.
Em razão da desobediência de Adão todos ficaram sujeitos ao pecado.
Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores.
O pecado é uma lei que opera nos nossos membros e que nos leva para longe de Deus.
Nossa natureza decaída foge da presença do Senhor e não deseja submeter-se ao seu senhorio.
Nenhum pecador teria amado a Deus se não fosse primeiro amado por ele.
Ninguém buscaria entregar-lhe o coração se não fosse atraído por Ele.
A justificação não pode significar que nos tornamos perfeitamente justos desde que
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tivemos um encontro pessoal com Cristo, pois que ainda permanecemos sujeitos à ação do pecado e nem se pode dizer de nós, enquanto neste mundo, que chegaremos à plenitude da perfeição das virtudes de Deus.
Isto ocorrerá somente no porvir.
Mas não se declara na Palavra que seremos justificados no porvir.
A Bíblia afirma que já fomos justificados.
Então, a palavra justificação só pode se referir à nossa condição de termos sido reconciliados com Deus, por estarmos ligados a Cristo.
Qual seria a forma de se perder a justificação, se possível, a não ser pelo nosso afastamento do Senhor?
Se a nossa aproximação e aceitação dEle significou para nós sermos justificados, o nosso afastamento dEle implicaria consequentemente a perda da justificação.
Por isso necessitamos de santificação: para podermos permanecer ligados ao Senhor, porque Ele mesmo é a garantia da nossa justificação.
Mas, não permanecemos nEle, e somos santificados, simplesmente para não perdermos a nossa justificação e por
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conseguinte a nossa salvação, mas, para prosseguirmos em nosso crescimento espiritual, na nossa transformação pessoal à Sua imagem e semelhança, conforme é o supremo e eterno propósito de Deus.
É por isso que o Senhor afirma que não lança fora a nenhum que vem a Ele, e que a vontade do Pai é que não perca a nenhum dos que lhes foram dados por Ele.
Isto significa sobretudo que enquanto permanecermos nEle, nada poderá nos separar do Seu amor, porque a obra de expiação que fizera em nosso favor, para o perdão do nosso pecado, foi completa, perfeita e segura; assim, como a nossa justificação por estarmos nEle possui também tais características, porque é impossível que Ele possa ser vencido, e Sua vida é eterna e inabalável.
Porém, é importante sabermos que se a expiação da cruz é eterna, e nos concedido a bênção de termos todas as nossas transgressões cometidas antes da nossa conversão a Cristo, perdoadas e esquecidas por Deus, o viver vitorioso, pelo perdão de nossas transgressões posteriores à conversão, depende de sucessivos arrependimentos e confissões destes pecados presentes.
A obra de convencimento do Espírito Santo em relação ao pecado, procura também atrair-nos
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para Deus, convencendo-nos de que há disponibilidade e provisão de perdão e amor para nós, ainda que pecadores.
Mas a obra do Espírito vai muito além. Ele não só opera a morte da nossa velha natureza, como também regenera-nos com uma nova vida, e reveste-nos de poder especial através de dons e capacitações espirituais para a realização do nosso ministério.
A palavra regeneração, na Bíblia, vem do grego, Genetós (nascido, gerado) Ánoten (de novo, outra vez, de cima, do alto).
Este é o significado original e verdadeiro da palavra, quanto à interpretação do texto bíblico.
A conotação atual que lhe é atribuída, de reparar, consertar, não traduz a obra do Espírito em nós.
Nada há da herança recebida de Adão que possa ser melhorado.
O que herdamos dele foi sentenciado à morte na cruz do calvário.
A nova vida que temos em nós é a do próprio Cristo.
Por isso somos convocados a nos despojarmos do velho homem e a nos revestirmos da vida de
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Cristo, que é designada biblicamente como a vida do novo homem.
“Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.” (Rm 13.14)
“9 De modo que os que são da fé são abençoados com o crente Abraão.
10 Pois todos quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.
11 É evidente que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, porque: O justo viverá da fé;” (Gál 3.9-11)
“27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo.” (Gál 3.27)
“20 Mas vós não aprendestes assim a Cristo.
21 se é que o ouvistes, e nele fostes instruídos, conforme é a verdade em Jesus,
22 a despojar-vos, quanto ao procedimento anterior, do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano;
23 a vos renovar no espírito da vossa mente;
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24 e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade.” “Ef 4.20-24”
“9 não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do homem velho com os seus feitos,
10 e vos vestistes do novo, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;” (Col 3.9,10)
Paulo coloca a questão da obra da regeneração e santificação, nos seguintes termos: Fomos despojados do velho homem e revestidos de Jesus na conversão, mas este despojamento e revestimento devem prosseguir no processo de santificação.
A vida de Jesus é o vinho novo que deve ser colocado em odres novos. Não odres velhos ou que serão reparados e melhorados.
Se houvesse necessidade de remendo (conserto) nessa vida nova, este seria feito com tecido novo, pois em Jesus, recebemos uma vestimenta de vida inteiramente nova.
A velha natureza é inteiramente incompatível com a nova natureza que recebemos de Deus na conversão.
Por isso, o Senhor não trabalha com aquilo que é relativo à nossa antiga natureza decaída no pecado, procurando consertá-la.
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Não.
Ele trabalha somente com o que é novo, e a obra de aperfeiçoamento que realiza em nós refere-se exclusivamente a esta nova vida.
O enchimento do Espírito Santo, das Suas virtudes, é qual o vinho novo que é colocado no odre.
Deus quer nos encher mais e mais do seu Espírito (Ef 5.18).
Acheguemo-nos a ele como odres novos que somos para que ele nos encha da Sua vida divina.
“16 Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque semelhante remendo tira parte do vestido, e faz-se maior a rotura.
17 Nem se deita vinho novo em odres velhos; do contrário se rebentam, derrama-se o vinho, e os odres se perdem; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.” (Mt 9.16,17)
“Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado.” (I Cor 5.7)
“Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”(II Cor 5.17)
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Em Cristo temos sido aperfeiçoados.
Podemos ser ainda imperfeitos, mas seremos perfeitos como Ele é perfeito, se permanecermos firmes na fé e nEle mesmo.
Somos chamados de justos, ainda que imperfeitos, porque estamos nAquele que é perfeito.
No porvir seremos também perfeitamente justos, não por nosso próprio poder e autoridade, mas por participarmos completamente dAquele que é a própria perfeição: o Senhor.
O problema do pecado precisa ser tratado antes, para que o propósito eterno de Deus, em amor, de ter muitos filhos semelhantes a Cristo, possa ser cumprido.
Para este propósito, Deus foi se revelando gradualmente.
A revelação pessoal vem antes da escrita.
Primeiro Ele se revelou, depois inspirou homens a registrar o que considerou essencial para a nossa instrução espiritual, de modo que possamos entender quem Ele é, e qual é a Sua vontade em relação a nós.
A Bíblia foi sendo produzida desse modo.
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Adão, Noé, Abraão, Jacó, José. Somente muitos séculos depois, Moisés foi encarregado de registrar no que viria a ser o livro de Gênesis, a história da revelação referente ao período da vida desses homens.
A Antiga Aliança, a conquista de Canaã, os juizes, o reinado em Israel, os profetas, os cativeiros, tudo isso foi registrado nos livros do Antigo Testamento.
Mas, Deus revelou também nos dias do Velho Testamento as coisas que haveriam de acontecer no futuro, tanto as relativas à obra de Jesus, do Espírito Santo, como também ao arrebatamento, à glorificação dos salvos e ao Juízo Final.
Se os escribas e fariseus conhecessem as Escrituras como convém, e se conhecessem o poder de Deus, provavelmente teriam topado com a vontade do Senhor, e não teriam se confrontado com Jesus, conforme encontramos registrado nos quatro evangelhos.
Se erravam porque não conheciam as Escrituras e o poder de Deus, certamente não teriam errado o alvo do propósito da vida, caso conhecessem a sã doutrina por revelação do Espírito Santo, mas para isto seria necessário que se convertessem a Cristo.
Vemos assim a importância dessas duas coisas essenciais: a) conhecimento correto da
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revelação bíblica; b) comunhão com Deus no Espírito.
Como não tinham uma coisa nem outra, não puderam reconhecer a manifestação da justiça de Deus, na pessoa de Jesus, conforme prometido aos profetas.
“Mas no Senhor será justificada e se gloriará toda a descendência de Israel.” (Is 45.25)
“5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra.
6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (Jer 23.5,6)
“21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas;
22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem; pois não há distinção.
23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,” (Rom 3.21-24)
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“3 Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus.
4 Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê.” (Rom 10.3,4)
O fim da lei, isto é, a finalidade da Antiga Aliança, das Escrituras do Antigo Testamento, foi a de apontar para a redenção, justificação e santificação em Jesus Cristo.
Mas os judeus, em sua grande maioria não compreenderam isto, e assim, rejeitaram ao Senhor.
“30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;” (I Cor 1.30)
O apóstolo Paulo afirmou que a justiça que dá vida não pode ser procedente das obras da lei, mas da nossa fé em Cristo.
“16 sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em Cristo Jesus, temos também crido em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gál 2.16)
“11 É evidente que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, porque: O justo viverá da fé;
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21 É a lei, então, contra as promessas de Deus? De modo nenhum; porque, se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei.
22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos que creem.” (Gál 3.11,21,22)
“9 e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé;” (Fp 3.9)
Cremos que quando o apóstolo Tiago afirmou que uma pessoa não é justificada somente por fé mas também por obras, queria referir-se à necessidade de se viver obedientemente a Deus, assim como vivera Abraão, pois, sem qualquer sombra de dúvida esta é a única forma de se evidenciar e se comprovar o fato de ter sido justificado por meio da fé.
A este respeito também nos falou o apóstolo Pedro no primeiro capítulo de sua segunda epístola, onde exorta os crentes a crescerem na prática da justiça, de maneira a confirmarem a sua eleição e a terem amplamente garantida a sua entrada no reino de Deus (II Pe 1.5-11).
Em textos que se referem à justificação, encontramos os verbos gregos “elogáu” e “logízomai”, que têm o significado de “atribuir” e “imputar”.
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Referem-se no sentido original a uma operação de registro contábil.
Isto significa que na contabilidade de Deus a nossa dívida foi cancelada, e em seu lugar lançado um crédito de vida eterna, graças à obra e pessoa de Jesus Cristo.
“3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça;
6 assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as obras, dizendo:
7 Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado.
9 Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a incircuncisão? Porque dizemos: A Abraão foi imputada a fé como justiça.
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10 Como, pois, lhe foi imputada? Estando na circuncisão, ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas sim na incircuncisão.
11 E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve quando ainda não era circuncidado, para que fosse pai de todos os que creem, estando eles na incircuncisão, a fim de que a justiça lhes seja imputada, (Rom 4.3-11)
A justiça de Deus não somente perdoa até mesmo os piores malfeitores, como também remove a sua culpa, e os transforma em pessoas justas e santas, pela simples expressão de arrependimento e fé.
O melhor de tudo: é por tal justiça divina que alcançamos a vida eterna. De modo que aqueles que têm a justiça de Deus, têm também a vida eterna, porque por ela (justiça) são justificados e tornados justos.
Aqueles que não têm tal justiça divina jamais terão a vida.
Romanos 9.30-32; 10.3-9
Por isso se nos ordena que busquemos não apenas o reino de Deus, mas também a sua justiça, porque sem esta justiça, não teremos a vida eterna.
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Deste modo, o dom da justiça divina em Jesus Cristo é relacionado na Bíblia, à própria salvação:
Is 46.13; 51.5,6,8; 56.1; Dn 9.24; Mal 4.2
Podemos ver então o quão crucial é que sejamos justificados por Deus para que sejamos salvos, de modo a alcançar a vida eterna.
Quando se afirma em Habacuque 2.4 que o justo viverá pela sua fé, é importante observar que está sendo afirmado que somente os justos terão vida eterna. Então o homem necessita da justiça perfeita de Deus para ter vida, e tal justiça lhe é concedida por meio da fé, como se afirma no texto de Hc 2.4.
Quando a palavra “justiça” é usada na Bíblia com o sentido de “juízo”, ela é vertida do original grego “krisis”.
Mas quando é usada para se referir à salvação, a palavra da qual é vertida no grego é “dikaiossine”, que é encontrada nos seguintes textos, dentre outros:
Lucas 7.29; João 16.8, 10; Atos 13.10; 24.25; Romanos 1.17; 3.5, 21, 22, 25, 26; 4.3, 5, 6, 9, 11, 13, 22; 6.13, 16, 18, 19, 20; 8.10; 9.31; 10.3-6, 10; 14.17; I Coríntios 1.30; II Coríntios 3.9; 5.21; 6.7, 14; Gálatas 2.21; 3.6, 21; 5.5; Efésios 4.24. 5.9; 6.14; Filipenses 1.11; 3.9; I Timóteo 6.11; II Timóteo 2.22; 3.16; 4.8; Hebreus 5.13; 7.2; 11.7, 33; 12.11; Tiago
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1.20; 2.23; 3.18; I Pedro 2.24; 3.14; II Pedro 1.1; 2.5, 21; 3.13; I João 2.29; 3.7, 10; Apocalipse 15.4; 19.8; 22.11.
Destes textos, veja por exemplo, o que se afirma em Rom 8.10:
”Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.” (Rom 8.10)
Veja que se fala de uma vida do espírito por causa da justiça.
Em Fp 3.9:
“e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé;” (Fp 3.9)
Em Rom 3.21-26:
“21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas;
22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem; pois não há distinção.
23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
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24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,
25 ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos;
26 para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rom 3.21-26)
Veja de que forma direta o apóstolo relaciona a justiça com a salvação, com a justificação instantânea da conversão inicial pela qual foram esquecidos todos os pecados cometidos antes de se receber tal dom da justiça que é por meio da fé, prometido por Deus desde os profetas e até mesmo pela Lei de Moisés.
E em Rom 5.17,18,21:
“17 Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.
18 Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida...
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21 para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.” (Rom 5.17,18,21)
No verso 17 está escrito: “reinarão em vida os que recebem do dom da justiça”.
No verso 18 se diz em outras palavras que: “é a justiça que dá vida, e o único ato de justiça pelo qual veio a graça para justificação e vida, foi a expiação do pecado realizada por Jesus Cristo na cruz.
No verso 21 se afirma expressamente que a graça reina por causa da justiça, para que tenhamos vida eterna por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
A justiça verdadeira demanda que sejamos e hajamos em conformidade com o que Deus é, e segundo a Sua vontade.
Então, ser justo significa atender a tal exigência da justiça divina que sejamos sobretudo conformados à Sua santidade.
Assim, não basta ser justo apenas em relação aos homens por cumprir os mandamentos de não adulterar, matar, mentir, furtar, cobiçar, porque importa ser também justo para com Deus, por sermos santificados por Ele, para aquela vida perfeita que teremos no céu.
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Todavia, não se pode ser e fazer tudo isso, sem Cristo, e daí se dizer que Ele se tornou da parte de Deus para nós a nossa justiça (I Cor 1.30) e que a finalidade da lei de Deus é o próprio Cristo para a justiça dos crentes.
Como Cristo se torna a justiça do crente?
Primeiro, através da justiça atribuída quando se arrependem e se convertem a Deus tornando-se a partir de então seus filhos, pelo que a bíblia chama de justificação.
Em segundo lugar através da justiça implantada pela operação do Espírito Santo através da regeneração e da santificação.
Por que necessitamos da justiça atribuída, além da implantada?
Porque é somente por ela que poderíamos ser perdoados de nossos pecados e culpa, e sermos reconciliados com Deus.
Por que necessitamos da justiça implantada?
Porque é por meio dela que somos transformados à imagem de Deus aprendendo a ser misericordiosos, longânimos, perdoadores, amorosos, justos, bondosos, etc, tal como é o próprio Deus. E é nesse aumento cada vez maior da nossa semelhança com Jesus que nos tornamos cada vez mais justos, porque vimos que a justiça significa ser igual a Deus, e isto é
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operado em nós pela regeneração e santificação.
Somente Deus é a origem e a fonte da justiça eterna e verdadeira, sem a qual ninguém pode viver em comunhão com Ele.
A justiça demanda atos justos.
Por exemplo: o peso e a medida devem corresponder exatamente ao padrão convencionado, ou seja, um quilo deve ser um quilo, e não mais ou menos do que isto.
O que é justo não deve enganar ou prejudicar a quem quer que seja.
O que é bom não deve ser considerado ruim, e o que é ruim considerado bom.
O culpado não deve ser inocentado, e nem o inocente ser condenado.
O que age corretamente não deve ser castigado, assim como não se deve poupar o malfeitor do devido castigo.
Por isso Jesus teve que ser castigado no nosso lugar para sermos redimidos, para que a justiça divina não fosse ofendida.
Deus pode perdoar os nossos pecados porque eles foram totalmente castigados em Jesus.
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Assim, por sermos pecadores, toda a justiça de Deus para nós é de caráter evangélico, na qual deve ser sempre lembrada a substituição que foi feita por Jesus, colocando-se em nosso lugar para receber em sua morte na cruz, a condenação relativa à nossa culpa, e em razão do exercício do perdão, amor e misericórdia, para que tais atributos sejam achados em nós tal como eles se encontram em Deus.
Se o caráter da nossa justiça é evangélico, isto é, baseado na expiação e perdão de Jesus, pela nossa fé no evangelho, então, enquanto neste mundo, não somos justos para Deus pelo fato de nunca falharmos ou errarmos, mas pelo fato de nos arrependermos de nossos pecados.
O arrependimento sincero fará com que achemos o favor e o perdão de Deus para nos purificar de toda injustiça, como se afirma no primeiro capítulo de I João, porque o arrependimento verdadeiro consiste numa real mudança de atitude e de comportamento, deixando-se o que é mau, e praticando o que é bom e reto segundo a vontade de Deus, conforme nos é concedido pelo poder da Sua graça.
Assim, a justiça evangélica que os crentes têm em Jesus excede em muito a justiça que há no mero cumprimento da Lei escrita, porque atinge também e leva em consideração as
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nossas atitudes, reações e intenções, ainda que não venham a se transformar em atos.
A justiça que Deus exige de nós, Ele mesmo nô-la concede, através de Jesus Cristo e do trabalho do Espírito Santo em nossos corações. E Deus tem grande prazer neste trabalho de nos tornar cada vez mais justos, pelo aumento da nossa fé em graus cada vez maiores.
É muito importante sabermos isto para não incorrermos no mesmo erro dos escribas e fariseus, que condenavam os inocentes, ou seja, aqueles cujos pecados viriam a ser perdoados por Deus, tornando-os assim isentos de culpa diante dEle, porque os fariseus não sabiam o modo pelo qual Deus justifica pecadores, a saber, pela graça, mediante a fé.
Os fariseus desconheciam a verdade que todos os pecadores estão destituídos de qualquer justiça própria diante de Deus que possa justificá-los.
Assim, a justiça é um dom gratuito de Deus que se recebe e que se vive somente pela fé nEle, e na Sua Palavra.
Deste modo, de si mesmos, os homens não têm nenhuma recompensa para receberem da parte de Deus.
Bem-aventurados são apenas aqueles que são perseguidos não por causa da justiça própria
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deles, mas por pregarem e viverem a justiça do reino de Deus, a saber, a justiça evangélica que se recebe gratuitamente, mediante a fé. Estes e somente estes serão recompensados por Deus.
A justiça de Deus revela que os propósitos divinos não podem ser frustrados, por causa do pecado, por isso não é justo que não se perdoe um pecador que tenha se arrependido.
Não somos nós que possuímos a justiça. É ela quem nos possui e somos seus servos (Rm 6.18; II Cor 3.9).
Assim, somos convocados a julgar segundo a reta justiça que se baseia não nos nossos padrões de certo e de errado, mas nos padrões de Deus revelados na Sua Palavra.
A justiça é necessária para que tenhamos vida eterna e a manifestação de tal vida no nosso dia a dia, como se vê em textos como: Dt 16.20; Jer 23.6; 33.15; Dn 9.24; Mt 5.6; Rom 1.17; 5.17,18; 6.16; 8.10 e Gál 3.21.
Concluímos então, que se ser justo é ser santo, assim como Deus é santo, ou seja, sermos como Deus é, então é pela justificação que se tem acesso à santidade de Deus, e pela santificação, que se obtém maiores graus da justiça de Deus, e por conseguinte, da manifestação da Sua vida em nós, porque é pela Sua justiça eterna implantada em nós pela santificação, que podemos ter maiores graus da vida eterna. Por
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isso a Bíblia trata a santificação como sendo um assunto de vida, e a falta de tal santificação como um assunto de morte.
Portanto, quanto mais justos formos, mais teremos da vida de Cristo em nós.
Não justos pela nossa justiça própria, mas justos pelo crescimento na justiça que é pela graça, mediante a fé, e que não é deste mundo, mas que nos vem do céu, especialmente pelo exercício da vigilância, da oração, da santificação.
Bem-aventurados são aqueles que têm fome e sede de tal justiça divina, porque serão fartos da vida eterna de Deus.
Erram aqueles que dizem que Deus não é somente amor, mas também justo e justiça, para afirmarem que Ele castigará o pecado, porque quando é justo e justiça Deus não age com juízos, como Juiz, sobre os pecadores, ao contrário, Ele lhes redime e lhes dá a vida eterna por meio da justiça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando Adão pecou a justiça do homem foi perdida para sempre, de modo que necessita da justiça de um outro, para que possa ter vida, a saber, a de Cristo, que jamais se perde ou acaba, porque é justiça eterna e perfeita.
Vimos que é a justiça que dá vida, de modo que não se pode viver sem ser justo. O ímpio
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perecerá eternamente, mas o justo, por causa da fé, viverá eternamente. (Rom 3.21-31)
Se a justificação foi imputada, atribuída, quando cremos, então de fato ela foi recebida simplesmente pela graça mediante a fé.
Não dependeu de qualquer ato ou esforço da nossa parte, além do arrependimento e da fé.
Daí Paulo afirmar que não a recebemos como salário em razão do nosso trabalho ou alguma boa obra que tenhamos realizado para Deus (Rom 4.5,6).
Muito da doutrina da chamada “graça” barata ou irresponsável decorre da incorreta interpretação de textos como os que acabamos de ler, que discorrem sobre justificação e não sobre santificação.
“Está vendo irmão! Não precisamos de boas obras, não precisamos nos esforçar para agradar a Deus! É tudo pela fé! É tudo pela graça! Nada de mandamento! Chega de lei! Sou livre para viver e fazer o que bem entender!”. Diria alguém.
De fato foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Somos de fato livres. Mas que liberdade é esta? Para pecar?
Não é antes de tudo, liberdade para vivermos segundo o propósito de Deus?
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De fato é tudo pela graça e pela fé. Mas isto exclui a nossa diligência, perseverança, esforço, boas obras?
Não estamos de fato debaixo da lei, no sentido de não estarmos debaixo da Antiga Aliança, e não mais sob a maldição da Lei que considera malditos e sujeitos à ira de Deus todo aquele que não permanece perfeitamente na prática de todos os seus mandamentos, mas disto estão excluídos os crentes por causa de Jesus Cristo, sem que no entanto não estejam sem lei para Deus, pois estão debaixo da lei de Cristo (I Cor 9.21).
É preciso discernir quais textos bíblicos falam de justificação e quais se referem ao processo da santificação, pois a justificação não é um processo mas uma condição a que acessamos quando nos convertemos a Cristo e o recebemos como nosso Salvador. E esta condição, como vimos antes, é a de termos sido enxertados em Sua própria vida.
Por exemplo, o texto abaixo, na mesma epístola aos Romanos, fala de santificação e não de justificação:
“18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da
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iniquidade para iniquidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para santificação.” (Rom 6.18,19)
A liberdade do crente é sobretudo da escravidão do pecado. Note que Paulo diz que ele foi libertado de um cativeiro para ser escravo de um outro, a saber, da justiça.
O crente foi libertado do pecado para ser servo de Jesus.
Esta é a verdadeira liberdade do homem: poder viver para o propósito para o qual fora criado, a saber, ser do Senhor.
No Senhor Jesus estamos justificados.
Por isso somos exortados a permanecer nEle para que Ele permaneça em nós. Não importa qual seja a nossa estatura espiritual. Quanto ainda deveremos crescer na graça e no conhecimento dEle.
Já estamos, enquanto nEle, perfeitamente justificados, desde o dia da nossa conversão.
Ainda que imperfeitos, mas prosseguindo para o alvo da soberana vocação, cooperando com a obra do Espírito Santo, na nossa transformação pessoal, já não estamos mais debaixo da condenação da lei ou da acusação do diabo porquanto fomos justificados.
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Assim, o efeito da justificação será além desta justiça de Cristo que nos é atribuída pela fé, a capacitação recebida a partir da mesma de crescer na prática da justiça evangélica, no que poderíamos chamar de justiça divina não imputada, mas implantada progressivamente em nossa vida, pela auto-negação do ego, da mortificação do pecado, do carregar diário da cruz, e o seguir a Jesus pela prática das boas obras.
“1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rom 8.1)
“33 Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;
34 Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós;” (Rom 8.33,34)
Em Jesus estamos perfeitamente perdoados. O Seu sangue foi derramado na cruz para fazer propiciação pelos nossos pecados do passado, e dos que eventualmente praticarmos no presente e no futuro.
Todavia, se temos o perdão pleno total dos pecados praticados antes da conversão, ou seja, antes de sermos justificados, no entanto, depois de convertidos necessitamos de confissão e também arrependimento para o perdão dos nossos pecados presentes, sem que isto
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implique o risco de perda de salvação de genuínos crentes, por causa de uma possível falha ou negligência deste dever, e tal garantia é obtida por causa do caráter eterno da justificação, conforme veremos afirmado em vários textos bíblicos, inclusive no Velho Testamento, especialmente no profeta Isaías.
Isto foi prometido por Deus desde os dias do Antigo Testamento, através do ministério dos profetas.
“31 Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá,
32 não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, esse meu pacto que eles invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.
33 Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
34 E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniquidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados.”(Jer 31.31-34)
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Somente o crente está morto em Cristo para o pecado e, portanto, para a condenação da lei. Daí dizer-se também que não está sob a lei e sim sob a graça.
“4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça;” (Rom 4.4,5)
“14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.” (Rom 6.14,15)
“4 Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos fruto para Deus.
5 Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte.
6 Mas agora fomos libertos da lei, havendo morrido para aquilo em que estávamos retidos, para servirmos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.” (Rom 7.4,6)
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“19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus.” (Gál 2.19)
“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;” (Gál 3.13)
No capítulo sexto de Romanos, Paulo discorre sobre a expiação, justificação e santificação.
Como afirmou em I Cor 1.30 que Cristo mesmo é a nossa justificação e santificação, esforçou-se por explicar qual é a obra da graça e concluiu que é completamente errada a ideia de que viver na graça significa que a graça é tão abundante que podemos pecar sem qualquer preocupação, já que Cristo morreu por nós, e por ser segura a nossa salvação, pois Deus fez a promessa de perdoar e esquecer os nossos pecados e iniquidades.
“1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça?
2 De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?
3 Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?
4 Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado
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dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.
5 Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição;
6 sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado.
7 Pois quem está morto está justificado do pecado.
8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos,” (Rom 6.1-8)
“Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.
12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências;
13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.
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14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.
16 Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? (Rom 6.11-16)
O pecado não tem domínio sobre nós quando vivemos essa verdade. Quando nos oferecemos ao Senhor para viver na prática da justiça.
Nenhum crente deveria permanecer sob o domínio do pecado, pois já morreu para o pecado, na sua identificação com a morte de Cristo.
Como deixaremos o governo da nossa vida à mercê de um senhor que já foi destronado?
Em Jesus mudamos de senhorio.
Temos agora um novo Senhor, e é a Ele que devemos servir.
Não ao pecado.
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A lei já não pode mais nos condenar enquanto permanecermos ligados pela fé ao Senhor, pois, nEle, também estamos mortos para a lei.
A vida de Jesus em nós, pela nossa comunhão real com Ele, é a nossa vitória sobre o pecado.
Podemos e devemos andar nessa nova vida, isto é, em novidade de vida.
Não devemos ficar caindo e levantando.
Há poder suficiente na graça, para manter-nos de pé na presença do Senhor.
Por isso o pecado já não tem domínio sobre nós.
Nunca devemos esquecer que fomos uma vez justificados para sermos santificados, isto é, para podermos viver de modo digno e agradável a Deus.
Mas, uma vez reconciliados com Deus, por meio da justificação, necessitamos dar ouvidos à Palavra do Senhor, porque é por meio dela que Ele nos santifica (Jo 17.17).
A Sua Palavra é a verdade.
É por meio da prática da Palavra que somos santificados, a ponto e a santificação se tornar para nós um hábito rotineiro de vida.
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No entanto, é bom não esquecer nunca que é Deus mesmo quem aplica a sua Palavra ao nosso coração, pela ação do Espírito, conforme prometeu relativamente à Nova Aliança que faria através de Jesus Cristo, como vimos em Jer 31.33.
É importante destacar que o texto de Jer 31.33 se refere à impressão e inscrição de leis na mente e no coração, na Nova Aliança.
Incorrem em erro os antinomistas, ao afirmarem que o crente está dispensado do cumprimento de qualquer lei.
Alguns, afirmam que a referência à lei está dirigida ao próprio Espírito Santo. Esta é uma interpretação adotada por muitos, mas devemos considerar que Jesus falou claramente que deveríamos guardar os seus mandamentos, e não é razoável entendermos que estaria ordenando que guardássemos o Espírito Santo. É Ele quem nos guarda. Não possuímos a verdade, é ela que nos possui.
Paulo afirma em Efésios que a Palavra de Deus é a espada do Espírito.
Isto nos ajuda muito a interpretar a citada promessa, pois é de fato o Espírito Santo que imprime a Palavra de Deus em nossas mentes e corações.
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Assim, não é o Espírito que é a lei, mas quem nos habilita a viver segundo o que é exigido pela lei de Deus.
Ainda que a santificação exija a nossa contínua apresentação ao Senhor, pela oração, para que Ele nos santifique, pela ação do Espírito Santo, mediante nossa meditação na Palavra, nunca devemos esquecer a verdade contida em I Cor 1.30, onde se declara que Jesus mesmo é a nossa sabedoria, redenção, justificação e santificação. É nEle que estamos santificados.
É o próprio Cristo quem nos purifica, isto é, que nos dá um coração puro, e que nos separa do pecado que há no mundo, para que sejamos úteis nas mãos de Deus na obra de salvação dos pecadores (estamos no mundo mas não somos do mundo).
Quando a Sua vida se manifesta em nós, sabemos em nosso espírito que fomos tomados da plenitude da Sua santidade.
É Aquele que é Santo que nos torna santos.
“16 Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
17 Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.” (Jo 17.16,17)
Veja que é Deus quem nos santifica pela Palavra.
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“7 Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus.
8 Guardai os meus estatutos, e cumpri-os. Eu sou o Senhor, que vos santifico.” (Lev 20.7,8)
Não podemos portanto, atribuir ao nosso próprio esforço, o resultado e o mérito da santificação.
Não teremos qualquer santidade de vida caso não preservemos a nossa comunhão com o Senhor.
É Ele quem nos santifica.
Todavia somos chamados a tomar posse do Reino Deus, mediante esforço.
Não lutando com armas carnais para vencer o pecado, o mundo e o diabo, mas permanecendo na santificação do Espírito pela prática da Palavra e da comunhão com Cristo, e com os santos.
Se é pela santificação que experimentamos e participamos da vida de Deus, então ela é absolutamente essencial à salvação.
“22 Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna” (Rom 6.22)
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“3 Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição,
4 que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra,”(I Tes 4.3,4)
“14 Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,
15 tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem;
16 e ninguém seja devasso, ou profano como Esaú, que por uma simples refeição vendeu o seu direito de primogenitura.”(Hb 12.14-16)
“11 Quem é injusto, faça injustiça ainda: e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, santifique-se ainda.” (Apo 22.11)
Temos aprendido que Jesus mesmo se tornou da parte de Deus para nós a nossa sabedoria, redenção, justiça e santificação.
Ele disse que aquele que se alimentar dEle mesmo, por Ele viverá. Que o Seu sangue é verdadeira bebida e que a Sua carne é verdadeira comida. Isto é uma referência à Sua própria vida.
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O Antigo Testamento afirma que a vida da carne é o sangue (Lev 17.11,14). Isto era uma referência que apontava que a nossa vida depende da vida do Senhor..
Ora, a Nova Aliança foi feita no sangue de Jesus. Isto quer significar: na Sua própria vida.
É por meio da vida dEle que temos vida.
“56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.” (Jo 6.56,57).
“5 Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5)
Na ilustração da videira verdadeira o Senhor está se referindo à vida e à frutificação. E afirma que sem Ele nada podemos fazer a esse respeito.
Então, o que o crente necessita para viver na verdadeira vitória (Rom 8.37), é viver em Cristo.
Alimentar-se de Jesus, da Sua própria vida.
Ele é o pão vivo que desceu do céu e que nos faz viver a qualidade da vida abundante, da vida espiritual, celestial e eterna.
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“47 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida eterna.
48 Eu sou o pão da vida.
49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
50 Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.
52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a sua carne a comer?
53 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
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57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu; não é como o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.” (Jo 6.47-58)
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O Que é a Antiga Aliança
A Antiga Aliança ou Antigo Testamento recebe também as seguintes designações na Bíblia: Primeira Aliança (Hb 8.7); Lei de Moisés (I Cor 9.9); Lei do Senhor (II Cr 31.3,4): Lei de Deus (Ed 7.21); Lei (Rom 3.19); Aliança da Letra (II Cor 3.6); Ministério da Morte (II Cor 3.7), e Ministério da Condenação (II Cor 3.9).
Foi celebrada por Deus com a nação de Israel quando esta foi libertada do cativeiro egípcio (cerca de 1440 aC).
A Antiga Aliança abrangia todos os israelitas em todas as gerações de Israel, de Moisés até a morte de Jesus, e por isso, possuía também um caráter essencialmente coletivo quanto às aplicações das suas promessas de bênçãos (Lev 26.3-13; Dt 7.12-26; 11.8-32; 28.1-14), e de maldições (Lev 26.14-42; Dt 11.26-28; 27.26; 28.15-68).
Apesar do caráter essencialmente coletivo daquela aliança, a mesma não excluía a responsabilidade individual de cada israelita perante Deus (Dt 24.16; Ez 18.20).
Mas, à responsabilidade pessoal, sobrepunha-se a coletiva, com vistas principalmente, à manutenção da unidade de Israel como nação separada para o serviço de Deus, e para
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preservá-la da idolatria e costumes pagãos das demais nações.
Daí o mandamento que proibia o casamento de israelitas com gentios.
Não porque os demais povos fossem desprezados por Deus, conforme os israelitas passaram a interpretar o mandamento, mas simplesmente para preservar Israel dos costumes das nações até que Jesus viesse e inaugurasse a Nova Aliança.
Ao dar a lei a Israel através da mediação de Moisés, firmando com a nação a chamada Antiga Aliança ou Testamento, Deus não tinha em vista forjar o legalismo no seu povo, mas forjar a justiça, o amor e a santidade, através da obediência à Sua santa vontade, expressada nos diversos mandamentos da lei.
A palavra LEI, recebe no texto da Bíblia, diferentes conotações. Por vezes, é usada com o significado do Pacto ajustado por Deus com os israelitas a partir de Moisés, ou seja, a Aliança Antiga propriamente dita.
Em outras passagens, refere-se aos cinco primeiros livros da Bíblia, ou Pentateuco, também conhecidos como livros da lei de Moisés.
Quando aparece a expressão a Lei e os Profetas, normalmente é uma referência ao conjunto das
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Escrituras do Velho Testamento (At 13.15), ou ao Pacto Antigo propriamente dito (Lc 16.16).
E, finalmente, em outras porções bíblicas, a palavra Lei, designa o conjunto de regulamentos e mandamentos civis, cerimoniais e morais, constantes sobretudo do Pentateuco.
Por exemplo, quando Jesus disse que não veio revogar a lei e os profetas (Mt 5.17), estava se referindo às Escrituras do Velho Testamento; e quando afirmou que a lei e os profetas haviam vigorado até João Batista (Mt 11.13; Lc 16.16), ao Pacto, à Aliança Antiga, que estava sendo substituída pela Nova.
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O Que é a Nova Aliança
Ao instituir a Nova Aliança no seu sangue, Jesus revogou a Antiga Aliança e marcou o encerramento do período da dispensação da lei, mas não revogou, isto é, não cancelou, as Escrituras do Velho Testamento (Mt 5.17).
Essa questão não pode ser compreendida à luz de um enfoque legalista, pois nos remeteria consequentemente a considerar que a Antiga Aliança ainda estaria em vigor por não terem sido revogadas as Escrituras que lhe são correspondentes.
Entretanto, o Velho Testamento, incluindo os preceitos relativos à Aliança, é um testemunho da vontade de Deus e da própria revelação referente a Jesus Cristo.
Se as Escrituras dão testemunho do Senhor, como Ele as revogaria?
Se o fizesse estaria negando a Si mesmo e à obra que recebeu do Pai para realizar.
Abraão, Moisés e os profetas, falaram de Jesus. Os utensílios e ofícios do tabernáculo e do templo ensinam-nos acerca dEle, em figura.
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A forma como o pecado entrou no mundo e a provisão que Deus fez para salvar o pecador ali também estão revelados.
A própria remoção do pacto antigo está revelada nas Escrituras do Velho Testamento, atestando que de fato o problema do pecado só poderia ser resolvido pela inauguração da Nova Aliança (Jer 31.31-34).
Vemos assim, a confirmação da validade das Escrituras porque por elas se testifica que o Pacto Antigo foi substituído pelo Novo, e que Jesus é o Seu Mediador, conforme nelas também se testifica (Is 42.6,7; 49.8,9).
A Nova Aliança não foi um plano emergencial concebido por Deus, por terem os israelitas violado a Antiga Aliança.
Em absoluto. Ela já estava no Seu coração desde antes da criação do mundo. E fora prometida a Abraão antes mesmo da celebração da Antiga (Gên 17.1-5), tendo sido a promessa posteriormente confirmada pelo ministério dos profetas.
“6 Eu o Senhor te chamei em justiça; tomei-te pela mão, e te guardei; e te dei por mediador da aliança com o povo, e luz para os gentios;
7 para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas.” (Is 42.6,7)
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“6 Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.
7 Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, e o seu Santo, ao que é desprezado dos homens, ao que é aborrecido das nações, ao servo dos tiranos: Os reis o verão e se levantarão, como também os príncipes, e eles te adorarão, por amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu.
8 Assim diz o Senhor: No tempo aceitável te ouvi, e no dia da salvação te ajudei; e te guardarei, e te darei por pacto do povo, para restaurares a terra, e lhe dares em herança as herdades assoladas;
9 para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei; eles pastarão nos caminhos, e em todos os altos desnudados haverá o seu pasto.”(Is 49.6-9)
Paulo compreendeu melhor e mais rapidamente do que qualquer outro o caráter da Nova Aliança, que estava sendo oferecida a todos os gentios, e que os desobrigava do cumprimento minucioso das condições de culto, ritos e todos os mandamentos civis e cerimoniais da Lei de Moisés.
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Um gentio não precisaria viver como um judeu, como no caso da Antiga Aliança, para que pudesse ser aceito como integrante do povo de Deus.
Jesus e nenhum dos apóstolos ensinaram contra a lei, pois fora outorgada pelo próprio Deus a Moisés para vigorar como termos da Antiga Aliança, que firmara com a nação de Israel, e para servir também de testemunho a todo o mundo gentílico, acerca do Seu caráter e da Sua vontade.
Desta forma, nem Paulo ou qualquer outro dos apóstolos ensinou contra a lei.
Eles sabiam que a justiça que é pela fé, e operante segundo a graça, passou a se manifestar com o advento de Jesus. Mas também sabiam que Deus havia salvado e justificado pela graça, mediante a fé, a muitos nos dias do Antigo Testamento.
Não foi este o caso de Abraão? A ponto de ser designado como pai dos que creem.
Mas, a Antiga Aliança foi revogada, e suas ordenanças civis e cerimoniais já não são obrigatórias aos israelitas, com quem foi celebrada, e muito menos aos gentios, quanto ao seu cumprimento, bem como não é aplicável, à igreja, de forma específica, o seu sistema de bênçãos e maldições, ritos etc, desde a inauguração da Nova Aliança, que a revogou.
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“Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João.” (Mt 11.13)
“A lei e os profetas vigoraram até João; desde então é anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele.” (Lc 16.16)
“e rasgou-se ao meio o véu do santuário.” (Lc 23.45)
“9 Porque, se o ministério da condenação tinha glória, muito mais excede em glória o ministério da justiça.
10 Pois na verdade, o que foi feito glorioso, não o é em comparação com a glória inexcedível.
11 Porque, se aquilo que se desvanecia era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece.” (II Cor 3.9-11)
“13 Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.
14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade,
15 isto é, a lei dos mandamentos contidos em ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois
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um novo homem, assim fazendo a paz”, Ef 2.13-15)
“18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade
19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de Deus.” (Hb 7.18,19)
“6 Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor pacto, o qual está firmado sobre melhores promessas.
7 Pois, se aquele primeiro fora sem defeito, nunca se teria buscado lugar para o segundo.
8 Porque repreendendo-os, diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá um novo pacto.” (Hb 8.6-8)
“Dizendo: Novo pacto, ele tornou antiquado o primeiro. E o que se torna antiquado e envelhece, perto está de desaparecer.” (Hb 8.13)
“8 Tendo dito acima: Sacrifício e ofertas e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem neles te deleitaste (os quais se oferecem segundo a lei);
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9 agora disse: Eis-me aqui para fazer a tua vontade. Ele tira o primeiro, para estabelecer o segundo.” (Hb 10.8,9)
Nova Aliança é designada na Bíblia como sendo As Fiéis Misericórdias Prometidas a Davi, como se lê em Is 55.3 e Atos 13.34.
“E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos 13.34)
“Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3)
É dito no texto de Isaías (VT) que seria feita uma aliança eterna, que estaria baseada nas misericórdias fiéis que Deus havia prometido a Davi.
Trata-se de uma aliança de misericórdias, e misericórdias que não falharão, porque não foram prometidas pelo homem, mas prometidas por Deus a Davi.
Esta aliança eterna, que é a Nova Aliança, que vigoraria na dispensação da graça em que temos vivido, foi prometida em várias passagens do Velho Testamento.
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Davi veio a se referir a ela tanto na hora da sua morte, conforme relato de II Samuel 7.12-17, quanto no Salmo 89, nos quais afirma a segurança e estabilidade desta aliança prometida, bem como o seu caráter de livramento da condenação eterna para os aliançados, ainda que estes viessem a transgredir eventualmente os mandamentos de Deus, porque o Senhor afirmou que corrigiria os aliançados, mas que não deixaria jamais de estar aliançado com eles.
O fiador, o mediador, seria o Renovo justo que brotaria do tronco de Jessé, a saber, o Senhor Jesus, quem é Aquele que garante a eternidade da aliança.
Vejamos então, alguns textos da Bíblia que se referem à citada aliança de misericórdias, e de misericórdias fiéis que durarão para sempre, e pelas quais nossos pecados e transgressões são perdoados e esquecidos por Deus para sempre:
“12 Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino.
13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14 Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens e com açoites de filhos de homens.
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15 Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.
16 Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre.
17 Segundo todas estas palavras e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi.” (II Samuel 7.12-17)
Esta passagem das Escrituras registra quando a promessa foi feita por Deus a Davi através do profeta Natã.
“20 Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi.
21 A minha mão será firme com ele, o meu braço o fortalecerá.
22 O inimigo jamais o surpreenderá, nem o há de afligir o filho da perversidade.
23 Esmagarei diante dele os seus adversários e ferirei os que o odeiam.
24 A minha fidelidade e a minha bondade o hão de acompanhar, e em meu nome crescerá o seu poder.
25 Porei a sua mão sobre o mar e a sua direita, sobre os rios.
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26 Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação.
27 Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra.
28 Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e, firme com ele, a minha aliança.
29 Farei durar para sempre a sua descendência; e, o seu trono, como os dias do céu.
30 Se os seus filhos desprezarem a minha lei e não andarem nos meus juízos,
31 se violarem os meus preceitos e não guardarem os meus mandamentos,
32 então, punirei com vara as suas transgressões e com açoites, a sua iniquidade.
33 Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade.
34 Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram.
35 Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?):
36 A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim.
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37 Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço.” (Salmo 89.20- 37)
Nesta passagem do Salmo 89, Deus fala profeticamente acerca da aliança que faria com os crentes através de Jesus Cristo.
Note a promessa que é feita especialmente nos versos 28 a 35.
“1 São estas as últimas palavras de Davi: Palavra de Davi, filho de Jessé, palavra do homem que foi exaltado, do ungido do Deus de Jacó, do mavioso salmista de Israel.
2 O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua.
3 Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Aquele que domina com justiça sobre os homens, que domina no temor de Deus,
4 é como a luz da manhã, quando sai o sol, como manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva.
5 Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança?” (II Samuel 23.1-5)
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Estas foram as últimas palavras proferidas por Davi, antes de morrer, e ele foi levado pelo Espírito a falar do caráter da Nova Aliança, que seria feita com Jesus Cristo, que descenderia segundo a carne, da sua casa, da qual se diz no verso 5 que é eterna, e em tudo bem definida e segura, ou seja, ela foi planejada meticulosamente por Deus para dar a segurança da eternidade aos aliançados, a saber, aos crentes que perseveram em Jesus Cristo.
“32 E nós vos anunciamos o evangelho da promessa, feita aos pais,
33 a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos deles, levantando a Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje te gerei.
34 E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos 13.34)
Este é um dos testemunhos confirmatórios do Novo Testamento de que as promessas feitas a Davi, se referiam à aliança que é feita entre Jesus Cristo e os eleitos, e Paulo afirma expressamente no verso 32, que tal promessa foi a promessa do evangelho que Deus fizera aos
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patriarcas de Israel, e neste caso, especificamente a Davi.
Há muitas outras referências na Bíblia a esta aliança, e também especialmente ao modo como Deus a prometeu através de Davi, dAquele que viria a descender dele no futuro, e com o qual o trono de Davi é estabelecido eternamente com todos aqueles que também viverão eternamente, por estarem aliançados ao Rei Justo que reinará com justiça pelos séculos dos séculos.
Veja por exemplo, para finalizar, a repetição da promessa através do profeta Jeremias, cerca de quatrocentos anos depois de Davi.
“14 Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que cumprirei a boa palavra que proferi à casa de Israel e à casa de Judá.
15 Naqueles dias e naquele tempo, farei brotar a Davi um Renovo de justiça; ele executará juízo e justiça na terra.
16 Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; ela será chamada SENHOR, Justiça Nossa.
17 Porque assim diz o SENHOR: Nunca faltará a Davi homem que se assente no trono da casa de Israel;
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18 nem aos sacerdotes levitas faltará homem diante de mim, para que ofereça holocausto, queime oferta de manjares e faça sacrifício todos os dias.
19 Veio a palavra do SENHOR a Jeremias, dizendo:
20 Assim diz o SENHOR: Se puderdes invalidar a minha aliança com o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem noite a seu tempo,
21 poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo, para que não tenha filho que reine no seu trono; como também com os levitas sacerdotes, meus ministros.
22 Como não se pode contar o exército dos céus, nem medir-se a areia do mar, assim tornarei incontável a descendência de Davi, meu servo, e os levitas que ministram diante de mim.” (Jer 33.14-22)
Estas palavras foram proferidas por Jeremias no Espírito, depois de lhe ter sido revelado qual o efeito prático de tal aliança que seria firmada conforme a promessa que Deus havia feito a Davi:
“31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá.
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32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.
33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.” (Jer 31.31-34)
Esta promessa é repetida em várias passagens do Novo Testamento, como por exemplo em Hebreus 8.6-13; 10.15-18.
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A Graça Exige Perseverança
Não devemos desconsiderar o alerta de nosso Senhor Jesus Cristo quanto à necessidade de perseverarmos até o fim com vistas à salvação das nossas almas.
Esta perseverança consiste sobretudo em permanecermos na fé em santidade de vida, em todo o tempo e em qualquer circunstância.
Enquanto estiver ligado a Jesus pela fé, em comunhão com Ele, um crente não pode ser considerado um filho maldito, como no dizer de Pedro referindo-se aos falsos mestres, que haviam abandonado a fé (II Pe 2.14).
Há provisão suficiente no sangue derramado na cruz, para perdoar pecados.
Bem faz todo crente que os confessa e abandona em prol de manter a sua comunhão com Deus e seus irmãos em Cristo.
Não importa o tamanho da ofensa.
A misericórdia de Deus é maior do que o nosso pecado.
Pedro negou Jesus, mas foi restaurado pelo arrependimento.
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Perigosa coisa é no entanto, o amor ao mundo, o fascínio pelas riquezas, a rejeição de uma consciência boa pelo endurecimento produzido pelo pecado, o abandono da comunhão dos santos, a negligência do serviço de Deus, a negação da fé diante das tribulações, pois por tais coisas, pode vir o crente a apostatar da fé.
“19 A todo o que ouve a palavra do reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi semeado no coração; este é o que foi semeado à beira do caminho.
20 E o que foi semeado nos lugares pedregosos, este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria;
21 mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e sobrevindo a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
22 E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera.” (Mt 13.19-22)
“conservando a fé, e uma boa consciência, a qual alguns havendo rejeitado, naufragando no tocante à fé;” (I Tim 1.19)
“1 Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé,
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dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios,
2 pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada,” (I Tim 4.1,2)
“4 Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo,
5 e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro,
6 e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério.
7 Pois a terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção da parte de Deus;
8 mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.” (Hb 6.4-8)
“26 Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados,
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27 mas uma expectação terrível de juízo, e um ardor de fogo que há de devorar os adversários.
28 Havendo alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas ou três testemunhas;
29 de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça?
30 Pois conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo.
31 Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.26-31)
Somos advertidos pelo autor de Hebreus quanto ao perigo da apostasia nesta dispensação da graça, sob o argumento de que se a violação da Antiga Aliança, que foi temporária, trazia severos juízos de Deus sobre os transgressores; de quanto maior juízo não estarão sujeitos os que profanarem o precioso sangue de Jesus, que foi derramado na cruz para instituir esta Nova Aliança, em que se cumpre o propósito eterno de Deus.
O mesmo autor refere-se à terra (homem) que recebe chuvas abundantes (graça), mas em vez
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de produzir bons frutos, produz espinhos e abrolhos.
Como não tem nenhuma serventia para o agricultor, por fim será queimada.
Certamente não está falando de pessoas que esfriaram temporariamente na fé, que se desviaram por certo período, mas que não negaram ao Senhor nos seus corações, posto que estes poderão ser restaurados.
Mas, é muito conveniente que não se brinque com a graça e a liberdade que temos no Senhor, desviando-nos da verdade, por se correr o risco de se apostatar da fé definitivamente, sem que haja cura, como apontado nas situações comentadas nos textos que acabamos de ler.
Qual é o proveito que temos em tentar achar argumentos para afirmar que o ensino da parábola das dez virgens e a dos talentos, não se aplica a crentes?
Tendo em vista que a conclusão aponta para a perdição de alguns dentre os servos de Deus, que haviam recebido azeite para suas lâmpadas, para aguardarem o Noivo, mas permitiram, que este acabasse, antes que Ele voltasse; e outros, que haviam recebido talentos para investir no reino de Deus e no entanto não os aplicaram.
Qual é o proveito de se afirmar a impossibilidade da apostasia de crentes autênticos, em face de se
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julgar que não se perde a salvação, se isto nos conduzir a um viver negligente em relação à vontade de Deus? Vale a pena o risco?
Qual é o prejuízo que se tem em considerar seriamente as muitas advertências bíblicas não apenas relativas à apostasia, mas que apontam para a necessidade de se viver de modo santo e perseverante para se agradar a Deus?
Nenhum. Não é verdade?
Ao contrário, com isto nunca se chegará a se indagar se permanecemos justificados ou não, pois a comunhão do Espírito com o nosso espírito, continuará testificando que somos filhos de Deus (Rom 8.16).
Guardemo-nos, entretanto, da tentação de julgarmos quem tem apostatado ou não da fé, salvo se isto nos for revelado pelo Espírito, em plena convicção, como se dera com Paulo no caso de Himeneu e Alexandre.
Ora, perigosa coisa é julgar a consciência alheia, tendo em vista que não podemos avaliar qual é o trabalho que a graça está realizando em cada um dos seus filhos.
O oleiro trabalha em cada um dos seus vasos.
A nós não foi dada a capacidade de medir a extensão deste trabalho.
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Por isso somos convocados a olhar por nós mesmos e para nós mesmos, quanto a sabermos se estamos ou não firmes na fé.
Uma vez tratado o problema do argueiro do nosso olho, poderemos nos voltar para tratar do cisco dos olhos dos nossos irmãos.
A graça não nos foi outorgada para podermos pecar à vontade e depois irmos para o céu, mas exatamente para destruir o pecado na vida do crente, de modo que possa se apresentar santo e inculpável diante de Deus.
É lastimável vermos o barateamento de tão grande e valiosa bênção.
De constatarmos o tráfico de promessas de paz, prosperidade e segurança, onde ainda prevalece o pecado, por parte de profetas que Deus não enviou.
A pregação que desfigura o caráter santo e justo de Deus, apresentado-o como alguém “bonzinho”, que não se importa muito com os nossos pecados e má conduta, está na verdade, ensinando as pessoas a brincarem com fogo, e não com um fogo qualquer, mas um fogo consumidor. (Hb 10.26-31; Rom 12.28,29)
“7 Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
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8 Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” (Gál 6.7,8)
“25 Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se não escaparam aqueles quando rejeitaram o que sobre a terra os advertia, muito menos escaparemos nós, se nos desviarmos daquele que nos adverte lá dos céus;
26 a voz do qual abalou então a terra; mas agora tem ele prometido, dizendo: Ainda uma vez hei de abalar não só a terra, mas também o céu.
27 Ora, esta palavra-Ainda uma vez-significa a remoção das coisas abaláveis, como coisas criadas, para que permaneçam as coisas inabaláveis.
28 Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e temor;
29 pois o nosso Deus é um fogo consumidor.” (Hb 12.25-29)
Neste particular, mais se exige de nós na presente dispensação da graça, do que dos israelitas nos dias do Antigo Testamento, pois a vida e conduta do crente deve em muito exceder à dos escribas e fariseus.
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Para permanecer em Jesus é necessário praticar a justiça do evangelho. E para tanto é necessário um viver sincero, um coração puro, uma fé não fingida, enfim, uma vida que tem sido de fato dirigida e transformada pelo Espírito.
Os escribas e fariseus, sempre estiveram muito longe deste alvo.
Por isso a justiça do crente que é aprovado por Deus, excede em muito a dos escribas e fariseus.
Jesus foi ungido para anunciar boas novas de salvação e a curar os quebrantados de coração (Is 61.1).
Tem portanto graça para conceder aos humildes de espírito, aos que choram, aos que têm fome e sede de justiça, aos que querem um coração puro e serem promotores da paz.
Estes são purificados e fortalecidos pela graça.
Estes são verdadeiramente bem-aventurados; pois têm construído a casa de suas vidas sobre a rocha.
O crente que tem sido instruído pelo Espírito sabe que foi salvo pela graça e mediante a fé, mas sabe também que precisa meditar na Palavra do Senhor dia e noite, para amar e praticar a sua lei, de forma que seja bem sucedido em tudo o que fizer.
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Como a nossa conduta deve ser regida pela Bíblia, é de suma importância não apenas lê-la, mas interpretá-la de modo correto, para ser aplicada à vida.
Este é um dos principais objetivos deste livro, a saber, auxiliar-nos a entender melhor as Escrituras.
Assim poderemos apresentar-nos a Deus, aprovados, como obreiros que manejam bem a palavra da verdade (II Tim 2.15), como espada, no combate ao inimigo de nossas almas (Ef 6.17).
Deus requer de nós a manutenção inalterada da revelação escrita, especialmente a referente ao evangelho (Gál 1.6-9; Apo 22.18,19), exatamente na forma pela qual nô-la entregou pela mão de homens inspirados pelo Espírito Santo (II Pe 1.21), e que foram por Ele escolhidos para tal propósito, antes mesmo de terem chegado à existência (Jer 1.5; Gál 1.15,16).
Isto não se refere apenas à preservação do texto bíblico, como também à integridade do nosso ensino, que deve ser em conformidade com a exata e total revelação escrita, e não de acordo com os modismos da hora.
Jesus disse aos judeus que eles erravam por não conhecerem as Escrituras e o poder de Deus.
É importante frisar que a maioria deles sabia o Velho Testamento de cór.
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No entanto, não tinham intimidade com o Senhor, e assim, não podiam contar com a assistência do Espírito Santo para discernirem o propósito e o significado da revelação escrita (I Cor 2.10-16), pois fora produzida por revelação e inspiração do Espírito Santo.
Daí a necessidade da instrução e direção do próprio Espírito Santo para se entender e viver a Palavra de Deus.
O apóstolo Paulo referiu-se às Escrituras como sendo o bom depósito da fé (II Tim 1.4) e recomendou aos seus cooperadores na pregação do evangelho, que mantivessem o padrão das sãs palavras (II Tim 1.13).
A própria Bíblia testifica de si mesma, acerca da sua autoridade divina (II Tim 3.16,17), sendo designada por Palavra da verdade (Jo 17.17; Ef 1.13; Col 1.5; II Tim 2.15; Tg 1.18).
Jesus disse que “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35).
Os apóstolos dedicaram-se ao ministério da palavra (At 6.4).
Mas qual palavra?
Não a sua propriamente, mas a do evangelho, revelado por Deus desde os profetas do Velho Testamento (Rom 1.1,2), e consumado na
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manifestação do próprio Jesus, a encarnação da verdade.
Jesus ordenou que vivêssemos e pregássemos o Evangelho.
Fez conosco uma Nova Aliança (Novo Testamento) no Seu sangue (Lc 22.20).
Cabe-nos por conseguinte, distinguir na Bíblia o que pertence à Boa Nova da Salvação, para atendermos ao “Ide” do Senhor, fazendo discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a guardar todas as cousas que Jesus nos tem ordenado, sabendo que Ele está conosco, todos os dias até à consumação do século (Mt 28.19,20).
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Pregar o Evangelho a Toda Criatura
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15)
Esta foi a principal ordem dada por Jesus à Igreja.
Pregar o evangelho, ou seja, anunciar as boas novas da salvação a todas as pessoas do mundo, em todas as épocas, até que Ele venha.
A ordem dada foi bem clara e explícita, pois a palavra evangelho, oriunda do grego, significa literalmente mensagem, anúncio de coisas boas.
Assim, a simples pregação da Lei e das penas da Lei divina, e as ameaças e terrores da Lei para aqueles que não obedecem a Deus, não é ainda a pregação do Evangelho, porque isto, ou seja a condenação do pecador não é nenhuma boa notícia.
Ainda que a Lei do Velho Testamento tenha sido dada à nação de Israel no período da Antiga Aliança, dela se aprende por princípio, que Deus de fato julga e penaliza o pecado, aonde quer que ele se encontre, e assim podemos concluir que haverá de fato um grande juízo final, no qual todos os homens terão que prestar contas ao Senhor.
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Todavia, mesmo sabendo que não pregamos o evangelho, quando pregamos o juízo, e a Lei divina, isto se faz necessário para o trabalho de convencimento do pecado pelo Espírito, para que seja produzido o devido arrependimento para a recepção do evangelho com a sua oferta de salvação por meio da fé em Jesus Cristo.
O evangelho é o único bisturi espiritual que pode extirpar o câncer do pecado.
Não se deve portanto, por uma alegada compaixão, esconder das pessoas que todos são cancerosos espirituais aos olhos de Deus, que por fim lhes conduzirá à morte espiritual eterna, caso não sejam operados pelo bisturi do evangelho e tratados com a quimioterapia do céu.
Ainda que numa comparação grosseira, imaginemos alguém querendo encobrir uma enfermidade física, por temor de que seja um câncer. E nisto poderá ser ajudado por outras pessoas que pensem estarem lhe fazendo um bem escondendo o diagnóstico da citada doença.
Esta pessoa brevemente virá a falecer.
Agora, caso encarasse de frente a sua realidade e se submetesse ao devido tratamento, é bem certo que teria grandes chances de vencer a morte.
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O mesmo se dá com o tratamento do evangelho.
Se o homem, tentar ser compassivo para consigo mesmo, tentando ignorar o câncer do pecado, não poderá ser tratado pela cura que está disponível para ele somente no evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
É preciso reconhecer a nossa doença espiritual do pecado para que possamos procurar o grande médico das almas para sermos curados por Ele.
É por isso que, quando em Lc 2.10, o anjo anunciou aos pastores: "eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo o Senhor.", ficam em destaque pelo menos duas grandes verdades:
1ª - A vinda de Jesus, o Senhor, ao mundo como Salvador é uma boa nova de grande alegria.
Boa nova, boa notícia, é, voltamos a repetir, o significado literal da palavra evangelho no grego.
Uma boa notícia é algo que traz alegria, como destacado pelo anjo em sua anunciação; e no caso, não se trata de uma alegria qualquer que está associada ao evangelho (boa nova), mas uma "grande alegria".
O fato de aqueles que não creem no evangelho, serem condenados eternamente no inferno,
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não é a boa nova do evangelho, que é de grande alegria, mas a triste verdade de que qualquer pessoa, sem Cristo, está morta em seus pecados por causa do pecado original de Adão.
A grande alegria do evangelho é exatamente esta boa notícia de que em Cristo há salvação desta condição de morte espiritual por causa do pecado de Adão.
Assim, a condenação eterna faz parte da verdade da Palavra de Deus quanto ao homem no seu estado pecaminoso, mas não do evangelho, no seu caráter de boa nova relativa ao livramento da referida condição.
2ª - A segunda grande verdade na anunciação do anjo, é que esta boa nova é para todo o povo, isto é, não que todos serão salvos, mas que a salvação em Cristo está sendo oferecida por Deus a todas as pessoas.
O evangelho é para ser anunciado a todos e não para alguns.
Todo aquele que se arrepender dos seus pecados e crer em Cristo será salvo por dar crédito a esta boa nova e recepcioná-la em seu coração como verdade, pedindo a Cristo simplesmente pela fé nEle, que o perdoe dos seus pecados e o salve da condenação eterna.
A condenação eterna é portanto consequente da rejeição desta boa nova, que é a única forma
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do pecador se livrar da perdição eterna e se tornar filho de Deus.
O evangelho deve ser pregado com o foco na missão de Cristo, consoante com este evangelho, que é a de salvar e não de condenar o mundo.
O pecado, as consequências do pecado devem também ser pregados não como parte do evangelho, mas como alerta quanto ao que sucederá àqueles que rejeitarem a salvação que está disponível a todos em Cristo Jesus.
Cristo veio ao mundo para salvar os perdidos, e ele salva de fato a todo e qualquer pecador que se arrepende e crê nEle.
Graças a Deus pelo seu plano de salvação, pois sem que eu nada fizesse herdei de Adão o dom do pecado e da morte, mas também sem nada fazer, recebi pela graça, mediante a fé, como co-herdeiro com Cristo, o dom da santidade, da vida, da justiça.
Realmente é maravilhosa a graça de Jesus que o levou a experimentar o sofrimento, a injúria, a morte, por amor de mim pecador.
Não foi por nenhum pecado nEle mesmo que Ele sofreu e morreu, mas por ter escolhido livremente se identificar com os pecadores, experimentando a morte no lugar deles, a morte que eles mereciam, a morte que era
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deles, para que pudessem ter a dívida dos seus pecados perdoada, e pudessem participar da Sua própria vida divina.
Assim, há pecado no desobediente Adão, mas há justiça no obediente Cristo.
Em Adão há condenação e morte, mas em Cristo há salvação e vida.
Há morte no mundo, por causa de Adão, mas também há opção de vida em Cristo Jesus.
Há juízo para condenação no mundo, por causa de Adão, mas também há graça e livramento da condenação, em Cristo.
Há muito mais suficiência de graça, por ser eterna e rica porque procede de Deus, do que há pecado, porque procede do homem e está limitado ao tempo, e está destinado a ser inteiramente destruído por Deus.
Por isso se diz que onde abundou o pecado, superabundou a graça.
Se recebemos o pecado como um dom de Adão, temos recebido também como um dom de Cristo a Sua justiça, para que não sejamos mais servos do pecado, mas servos da justiça.
Cristo libertou de fato o crente da escravidão do pecado pela sua fé nEle.
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Crer nEle para a salvação é crer que a temos por causa da Sua morte e ressurreição no nosso lugar.
Ele morreu por nós para que pudéssemos morrer para o pecado e para a condenação da lei.
Ele ressuscitou dos mortos para que possamos também ressuscitar dentre os mortos.
Pela fé somos unidos a Ele tanto no que se refere à Sua morte, quanto à Sua ressurreição e vida.
Fomos livrados do pecado para que pudéssemos ser feitos servos de Deus, da justiça de Deus.
Romanos 6.17,20 ensina claramente que o crente já não é mais escravo do pecado, consoante o ensino de Jesus sobre esta verdade em João 8.34-36.
Em razão da libertação da escravidão do pecado para sempre; o crente foi feito também simultaneamente, servo da justiça para sempre, conforme se afirma em Romanos 6.18.
É por isso que agora, tendo sido feito um servo da justiça, que o crente se preocupa permanentemente sobre o modo de vida que agrada a Deus.
Eles sentem as dores e as consequências da quebra da comunhão com Deus quando pecam,
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porque já não são mais escravos do pecado, e sim da justiça.
É por isso que são convocados a servirem agora o seu novo senhor chamado justiça (Romanos 6.19).
O pecado não tem realmente mais domínio absoluto sobre a vida do crente porque ele foi libertado da escravidão ao pecado por Cristo.
O crente não precisa necessariamente ficar sujeito aos comandos do pecado que opera na sua carne ordenando-lhe que desobedeça aos mandamentos de Deus, que se rebele, que minta, furte, cobice, adultere, odeie, não ore, não ame, que se deprima, que fique ressentido, ansioso etc, porque o pecado já não é mais o seu senhor, como era antes de ter sido libertado dele por Cristo.
Pois que morreu também para o pecado quando morreu juntamente com Cristo.
Pela Sua graça é impelido agora a praticar a justiça do Reino de Deus.
A justiça de Cristo que lhe ordena que ore, confie, espere, obedeça, suporte, seja sincero, verdadeiro, honesto, fiel, que ame, seja manso, tenha domínio próprio, descanse em Deus, não fique turbado, ansioso, magoado, ressentido, antes que perdoe, assim como Deus o perdoou em Cristo.
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O crente foi livrado de um cativeiro, para outro cativeiro. Do cativeiro do pecado, para o cativeiro da justiça.
Ser servo da justiça é ser verdadeiramente livre. Porque é nesta condição que pode agora, e poderá perfeitamente no porvir, fazer toda a vontade de Deus.
Fazer esta vontade é ter o poder para fazer aquilo que é bom e aprovado.
É nisto que consiste a verdadeira liberdade.
A de ser e fazer aquilo que foi planejado por Deus para que sejamos e façamos.
Isto é: ser homem, ser filho de Deus, na verdadeira acepção da palavra.
Cristo conquistou esta liberdade para os filhos de Adão caídos e cativos no pecado, pela identificação deles, pela fé, com a Sua morte, ressurreição e vida.
Libertados agora do pecado, são verdadeiramente livres para poderem fazer a vontade de Deus.
Daí se dizer em Romanos 6.14 que: "o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça.".
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Vemos assim quão imperioso e necessário é que cumpramos a ordem de nosso Senhor de pregarmos o evangelho a todos em todo o mundo, porque não há nada mais importante do que isso, que seja digno do interesse e aceitação por todos os homens de boa vontade.
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Uma Nova Esperança para Adúlteros e Ladrões
Qual profeta, no período do Antigo Testamento, poderia ter proferido as seguintes palavras que nosso Senhor Jesus Cristo disse aos religiosos fariseus nos dias do seu ministério terreno:
“Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus.” (Mt 21.31)
Nenhum, e nem mesmo Ele nos dias em que ainda vigorava pela Sua própria determinação e vontade a Antiga Aliança, nos dias do Velho Testamento, porque a própria Lei divina prescrevia a morte dos adúlteros por apedrejamento, e vigorava, também, segundo determinação da Lei de Deus para o seu povo de Israel, o princípio do olho por olho e dente por dente.
Então era assim que funcionava naquele período antigo, antes que nosso Senhor Jesus Cristo viesse e inaugurasse uma Nova Aliança, com a Sua morte na cruz.
O povo que estivesse aliançado com Deus, como era o caso exclusivo da nação de Israel, estaria debaixo dos horrores da Lei, e das suas terríveis sentenças contra os pecados cometidos pelos
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israelitas; embora fossem justas, santas e boas todas as ordenanças da Lei, e as penas que ela prescrevia.
Hoje são os crentes que compõem o povo de Deus, por estarem aliançados com Ele, na Nova Aliança instituída no sangue de Jesus.
É afirmado nas Escrituras que nesta Nova Aliança já não há mais nenhuma condenação para os aliançados, tal como havia na Antiga.
Os transgressores do pacto não são mortos como se dava no antigo, antes, têm os seus pecados perdoados porque Jesus pagou completamente toda a dívida de pecados dos aliançados.
Se na Antiga Aliança, quando o pecado de adultério era descoberto, isto implicava na morte do adúltero, na Nova, é uma grande oportunidade para o arrependimento e se purificar de tal pecado, quando este vem ao conhecimento da sociedade, quer da Igreja, quer fora dela, porque é algo muito profundo e significativo para Deus, perdoar pecados neste novo pacto com Ele por meio de Jesus.
Ele se mostra favorável quando sai desde o profundo do coração do adúltero, através dos seus lábios, uma confissão sincera como a que fizera o publicano: “Sê misericordioso para comigo Deus, porque sou um mísero pecador!”.
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Daí o apóstolo Paulo ter afirmado o que disse em II Cor 3.6-9:
“6 o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.
7 E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que evanescente,
8 como não será de maior glória o ministério do Espírito!
9 Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça.”
Veja quão maravilhoso é constatar que Deus planejou e decidiu dar uma oportunidade a todos os que se arrependerem de seus pecados, na Nova Aliança que fez através do sangue derramado por Jesus na cruz.
Ele não somente tem adiado o juízo final sobre os pecados para um certo Dia ainda futuro, como também tem efetivamente esquecido as faltas e transgressões cometidas no período da dispensação da graça, de todos aqueles que as confessam e abandonam.
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Isto sucede somente por causa de Jesus Cristo e das novas condições para se tratar com os que estão aliançados com Deus, nas bases de uma Nova Aliança.
Por isso também se afirma nas Escrituras que nada poderá separar o aliançado do amor de Deus, que está em Cristo Jesus.
Se não havia na Antiga Aliança uma só promessa de perdão total de pecados, para os aliançados daquele pacto antigo, a principal e melhor promessa da Nova, é justamente este perdão total de pecados.
Deus sempre salvou e salvará somente por graça e mediante a fé, tanto antes da Antiga Aliança, como em sua vigência, e principalmente na presente dispensação da graça, do Espírito, da vida e da justiça, como se afirma no texto de II Cor 3.6-9.
É preciso aprender a interpretar fatos, especialmente aqueles que podem produzir escândalos, segundo a perspectiva de Deus, pois aquilo que para nosso entendimento natural pode ser considerado como trágico ou final, pode ser para o Senhor a oportunidade de conversão, de melhora ou de um novo começo.
Assim, feliz é todo aquele que se envergonha quando é surpreendido na prática de alguma falta grave, como por exemplo, de furto, ou
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adultério, e que se arrependendo, volta-se para Deus à busca de perdão.
Nós encontramos esta perspectiva divina em encarar o pecado, no modo como nosso Senhor Jesus Cristo atuou em relação ao perdão da mulher adúltera citada no oitavo capítulo do evangelho de João.
Aquela mulher certamente se arrependeu, e por isso nosso Senhor agiu de tal forma para com ela.
É daí que podemos entender porque disse aos fariseus porque publicanos e meretrizes precederiam os mesmos quanto a entrarem no reino dos céus.
São suas palavras em Mt 21.31,32:
“31 ... Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus.
32 Porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que publicanos e meretrizes creram. Vós, porém, mesmo vendo isto, não vos arrependestes, afinal, para acreditardes nele.”
Lembro que certa vez, numa cerimônia de casamento, eu citei que os adúlteros que porventura se encontrassem no recinto da cerimônia, poderiam dar graças e glórias a Deus
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por nosso Senhor Jesus Cristo, porque, por meio da fé nEle poderiam viver em fidelidade às suas esposas, conforme é da vontade do Senhor, caso se arrependessem e confiassem em Jesus Cristo.
Feliz foi todo aquele que atendeu a tal convite.
Mesmo aqueles que não se arrependeram na ocasião, e que foram surpreendidos em flagrante adultério posteriormente, fariam bem, em vez de permanecerem na prática do pecado, ou então ficarem gemendo debaixo das acusações da sua própria carne, e do diabo, deveriam voltar-se para Deus, confiando inteiramente na Sua misericórdia, que foi profundamente demonstrada por Jesus morrendo na cruz em nosso lugar, para que pudéssemos ser perdoados e lavados de qualquer tipo de pecado.
Para que possamos nos reconciliar com aqueles com os quais devemos nos reconciliar para um relacionamento feliz e harmonioso, é necessário, antes, estarmos reconciliados com Deus.
Quando o apóstolo Paulo afirmou em II Cor 5.17 que em Cristo, convertidos a Ele, e estando nEle, somos novas criaturas, ele se referiu logo adiante nos versos 18 a 21, que a causa desta nova natureza e condição foi a reconciliação com Deus, como lemos em II Cor 5.18-21:
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“18 Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação,
19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.
20 De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.
21 Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.”
Assim, se o marido necessita se reconciliar à sua esposa, ou vice-versa, estes, devem, antes, serem restaurados na sua reconciliação com o próprio Deus, produzindo frutos dignos de arrependimento, que os conduza a caminharem na luz de Jesus, que é a única forma de terem comunhão, e os seus corações efetivamente reconciliados em amor e respeito mútuos.
Tentar fazer isto, fora de Cristo, será o mesmo que colocar remendos num tecido velho e desgastado.
É preciso fazer tudo novo em Cristo, numa restauração que não consista em colocar-se
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remendos, mas fazer com que todas as coisas sejam renovadas pelo Senhor.
Lembremos que Deus não imputa o pecado onde houver sincero arrependimento por meio da confiança no trabalho da graça de Cristo para transformar todas as disposições do nosso coração em disposições santas e justas.
Para o propósito da reconciliação do pecador ofensor com o ofendido, santo e justo Deus, Jesus se tornou o Mediador, e o nosso Advogado, por ter se oferecido como sacrifício por nós, colocando sobre Ele o pecado de todos nós, para que pela fé nEle e no seu sacrifício em nosso lugar, fôssemos feitos justiça de Deus.
Foi o próprio Senhor Jesus Cristo que apareceu ao apóstolo Paulo no caminho de Damasco, e que lhe revelou a eficácia do Seu poder transformador e habilitador para que Paulo pudesse se tornar a partir de então, amigo de Deus, e o Senhor, seu amigo. E além disso lhe chamou para ser ministro da mesma reconciliação que ele havia experimentado.
Por isso afirma que tinha muita ousadia em anunciar a mensagem de reconciliação do evangelho porque fora comissionado para ser embaixador de Cristo na terra, de modo que era o próprio Deus que exortava através dele a todos em todos os lugares para que atendessem ao
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convite da reconciliação feito pelo Espírito Santo, através de Paulo, aos seus corações.
É importante observar que o apóstolo rogou aos próprios crentes de Corinto que se reconciliassem com Deus.
Já não haviam sido reconciliados por meio da fé em Jesus?
Sim.
Mas se faz necessário que esta posição de reconciliação seja mantida por um viver em retidão, arrependimento e fé.
Daí a exortação do apóstolo feita aos próprios crentes.
Assim, se alguém tem pecado contra Deus e contra o seu próximo, é necessário que lhe estendamos o mesmo convite de reconciliação feito por Paulo.
Afinal, há eficácia no poder do Senhor em restaurar e tornar novas todas as coisas nas vidas daqueles que confessam os seus pecados e que fixam o propósito de Lhe serem agradáveis em tudo.
Mais do que isso, nosso Senhor conquistou para os que estão ligados a Ele, pela fé, uma salvação segura e eterna, que não pode ser perdida.
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Há uma figura maravilhosa no Velho Testamento, dada pelo próprio Deus com o propósito didático de nos ensinar esta verdade, antes que ela se cumprisse em Cristo, a saber, a firmeza, segurança e eternidade que há em nosso Senhor Jesus Cristo e no Seu sangue, que Ele derramou por nós na cruz.
Então vejamos:
Somente ao sumo-sacerdote de Israel, dentre tantos sacerdotes, era permitida a entrada no Santo dos Santos do tabernáculo terreno, uma única vez por ano, e não sem o sangue do sacrifício que deveria ser aspergido sobre a tampa da arca da aliança, para que os pecados do povo de Deus pudessem ser perdoados por mais um ano.
Isto indicava que somente nosso Senhor Jesus Cristo, que é sumo-sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque, não de um tabernáculo terreno, mas do celestial, poderia entrar no Santo dos Santos do céu, para fazer expiação pelo pecado de todo o povo de Deus, de uma vez para sempre, pela oferta não de sangue de animais, mas do Seu próprio sangue que havia derramado na cruz.
Ele entrou além do véu que separa o Lugar Santo, do Santo dos Santos celestial, no qual Deus Pai se encontra juntamente com os querubins, e por isso, estes também estavam
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representados em figura no tabernáculo terreno.
Ali, fixou a esperança da nossa salvação como uma âncora segura e firme, que penetrou além do véu, ou seja, a nossa salvação está ancorada pelo próprio Senhor, no Santo dos Santos celestial, como se afirma em Hb 6.17-20.
Então, o plano de Deus na nossa salvação está firmado na imutabilidade do seu propósito, segundo a Sua promessa feita a Abraão, para que tenhamos forte alento e certeza da segurança eterna que temos em Cristo, conforme se lê também em Hb 6.17-20.
Assim, quando a Bíblia fala em reconciliação por meio de Cristo, está se referindo não a algo passageiro ou que possa ser destruído, mas a algo firme, eterno e seguro.
Estaremos assim, ainda inseguros ou desinteressados em tal reconciliação, que é um assunto de morte ou de vida?
O que escolheremos: a morte espiritual eterna ou a vida eterna que está em Cristo Jesus?
Se quisermos a vida, devemos então ser humildes de espírito e fazer uma confissão sincera dos nossos pecados ao Senhor, com a firme esperança de que seremos ouvidos, lavados e curados.
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Ele provou até que ponto está disposto a nos perdoar ao ter morrido em nosso lugar na cruz do Calvário.
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O Que é a Caducidade da Letra
É por ignorância que muitos crentes incorrem em erro ao afirmarem que toda a Palavra de Deus, conforme registrada na Bíblia, é uma letra caduca, e se valendo da afirmação do apóstolo Paulo na qual diz o seguinte:
“Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)
O que caducou é o que ficou antigo e ultrapassado, e a palavra “letra” deste texto é vertida do original grego grama, do qual vem a nossa palavra gramática, sendo que grama é sempre usado no Novo Testamento com o significado de carta, registro, escrito, letras, e Paulo usava esta palavra com frequência para se referir à Lei cerimonial e civil do Velho Testamento, que constava de várias ordenanças que se cumpriram em Cristo, como por exemplo as leis referentes a coisas limpas e imundas, ao sacrifício de animais, dos dízimos e das ofertas levíticas etc.
Deste modo, não se trata a uma referência aos mandamentos de Cristo do Novo Testamento, nem sequer aos mandamentos morais da Lei de Moisés, ou a tudo o que se pode aprender das
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Escrituras, inclusive da própria Lei cerimonial e civil.
Ao chamar um viver pelos mandamentos externos civis e cerimoniais da Lei de Moisés, de letra que havia caducado, Paulo não pretendia de modo algum, falar contra a Palavra de Deus, mas afirmar a liberdade que os crentes têm na Nova Aliança do cumprimento das prescrições civis e cerimoniais da Lei, como por exemplo a circuncisão do prepúcio e de tantas outras prescrições que foram dadas por Deus a Moisés para serem cumpridas pelos israelitas no período do Velho Testamento.
Por isso, no próprio texto de Rom 7.6 no qual afirma a caducidade da letra, o apóstolo Paulo afirma também a libertação dos crentes das prescrições civis e cerimoniais da Lei de Moisés, por terem morrido com Cristo para tais exigências da Lei, de modo a poderem viver em novidade de espírito, ou seja, na Nova Aliança do Espírito Santo, na qual a Lei de Deus é escrita pelo Espírito em suas mentes e corações.
Nós podemos verificar nos textos citados a seguir que realmente o apóstolo Paulo fazia uso da palavra grega grama, que traduzimos por letra, para se referir à Antiga Aliança da Lei de Moisés, e não ao conjunto das Escrituras reveladas por Deus na Bíblia.
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Assim, ao lermos tais textos, podemos verificar que ao falar em caducidade da letra Paulo não estava dizendo que as Escrituras caducaram, mas que já não vivem os crentes na Nova Aliança, debaixo do jugo da Lei de Moisés, quanto aos muitos mandamentos específicos aos quais os judeus estavam obrigados no período do Antigo Testamento.
Romanos 2:27 “E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei.”
Romanos 2:29 “Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.”
2 Coríntios 3:6 “o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.”
Aqui se diz que a letra mata porque a Antiga Aliança ou mesmo toda a Lei de Moisés não podia gerar vida eterna conforme a Nova Aliança em Cristo Jesus, na qual os crentes são vivificados em espírito pelo Espírito Santo.
2 Coríntios 3:7 “E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não
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poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que evanescente,”
Mais uma vez o apóstolo se refere à Antiga Aliança como sendo ministério da morte, porque por ela não se podia alcançar a vida eterna, senão pelo único caminho estabelecido por Deus para tal, a saber, pela graça, mediante a fé.
2 Timóteo 3:15 “e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.”
Aqui, Paulo chama o conjunto das Escrituras do Velho Testamento, de sagradas letras, ou seja, ele sabia que toda a escritura do Velho Testamento havia sido inspirada por Deus, e não se trata de um texto comum, mas sagrado, e por isso Paulo reconhecia que a Lei é santa, e o mandamento, santo, e justo, e bom, de modo que, tal como ele, não devemos considerar a Palavra de Deus revelada na Bíblia, como algo ultrapassado e que nos mata, em vez de gerar vida.
Lembremos que as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo reveladas na Bíblia são espírito e vida, e não mera letra.
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O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus
O jugo da Lei cerimonial e civil de Moisés (não a moral) era pesado, mas o jugo de Jesus é leve e suave.
O motivo do jugo da lei de Moisés ser pesado residia no fato de que era imposto, como por exemplo a obrigação de ofertas específicas e do dízimo, e o de Jesus é leve e suave, porque o seu caráter é voluntário, porque como se diz em II Cor 9.7: “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”.
Isto porque na Lei da Nova aliança inaugurada com a morte de Jesus, nenhum crente é obrigado a dizimar e a ofertar, tal como na Lei de Moisés.
Mas se diz que Deus o amará se ofertar com alegria (veja, ofertar, e não dizimar), segundo o que tiver proposto voluntariamente em seu coração, e com alegria.
A Lei dos dízimos e das ofertas fazia parte da Lei cerimonial e civil de Moisés, que era aplicada aos israelitas no período do Antigo Testamento, como se vê em Malaquias 4.4:
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“Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos.”
Veja que se afirma que os estatutos e juízos da Lei de Moisés, dos quais faziam parte os dízimos e ofertas obrigatórias, especialmente a de animais para serem sacrificados como cobertura do pecado, eram prescritos para toda a nação de Israel, ou seja, aos descendentes de Jacó, cujo nome o Senhor havia mudado para Israel.
É por isso que os israelitas foram repreendidos por Malaquias nos dias do Velho Testamento, com as seguintes palavras:
“8 Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.
9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.
10 Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida.” (Mal 3.8-10)
Veja que se diz que era a toda a nação de Israel que estava roubando ao Senhor (v. 9), e que os dízimos deveriam ser levados à casa do Tesouro,
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ou seja, ao Templo de Jerusalém, para ser administrado pelos levitas.
Os dízimos eram o único imposto ou taxa nos dias do Velho Testamento, para servir (como serve a coleta de Imposto de Renda e do INSS em nosso país), para atender às necessidades sociais da nação de Israel, especialmente dos levitas e dos pobres, das viúvas e dos órfãos.
O propósito do dízimo não era o de empobrecer ainda mais os pobres, mas o de assisti-los.
Por isso se diz nas páginas do Novo Testamento que o dízimo era um encargo dado aos levitas, para ser recolhido nos dias do Velho Testamento, ou seja, quando vigoravam os mandamentos civis e cerimoniais da Lei de Moisés para a nação de Israel.
“Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm mandamento de recolher, de acordo com a lei, os dízimos do povo, ou seja, dos seus irmãos, embora tenham estes descendido de Abraão;” (Hb 7.5)
Veja que se diz que os levitas, tribo à qual pertenciam os sacerdotes do Velho Testamento, tinham o mandamento de recolher os dízimos de seus irmãos israelitas.
Agora, o que se diz de nosso Senhor Jesus Cristo, como sendo o Sumo Sacerdote da Nova Aliança, ou seja, do Novo Testamento:
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“11 Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico (pois nele baseado o povo recebeu a lei), que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão?”
12 Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei.” (Hb 7.11,12)
Veja que no contexto do ensino do recolhimento dos dízimos pelos levitas, o autor de Hebreus afirma que nosso Senhor mudou a Lei civil e cerimonial de Moisés para o Seu povo da Nova Aliança, ou seja, não apenas os crentes de Israel, mas os de todas as nações.
Esta lei de Cristo, no assunto dos dízimos e ofertas, está baseada em II Cor 9.7, conforme já citamos anteriormente.
Nenhum líder da Igreja do Senhor está portanto, autorizado pela Bíblia, a impor o recolhimento obrigatório de dízimos e ofertas aos crentes.
Muito menos o de fixar um valor fixo de contribuição igual para todos os membros.
Se por consentimento mútuo, para atender a alguma necessidade específica ou determinada pelo Senhor, houver uma disposição de repartir os custos por todos os membros da
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congregação, de forma voluntária e com alegria, isto será abençoado por Deus.
Todavia, a norma bíblica segue sendo a de se contribuir voluntariamente segundo o que tiver proposto em seu coração, ou seja, cada um, contribua com o que quiser, sem olhar para aquilo que os demais estejam ou não contribuindo.
Veja o que o apóstolo disse a Ananias e Safira:
“3 Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?
4 Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.3,4)
O problema com Ananias e sua mulher Safira não foi o de não terem atendido a qualquer ordem no sentido de ofertarem obrigatoriamente, mas de terem tentado enganar a Igreja dizendo que estavam ofertando todo o valor obtido com a venda de um campo que lhes pertencia, quando isto não era verdade.
Pedro disse que caso não tivessem ofertado, e não mentido, nada lhes teria sucedido.
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Fechando este assunto, vejamos os seguintes textos bíblicos, para uma melhor compreensão do que está sendo afirmado.
“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.” (Gál 6.2). A lei de Cristo é enfocada aqui como o novo mandamento dado por Ele de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou. Portanto, sempre ofertaremos para assistir às necessidades daqueles aos quais amamos.
“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?’” (At 15.10)
O apóstolo Pedro se referiu à prescrição do cumprimento dos mandamentos civis e cerimoniais da lei de Moisés aos crentes gentios, como sendo um jugo insuportável, como era de fato, e o qual não era cumprido perfeitamente nem por eles próprios em seus dias, nem por seus antepassados, tão numerosas e pesadas que eram tais prescrições obrigatórias da Lei de Moisés.
“Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve.” (Mt 11.30)
É por isso que há um grande contraste entre o jugo e o fardo de Jesus, e o da Lei de Moisés.
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Nosso Senhor nos libertou do jugo da Lei cerimonial e civil de Moisés, e faremos bem em permanecer nesta liberdade, para que sejamos pessoas verdadeiramente alegres.
“1 Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.
2 Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
3 De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei.
4 De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes.” (Gál 5.1-4)
Veja que o apóstolo Paulo chama no verso primeiro, a Lei de Moisés de jugo de escravidão do qual os crentes foram libertados por Cristo, e ao qual não deveriam mais se submeter, permanecendo firmes na convicção da liberdade que têm por estarem debaixo do jugo da graça, e não do jugo da Lei, como vemos nos textos a seguir:
“Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus.” (Rom 7.4)
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“Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.” (Rom 6.14)
Os que pregam os preceitos da Lei de Moisés na Igreja de Cristo, trazem os crentes debaixo de um jugo pesado de servidão, que não é da vontade de nosso Senhor que seus servos carreguem, porque diz que o Seu jugo é suave e o Seu fardo é leve, como são de fato, porque nos libertou da obrigatoriedade de cumprir todos os mandamentos da Lei de Moisés, exceto os mandamentos morais.
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Fazer a Vontade de Deus é Mais do que Cumprir a Lei Moral
De fato, agradar a Deus pelo cumprimento da Sua vontade, consiste muito mais do que se guardar os mandamentos morais da Lei dada a Moisés.
É óbvio que o cumprimento da Lei cerimonial e civil do Velho Testamento, inclusive a moral, pode ser cumprido pelo homem natural, mas somente o homem espiritual pode andar no Espírito Santo, sendo dirigido por Ele em todo o seu viver.
Por isso se testifica que a Antiga Aliança consistia em mandamentos carnais, porque podiam ser guardados pelo homem natural, e que a Nova Aliança está assentada na vida indissolúvel de Cristo nos crentes, capacitando os crentes a viverem e a andarem no Espírito.
“14 visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo da qual Moisés nada falou acerca de sacerdotes.
15 E ainda muito mais manifesto é isto, se à semelhança de Melquisedeque se levanta outro sacerdote,
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16 que não foi feito conforme a lei de um mandamento carnal, mas segundo o poder duma vida indissolúvel.
17 Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade
19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de Deus.” (Hb 7.14-19)
Assim, o que foi dado por Deus a Israel, para confirmar a Antiga Aliança através de Moisés, foi a Lei escrita em tábuas de pedra.
Foi ordenado aos levitas que ensinassem a Lei a seus irmãos israelitas, para que a guardando, fizessem a vontade de Deus naquele antigo pacto.
Todavia, na Nova Aliança, o que foi dado por Deus aos crentes foi a vida do próprio Cristo, pelo derramar do Espírito Santo em seus corações, e é o próprio Espírito que gera a nova vida nos que se tornam crentes, e é quem imprime a Lei de Deus em suas mentes e corações, ou seja, que faz com que não apenas conheçam, mas que cumpram a vontade de
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Deus, como se afirma no texto de Jeremias 31.31-34.
Jesus tem assim manifestado o Seu poder de Mestre na Nova Aliança, não apenas ensinando a Sua Lei (vontade) aos crentes, como também é um Mestre capacitado a levá-los a cumprir o que lhes ensina.
Vemos que também neste sentido, os crentes não se encontram debaixo da Lei, e sim da Graça.
Eles são gerados filhos de Deus pelo poder que Jesus lhes dá, e isto não pode ser realizado por meio da observância de mandamentos, mesmo os morais da Lei de Moisés.
Por isso se afirma que o fim, ou seja, a finalidade da Lei é Cristo, para a justiça de todo aquele que nEle crê.
A mera sã moralidade, ainda que necessária e boa, não pode de si mesma produzir esta nova vida do céu.
Por isso há uma convocação na Bíblia a que se busque imitar a fé dos bons líderes que demonstraram possuir a vida abundante do céu por causa da fé, pois que se testifica que o justo viverá da fé.
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“7 Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos falaram a palavra de Deus, e, atentando para o êxito da sua carreira, imitai-lhes a fé.
8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.
9 Não vos deixeis levar por doutrinas várias e estranhas; porque bom é que o coração se fortifique com a graça, e não com alimentos, que não trouxeram proveito algum aos que com eles se preocuparam.”(Hb 13.7-9)
A doutrina da Antiga Aliança, baseada na Lei, sendo pregada como meio de salvação, é uma doutrina estranha à do evangelho, porque não põe em realce a graça operante de Jesus para gerar vida nos que prestam culto a Deus, senão apresentar várias prescrições cerimoniais que eram figuras das realidades que se cumprem em Cristo, como a distinção entre alimentos limpos e imundos.
Assim, a Antiga Aliança estava fadada a desaparecer no conselho eterno de Deus, porque não fora instituída para gerar vida nos aliançados, tal como o faz a Nova Aliança em Cristo, e que por isso, é eterna.
A implicação prática desta verdade, deste ensino é que, os que desejam ser salvos por Cristo, devem colocar a Sua confiança completamente nEle próprio, que é o autor e o consumador da fé que produz a salvação.
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É Ele quem batiza com o Espírito Santo e que distribui dons espirituais aos homens.
Por isso, o principal mandamento de Cristo é que creiamos nEle.
Porque, sem ter fé nEle, nada da vida de Deus pode ser obtido por nós.
Intensifiquemos então as nossas orações confiando não no poder da própria oração, mas no próprio Cristo, e no Espírito Santo que intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
Que toda a nossa confiança esteja depositada no Capitão da nossa salvação, e nem sequer nos meios de graça que usamos para adorá-lO e servi-lO, quanto mais em nossas próprias habilidades e capacitações pessoais.
Importa que toda honra e glória seja do Senhor, como se afirma no Salmo 115.
“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade.” (Sl 115.1)
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Como o Crente Está Morto Para a Lei?
Para redimir o homem do pecado, isto é, para livrá-lo do seu poder que conduz à morte, Jesus não removeu a lei, nem a maldição da lei, mas o próprio pecador de debaixo da lei e da sua consequente maldição condenatória, de sorte que os que não têm Jesus, ou que procuram: a) justificar-se pelas obras da lei, permanecendo sob a maldição da lei - serão por ela condenados (Gál 3.10); ou b) vivem sem a lei de Deus - sem lei também serão condenados (Rom 2.12). Esta última condição pode no entanto ser revertida, desde que creiam e sejam salvos.
Dessa forma, o judeu não tem qualquer vantagem sobre o gentio, na presente dispensação, quando se trata de justificação (Rom 3.9).
A lei condena o pecador à morte eterna (separação de Deus), por estar o mesmo debaixo da sua maldição.
A graça faz com que o crente seja considerado já morto para a sentença de morte da Lei para os seus transgressores, por causa da identificação do crente com a morte de Jesus, que é considerada por Deus como sendo a sua própria morte, e desta forma ele é resgatado consequentemente da condenação e da maldição da Lei de Moisés.
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Isto é possível porque não está aliançado nos termos da Antiga Aliança, mas da Nova Aliança, na qual Deus prometeu o perdão completo e total de pecados.
“Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos fruto para Deus.” (Rom 7.4)
“19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus.
20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gál 2.19,20)
“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;
14 para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos pela fé a promessa do Espírito.” (Gál 3.13,14).
Em Rom 7.4 lemos que morremos para a lei, por meio do corpo de Cristo.
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Já comentamos anteriormente, que a nossa fé em Jesus nos tornou participantes da Sua própria morte e vida.
Como Ele não tinha pecado algum, não seria justo que morresse na cruz, porque a consequência do pecado é a morte, mas Ele, como já dissemos, não tinha pecado.
Assim, o Pai lançou sobre Ele o pecado de todos os homens, quando se encontrava na cruz, de modo que todos os que haviam crido em Deus no passado (como o caso de Abraão, Moisés etc), bem como os que viveram com Jesus nos dias do Seu ministério terreno, e também nós, os que temos crido, depois da Sua morte e ressurreição, pudessem ser contados na Sua própria morte e vida, estando assim, consequentemente, mortos para a lei e para o pecado.
Na cruz foram desfeitos os laços que tínhamos com Adão, e ao termos levantado juntamente com o Senhor, em nova vida, através da Sua ressurreição, que nos permitiu participarmos da Sua vida, passamos a pertencer-lhe, por estarmos nEle.
Como Jesus subiu aos céus, não está mais sob qualquer lei terrena, pois Ele viveu sob a lei e morreu sob a lei, mas não ressuscitou sob a lei, pois o que morreu, está morto para a lei.
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Esta condição final é a mesma em que se encontra o crente, por ser participante da morte e ressurreição de Cristo.
Um crente fiel deve obedecer às leis de seu país, desde que estas não sejam contrárias às próprias leis de Deus, pois a justiça demanda que se dê a César o que é de César.
Deve também obedecer e respeitar as convenções sociais para que não se torne motivo de escândalo para o mundo.
Mais que tudo, deve viver debaixo da lei de Cristo, que é a lei do amor.
No entanto, caso venha a transgredir qualquer lei da sociedade em que vive, o que espera-se que não ocorra, e caso isto demande qualquer tipo de punição, nem por isso perderá a sua salvação, caso se arrependa, confesse o pecado e restaure a sua comunhão com Deus, pois, estando em Cristo, não pode mais ser condenado pelo Juiz dos mortos e dos vivos, porque nEle, está morto para o pecado e para a lei.
É por isso que podemos levar a mensagem do evangelho aos que se encontram na prisão, propondo-lhes a salvação pela fé no Salvador.
Ainda que aprisionados em seus corpos físicos, e condenados pela sociedade em que vivem, podem ser perfeitamente justificados e
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santificados em seus espíritos, alcançando a verdadeira liberdade, que os livrará da condenação vindoura.
O ladrão que se converteu na cruz é um bom exemplo disto.
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O Espírito Santo é uma Promessa da Nova Aliança
O derramar do Espírito Santo sobre as nações teve início no dia de Pentecostes, quando os apóstolos e alguns discípulos estavam reunidos em Jerusalém (At 2.1-4;16-18).
Leia Is 32.15; 44.3; Joel 2.28,29.
Se o próprio Jesus viveu sob o poder do Espírito, o que Deus não esperará daqueles que têm se aliançado com Ele através da fé no Seu Filho ?
Jesus esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e sendo achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte de cruz (Fp 2.7,8). Isto significa que viveu de fato como homem, para poder morrer no lugar da humanidade. Em razão do plano de salvação, não poderia ter vivido neste mundo na plenitude da Sua glória divina, e no uso pleno do seu próprio poder, pois importava que vivesse e morresse como homem, em favor do homem. A Bíblia é bastante clara, desde as profecias do Antigo Testamento de que Jesus não faria nada de si mesmo em seu ministério terreno, mas viveria em total obediência ao Pai, na dependência do Espírito Santo. Por isso, Jesus assumiu o título “Filho do homem”.
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Leia Is 42.1; 61.1-3; Mt 12.28; Lc 4.1, 14; At 10.38.
A Nova Aliança consiste então, sobretudo, num viver no poder e instrução do Espírito. É Ele que cumpre o objetivo de Deus em nossas vidas.
A vida que temos em Cristo Jesus é quem nos livra da lei do pecado e da morte. Esta vida é produzida em nós pelo Espírito. Por isso, o apóstolo Paulo se refere à “ lei do Espírito da vida em Cristo Jesus” como a dizer, se o pecado e a morte são uma lei, só há uma lei superior que pode vencê-la, no caso o Espírito Santo, pois somente Ele pode gerar a vida de Jesus em nós, através do novo nascimento, que se segue à morte do velho homem, também por Ele operada, e cuja obra prossegue na santificação através da mortificação das obras da carne para a manifestação do Seu fruto, que é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.
Contra o fruto do Espírito Santo na nossa vida, não há lei (Gál 5.23), pois é por meio de um andar no Espírito que vivemos de modo agradável a Deus.
Por isso, o maior e melhor dom prometido é o próprio Espírito Santo.
Devemos estar sempre lembrados e bem conscientes que é a própria pessoa do Espírito Santo o maior e melhor dom que Deus
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prometeu aos crentes. O outro Consolador que o próprio Jesus prometeu que enviaria à Sua Igreja para que sempre estivesse com ela.
Por isso todo ministério bem esclarecido deve pregar a Cristo, e Cristo crucificado, sem esquecer que Jesus foi exaltado nos céus para que recebêssemos o Espírito Santo prometido. Afinal é Ele quem nos batiza com o Espírito Santo.
Portanto, buscar e submeter-se ao Espírito Santo é a maior maneira de se honrar a Cristo, porque foi para este propósito que Ele morreu por nós, de modo que justificados do pecado pudéssemos receber a habitação e operação do Espírito em nossas vidas.
Aquele que não tem o Espírito Santo não pertence a Cristo, e portanto não é filho de Deus (Rom 8.9).
Deus nos tornou seus filhos e herdeiros pelo cumprimento da promessa de nos dar o Espírito Santo. Promessa esta que foi feita pela primeira vez a Abraão: “
“Ora, a Escritura, prevendo que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou previamente a boa nova a Abraão, dizendo: Em ti serão abençoadas todas as nações.” (Gál 3.8).
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“para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos pela fé a promessa do Espírito.” (Gál 3.14).
A bênção prometida a Abraão em Jesus Cristo é a promessa do derramamento do Espírito Santo em todas as nações, porque é por este meio que Deus se provê de filhos em todas as gerações.
Como a promessa do Espírito foi feita a Abraão, de que Ele seria derramado em todas as nações da terra, naqueles que estão no descendente de Abraão que é Cristo, daí ser dito que Abraão é o pai dos crentes:
“Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.” (Rom 4.16).
É dito que Abraão é o pai da Igreja não somente por causa da fé justificadora que habitou nele e que tem habitado em todos os crentes, mas também para que imitemos o seu exemplo de vida obediente a Deus.
Ele foi um peregrino neste mundo, e assim deve ser a Igreja. Mas sendo peregrinos para o cumprimento da missão que recebemos da parte de Deus, de pregarmos o evangelho em todo o mundo.
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Esta missão teve os seus alicerces fundados na mais remota antiguidade, antes mesmo que a Lei fosse dada a Moisés, porque foi a Abraão, aquele que é chamado de pai dos crentes, que Deus revelou e fez a promessa da Nova Aliança em Jesus Cristo, pelo derramar do Espírito Santo em todas as nações.
Sabendo que este pacto foi firmado há tanto tempo atrás, demonstrando o firme interesse de Deus em abençoar pessoas pelo derramar do Espírito, isto não nos incentiva a consagrar nossas vidas inteiramente ao serviço do evangelho?
Pois é assim fazendo que muitos receberão o Espírito Santo e serão batizados no Espírito com poder, para que possam trazer também muitos outros a experimentarem a Sua santa Presença, de maneira que habite para sempre em seus corações, manifestando os Seus dons espirituais e fruto, para a exclusiva glória de Deus.
O autor de Hebreus exorta os crentes à plena diligência para que sejam imitadores daqueles que pela fé e pela paciência herdam as promessas (Hb 6.11,12), porque nos importa entrar no reino dos céus por meio de muitas tribulações, tal como nosso Pai Abraão foi afligido em suas peregrinações para nos servir de exemplo.
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Contudo, em nossas aflições devemos lembrar que é mais do que certa a recompensa porque quando Deus fez a promessa a Abraão de fazê-lo o pai de numerosas nações e de abençoar todas as nações da terra no seu descendente, que é Cristo, para que tivéssemos plena certeza da Sua fidelidade em cumprir o que estava prometendo, Ele também jurou por Si mesmo, de maneira que tivéssemos a garantia por meio de duas coisas imutáveis, a primeira a própria promessa de um Deus fiel, e a segunda, o juramento que confirmou a promessa.
“13 Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo,
14 dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei.”(Hb 6.13,14).
“17 assim que, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento;
18 para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar mão da esperança proposta;” (Hb 6.17,18).
Deus caminhou com Abraão consolando-o em suas peregrinações, e o Espírito Santo foi dado à Igreja para consolá-la na sua jornada neste
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mundo, enquanto cumpre a Sua missão, que lhe foi designada pelo Senhor, tal como Abraão cumpriu a sua no passado, de maneira que a partir dele pudesse formar um povo que guardasse os mandamentos de Deus, povo este, através do qual o Messias viria a se revelar ao mundo, para que se cumprisse a promessa de que Abraão viesse a ser o pai de numerosas nações por meio do seu descendente, que é Cristo (Gál 3.16).
A dispensação do Espírito é a melhor dispensação e o período mais luminoso da história do mundo.
Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo pecado dos escribas e fariseus que não reconheceram o ministério do Messias e O rejeitaram, porque é possível estar totalmente alheio ao fato de que há um ministério do Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes ocorrido em Jerusalém, neste período que chamamos de dispensação da graça, que podemos também chamar de dispensação do Espírito Santo.
É de suma importância portanto, que nos inteiremos de tudo o que se refira à Pessoa e obra do Espírito, tanto na história da Igreja como também e principalmente em nossos próprios dias, de maneira que nos empenhemos e sejamos achados como Seus cooperadores no trabalho que Ele está realizando no mundo.
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Foi o espírito de indiferença manifestado entre cristãos professos ao trabalho e ministério do Espírito Santo nesta Sua dispensação, que entristeceu e moveu a alma reta de John Owen; este grande e instruído homem de Deus que foi usado por Ele para escrever um grandioso discurso sobre a Pessoa e as operações do Espírito Santo, trabalho este que deu à Igreja um grande e novo senso da sua responsabilidade como também o privilégio dela com respeito a este assunto importante, de maneira que isto veio a contribuir para o advento de vários avivamentos do Espírito em dias posteriores aos de Owen.
Os pastores John Fletcher, Horatius Bonar, e outros, afirmaram que limitar e desconsiderar o ministério do Espírito Santo é o maior pecado da Igreja neste últimos dias, como foi o dos judeus menosprezando o ministério terreno de Jesus Cristo.
Descrevendo os efeitos do derramar da chuva abundante do Espírito na experiência pessoal de verdadeiros crentes, Spurgeon disse o seguinte: “é muito comum para a vida da graça que a alma receba depois de alguns anos uma segunda visitação muito notável do Espírito Santo que pode ser comparada à chuva posterior (serôdia). A chuva posterior era enviada para engordar a espiga e torná-la cheia e madura, pronta para ser colhida. Meu desejo é que todos vocês, meus amados, que foram molhados pela chuva
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anterior, possam também ser molhados com a chuva posterior que fará com que sejam mais do que cristãos comuns.”.
John Fletcher, enquanto falava da profecia de Joel, disse: “Uma promessa importante à qual nosso Deus deu cumprimento no dia de Pentecostes, quando Ele enviou uma chuva gloriosa no seu pequeno vinhedo, como um penhor dos rios poderosos de justiça que cobrirão a terra como as águas cobrem o mar.”
Assim, que nenhum crente que esteja empenhado em orar pelo derramar de um grande avivamento, desconsidere a importância de se empenhar na busca do poder do Espírito, pedindo a Deus que remova o véu e ilumine a visão de tal forma que possam descobrir não somente a sua própria necessidade, mas para que possam ter visões infinitamente mais amplas da abundância indizível contida na promessa que satisfaz aquela necessidade.
Para este propósito devem lembrar que Deus tem unido inseparavelmente os ministérios da pregação, da oração e do louvor. Especialmente os dois primeiros. Por isso os apóstolos tomaram a firme resolução de se dedicarem com exclusividade aos ministérios da pregação e da oração.
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A Igreja Primitiva pregava a Palavra em todos os lugares, mas a Palavra sempre foi precedida e acompanhada pelo ministério de oração e intercessão.
É importante que nos lembremos que a ministração do Espírito Santo está muito ligada ao ministério da Palavra.
Por isso há frequentemente uma grande falta da presença do Espírito e de poder, nos cultos onde há uma falta da Palavra pregada.
Este poder espiritual não depende da quantidade de citações bíblicas.
A grande coisa é obter a nossa mensagem de Deus e procurar saber tudo o que é dito pelo Espírito sobre a palavra selecionada, de maneira a obter um conhecimento completo sobre aquilo que pregaremos, de modo que tenhamos a mente do Espírito, e não propriamente a nossa, sendo expressada na pregação.
Devemos pedir ao Espírito que nos revele o que devemos dizer em relação à palavra que nos foi dada, e que nos conceda uma língua de fogo para proclamá-la.
Estejamos convictos que o ministério do Espírito é de grande glória, muito maior do que a que havia na antiga dispensação, porque o nome de Jesus será sempre glorificado pelo Espírito Santo.
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Assim, onde houver um verdadeiro trabalho do Espírito nesta Sua dispensação, sempre haverá também a manifestação da glória de Deus.
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A Antiga Aliança Era Figura da Nova
As figuras do Antigo Testamento (sacrifícios de animais, móveis e utensílios sagrados do tabernáculo e do templo etc) tiveram cabal cumprimento em Jesus.
O ofício profético de Moisés e a sua obra de libertador e legislador de Israel é tipo da obra de Jesus.
O sacerdócio de Arão é tipo do de Jesus.
O reinado de Davi é tipo do Seu reinado eterno.
Muito do Velho Testamento é figura da Sua pessoa e obra.
Podemos dizer que temos, a rigor, no velho, a promessa, e no novo, o cumprimento, a realização. Daí ter o Senhor afirmado que não veio revogar a lei e os profetas, mas cumprir.
O fato de ser figura, não significa que a ministração sacerdotal do Antigo Testamento não tenha importância para a igreja.
Ao contrário. Já que por tais figuras podemos aprender acerca de muitos detalhes do que se cumpriu em Jesus e sua obra em nosso favor.
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Por exemplo, quando estudamos os tipos de sacrifícios em Levítico (expiação – oferta pelo pecado; consagração – holocausto; comunhão – oferta pacífica), podemos entender melhor a abrangência do sacrifício de Jesus.
O autor de Hebreus afirmou que a lei tem a sombra dos bens vindouros.
No caso, o uso da palavra lei se refere ao Antigo Pacto propriamente dito, que foi estabelecido com a nação de Israel, para ser a figura da Nova Aliança, isto é, do pacto que Deus faria com as pessoas de todas as nações, por meio de Jesus. Como figura, o primeiro seria removido, para dar lugar ao segundo e último, cuja validade é eterna.
“4 Ora, se ele estivesse na terra, nem seria sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a lei,
5 os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais, como Moisés foi divinamente avisado, quando estava para construir o tabernáculo; porque lhe foi dito: Olha, faze conforme o modelo que no monte se te mostrou.” (Hb 8.4,5)
“23 Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão no céu fossem purificadas com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes.
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24 Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus;” (Hb 9.23,24)
“Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, não pode nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem de ano em ano, aperfeiçoar os que se chegam a Deus.” (Hb10.1)
Mas, nem tudo no Velho Testamento é figura.
Muitos dos mandamentos morais da Antiga Aliança permanecem em vigor (honrar os pais, amar ao próximo como a si mesmo, não proferir o nome de Deus em vão, não cultuar outros deuses, não invocar mortos etc).
Outros sofreram ajustes por Jesus (quanto ao adultério (Mt 5.27-32), aos juramentos (Mt 5.33-37), ao homicídio (Mt 5.21-26), à vingança (Mt 5.38-42) etc.
Nosso amor ao Senhor se expressa, conforme Ele próprio definiu, como obediência aos Seus mandamentos (Jo 14.21-24).
Dentre estes, contam-se também os registrados no Velho Testamento (note-se bem: os que possam ser aplicáveis à igreja), uma vez que o Deus do Velho é o mesmo Deus do Novo Testamento.
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A Finalidade da Lei
Israel, como nação, não chegou a entender que Jesus é a nossa justiça, pois buscava a justiça que era segundo as obras da lei, e não segundo a fé. Não chegou a entender a finalidade da lei, de lhe conduzir a Cristo. E tropeçou portanto, na pedra de tropeço.
A lei fora dada para convencer o homem da impossibilidade de se obter a justificação a não ser pela graça de Deus.
Isto estava tipificado principalmente nos sacrifícios de animais que faziam parte do culto da Antiga Aliança.
Apontavam para uma vítima vicária, sem defeito, que pudesse levar sobre si os nossos pecados.
E o que fez Israel?
Tomou a figura como sendo a realidade para a qual ela apontava: o sacrifício de Jesus na cruz em favor dos pecadores.
A lei não é graça.
Ela não realiza a salvação de Deus.
Antes, condena o pecador.
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Por isso Paulo chamou a Antiga Aliança de ministério da condenação (II Cor 3.9).
Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado, ela acaba por se tornar a força do pecado (I Cor 15.56), pois o coloca em realce (Rom 3.19,20; 5.20; 7.5; Gál 3.19), ajudando a Deus no Seu propósito de convencer-nos da necessidade de confiarmos inteiramente na Sua graça para que Jesus possa realizar a sua obra de salvação em nosso favor.
Como a lei, de si mesma, não pode gerar a vida eterna, e também exigia que certas tipos de transgressões fossem punidos com a morte física, Paulo a chamou de ministério da morte (I Cor 3.7).
Por isso, ninguém pode ser justificado por meio da lei (II Cor 3.6-9; Rom 3.19,20; 4.1-11; Hb 8.6,7; 10.4,11; At 13.38,39; Gál 2.16; 3.1-5,10-12,21), pois a lei é espiritual e santa, e o homem é carnal.
Apesar de não estarem em vigor as disposições relativas e exclusivas ao Antigo Pacto, nem por isso é do propósito de Deus que seja alterado um só jota ou til das Escrituras do Antigo Testamento, até que tudo se cumpra, pois serve para a instrução da igreja, de modo que aprenda acerca dos Seus atributos e caráter.
“6 Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.
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7 Não vos torneis, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar.
8 Nem nos prostituamos, como alguns deles fizeram; e caíram num só dia vinte e três mil.
9 E não tentemos o Senhor, como alguns deles o tentaram, e pereceram pelas serpentes.
10 E não murmureis, como alguns deles murmuraram, e pereceram pelo destruidor.
11 Ora, tudo isto lhes acontecia como exemplo, e foi escrito para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos.” (I Cor 10.6-11)
Havia, nos dias de Moisés e Josué, muitas dificuldades no deserto, e a murmuração era uma grande tentação para a carne.
A escassez de água e comida levou muitos israelitas a murmurarem.
A fé deles na providência de Deus estava sendo sempre colocada à prova.
O Senhor nunca lhes faltou com a sua fidelidade: deu-lhes o maná, água da rocha, tornou as águas amargas de Mara em água potável, mas mesmo assim eles murmuraram, e muitos deles foram destruídos.
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Em dias de grandes dificuldades como os nossos a murmuração tem se apresentado como o pecado da hora.
Murmuramos contra as autoridades, contra o pastor da igreja, os diáconos, os irmãos em Cristo, contra o vizinho, contra o cônjuge, contra os filhos.
Murmuramos também pela falta de coisas que julgamos essenciais. E esta é uma grande tentação, pois vivemos numa época de muitos serviços e produtos. Temos todo um aparato tecnológico a nosso dispor, mas não temos os recursos suficientes para obter tudo o que nos é oferecido pela propaganda.
Então, qual é o resultado esperado para quem vive na carne? Murmuração.
A murmuração gera amargura, e esta gera a ansiedade, e a ansiedade anula a fé, e sem fé é impossível agradar a Deus, pois é por meio dela que temos ativada a nossa comunhão com Cristo. E fora de Cristo estamos mortos espiritualmente.
Paulo afirma que os que foram destruídos nos dias do Velho Testamento, quando vigorava a Antiga Aliança, o foram para nossa advertência, quanto ao fato de que a murmuração mata, pois põe fim à nossa comunhão com Deus.
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A melhor coisa a fazer, se alguém se encontra neste laço, e não estava consciente disto, é confessar ao Senhor uma a uma as suas queixas, e pedir-lhe perdão, recorrendo à Sua misericórdia.
É certo que com isso, a paz retornará, e a pressão da adversidade cessará sobre a sua alma.
É curioso que não há na lei de Moisés um só mandamento que proíba a murmuração, e isto é muito importante para que consideremos até que ponto é um modo sábio de vida o legalismo, uma vez que o Senhor julga toda a vida, ele contempla a condição do nosso coração.
Viver insatisfeito, sem dar graças por tudo, ou seja: com gratidão em nossos corações, ofende a pessoa de Deus, pois Ele tem sido um Pai zeloso, que cuida das nossas necessidades.
Por isso não teve Israel como inocente, e não deixou de visitar o seu pecado, e mandou Moisés registrar os incidentes que O levou a puni-los para nossa advertência, como que a nos dizer que também não nos deixará impunes nesta questão.
“18 Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (I Tes 5.18)
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Um outro pecado citado por Paulo no texto de I Cor 10.6-11, e que dispensa maiores comentários, é o pecado da imoralidade, que trouxe a morte sobre vinte e três mil israelitas num só dia.
Por aí dá para ver o quanto a imoralidade desagrada ao Senhor.
Especialmente os que vivem no mundo Ocidental devem ter muito cuidado em relação a isto porque nossa cultura tem incentivado crescentemente, a prática da imoralidade.
“15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros de Cristo, e os farei membros de uma meretriz? De modo nenhum.
16 Ou não sabeis que o que se une à meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne.
17 Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito com ele.
18 Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.
19 Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?
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20 Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.” (I Cor 6.18-20)
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Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei
As prescrições civis e cerimoniais da Antiga Aliança foram chamadas de jugo pesado e de escravidão, tanto pelo apóstolo Pedro (At 15.8-10), quanto pelo apóstolo Paulo (Gál 5.1-4).
Não no sentido de que fossem uma coisa ruim, pecaminosa, pois no dizer de ambos, a lei é santa boa e perfeita, mas algo demasiadamente trabalhoso para ser cumprido (distinção entre coisas limpas e imundas – animais, alimentos; lavagens cerimoniais; diversos tipos de sacrifícios de animais e outros tipos de ofertas; circuncisão; festas religiosas; etc), que havia vigorado até que Cristo viesse.
Desde a morte e ressurreição de Jesus, nem os gentios, nem os próprios judeus, estão mais obrigados a carregar tal jugo.
Ao se referir à separação do cristianismo do judaísmo, por se tratarem de alianças amplamente distintas, Paulo disse aos gálatas que foi “para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gál 5.1).
Antes de tudo, libertou tanto os crentes quanto as igrejas, na Nova Aliança, de um sistema religioso repleto de rituais e cerimônias, como era o caso da Antiga Aliança.
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Havia necessidade de uma determinação legal de cobrança de dízimos e ofertas, especialmente para a administração dos serviços do templo, e pagamento e sustento de levitas e sacerdotes.
No entanto, isto, sabidamente, em nada contribuiria para a santificação dos levitas e sacerdotes, em razão da fraqueza da natureza humana (carne), e foi principalmente por este motivo que havia tanta corrupção no ofício dos levitas e dos sacerdotes.
Nenhum sistema religioso, por mais exigente que seja, não pode, de modo nenhum, promover a santidade de coração dos que se congregam de tal forma institucional.
É preciso uma aliança não meramente administrativa, mas sobretudo do trabalho do Espírito Santo nos corações, conduzindo os fiéis a uma verdadeira santidade e comunhão com Deus.
Foi por isso que a opção dos gálatas pelo judaísmo, com sua pregação da necessidade da circuncisão para a salvação, bem como a negação da necessidade da fé em Cristo, para obtenção da justificação pelas obras da lei (Gál 2.16; 3.1-5), levou Paulo a chamá-los de insensatos, pois estavam aceitando que o evangelho fosse pervertido (Gál 1.6,7).
Ainda hoje, quando alguém oculta o caráter da obra que Jesus realizou em favor do pecador, e a
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necessidade da novidade de vida em que devem andar todos quantos foram regenerados (que nasceram de novo), faz por merecer a mesma imprecação proferida aos que induziam os gálatas ao erro: “seja anátema”. (Gál 1.9)
O argumento dos judaizantes, provavelmente, se firmava no fato de ter o próprio Jesus vivido sob a lei de Moisés, cumprindo-a integralmente, e que com isso, estaria dando um exemplo para ser seguido pela igreja.
Mas, quanto a isto, devem ser considerados pelo menos os dois aspectos a seguir:
1º - Jesus deveria cumprir a lei com vistas à nossa justificação (Mt 5.17), porquanto era necessário que em tudo fosse obediente ao Pai, inclusive no tocante ao cumprimento da lei, para que a sua própria justiça pudesse ser imputada aos que nEle cressem (Rom 5.19), por ter morrido sob a lei no nosso lugar.
2º - A Nova Aliança só seria inaugurada após a morte de Jesus, posto ter sido estabelecida com base no seu sangue, que seria derramado na cruz, e até aquele momento, Jesus, como qualquer outro judeu, estava obrigado ao cumprimento de toda a lei (Lc 22.20; Hb 9.11-18).
“Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós. (Lc 22.20)
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Quando o apóstolo João disse que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por meio de Jesus (Jo 1.17), estava se referindo à Antiga e à Nova Aliança.
É fora de qualquer dúvida que aludia a coisas distintas entre si.
E ainda que tal distinção, não configure o que é fundamental em termos de contraste, podemos citar que a Nova Aliança não possui uma prescrição variada de rituais e de regulamentos cerimoniais, como a Antiga Aliança possuía, e conforme está registrado nas páginas do Velho Testamento.
A Nova Aliança apresenta apenas dois cerimoniais (ceia e batismo), e nem alude sequer quanto à forma de se realizar a ministração de ambos.
Não poderíamos fechar esta seção do presente livro sem fazer menção aos capítulos 4 e 5 de Gálatas, nos quais Paulo faz uma comparação entre a Antiga e Nova Aliança, notadamente neste aspecto de que a Antiga representava servidão ao jugo da Lei, e a Nova, liberdade em Cristo.
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Breve Comentário de Gálatas 4
Os falsos apóstolos que haviam fascinado os gálatas transitavam como mestres da Lei, pessoas entendidas nos assuntos relativos ao Deus que havia se revelado a Israel, e agindo falsamente em nome dos apóstolos que estavam em Jerusalém, sem estarem autorizados por eles, ou mesmo que isto fosse do seu conhecimento, afirmavam que estavam defendendo em nome deles a Lei de Moisés que Paulo estava desprezando.
Veja a sutiliza dos argumentos do diabo. Paulo não estava falando contra a Lei, mas apenas dizendo que ela havia sido dada para propósitos completamente diferentes do relativo à justificação dos pecadores, ainda que contribuísse até mesmo para este propósito conduzindo os pecadores a Cristo, por convencê-los acerca do pecado e da santidade que é devida a Deus.
Mas como Paulo havia demonstrado claramente que a Lei era apenas um servo de um propósito muito maior, a saber, conduzir os pecadores a Cristo, então os falsos mestres estavam se jactando de um conhecimento sem entendimento, porque não conseguiam discernir o plano de salvação de Deus e mesmo qual foi o Seu propósito quando estabeleceu a Antiga Aliança.
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Eles haviam tropeçado na Rocha de escândalo (Rom 9.33; I Pe 2.8) porque a confiança deles estava na sua mera religiosidade e não propriamente em Deus e na Sua vontade, tanto que eles haviam rejeitado a Cristo, e a promessa que foi feita a Abraão, por causa do seu orgulho nacional que os levava a crer que eram superiores a todos os homens e que o mero ritualismo da lei que eles seguiam e que haviam adulterado de várias maneiras era o padrão a ser seguido para se agradar a Deus.
Quanta ilusão e engano havia da parte deles!
Eram na verdade guias cegos, nuvens sem água, mestres sequer da Lei que eles fartamente transgrediam, mas mesmo assim, eles se consideravam a luz e a esperança dos gentios, e não nosso Senhor Jesus Cristo.
As palavras que Paulo usou em Romanos 2 e 3, para se referir a estes judeus bem definem os sentimentos e pensamentos deles a que nos referimos.
“Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.” (Rom 2.29).
“29 É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente,
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30 Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão.
31 Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei.” (Rom 3.29-31).
À luz destes ensinos nós podemos ver quão iludidos estavam os judaizantes por se considerarem os depositários de uma revelação melhor (a da Lei), que a do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Porque dá-se exatamente o oposto, conforme Paulo estava demonstrando na sua argumentação junto aos gálatas.
O Israel de Deus era menino debaixo da Antiga Aliança, mas debaixo da Nova o Israel de Deus, que é o Seu povo remido, chegou à maturidade espiritual, porque lhes foi revelado claramente todo o conselho de Deus relativo à salvação dos pecadores. E a Sua graça tem sido derramada abundantemente nesta nova dispensação.
Além disso estava determinado por Deus que a Antigo Aliança seria transitória, como de fato foi, e a Nova é eterna (II Cor 3).
Mas o orgulho nacional do judeu não lhe permitia enxergar isto.
Como poderia um pagão, ainda que se convertesse a Cristo, pensar que poderia ser
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superior aos judeus, que eram descendentes de Abraão?
Como poderiam saber mais acerca de Deus se foi ao povo de Israel que Deus revelou a Sua Palavra?
Deste modo, os falsos apóstolos judeus estavam impressionando os gálatas com estes argumentos.
E foram tão convincentes nisto que eles se voltaram da graça para a Lei de Moisés, para tentar fazer inultimente dela o meio da sua salvação.
Por isso Paulo disse aos gálatas que eles não deveriam esquecer que Jesus também era judeu e que havia nascido sob a Lei, e que se fez homem, sendo gerado no ventre de uma mulher, exatamente para o propósito de cumprir perfeitamente a Lei que nós não podemos guardar de tal forma perfeita, para que pudesse remir aqueles que cressem no Seu nome.
O ato de remissão é um ato de compra de liberdade, de resgate de uma propriedade que estava hipotecada.
Somente Jesus obteve méritos suficientes diante de Deus e era rico o suficiente para poder pagar tão alto preço que nenhuma riqueza deste mundo ou do universo poderia pagar, e nem
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todos os anjos que se encontram sem pecado no céu.
Somente Ele poderia morrer por todos os homens, porque o Salvador deles não somente deveria expiar a culpa deles, como também ser o Cabeça destes remidos sustentando-os em santificação pela própria força do Seu poder.
Quem dentre os homens e os anjos seria suficiente para isto?
O Salvador dos eleitos deveria ter riquezas e poder suficientes para tornar a todos eles herdeiros de Deus, e para poder também batizá-los com o Espírito Santo prometido.
Ora, sabemos que o Espírito Santo é a terceira pessoa da trindade, assim, Ele é também divino, e qual dos anjos é superior ao Espírito de maneira que pudesse ter a presunção de tê-lo debaixo da missão de honrá-los e de falar somente aquilo que recebesse deles, assim como faz em relação a Cristo?
Nós vemos então que ninguém mais poderia ter morrido no lugar dos pecadores senão nosso Senhor Jesus Cristo, porque até mesmo na trindade estão claramente definidas as funções tanto do Pai, quanto do Filho, quanto do Espírito.
Então temos diante de nós um plano de salvação perfeitamente ordenado e planejado, e os judeus estavam desconsiderando inteiramente
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este plano de Deus, para afirmarem aquilo que julgavam ser tal plano pela exclusiva imaginação deles.
Não admira que sejam chamados de guias cegos pelo Senhor.
Por conseguinte Jesus nos resgatou até mesmo da Antiga Aliança, porque caso Ele não viesse para revogá-la, os judeus permaneceriam ainda debaixo dela, e os gentios de todas as nações, permaneceriam também nas densas trevas da ignorância, e sem Deus no mundo.
E todos os que são resgatados pela fé, não o são para uma relação de servidão à Lei como a maioria dos judeus na Antiga Aliança, porque não conheciam de fato ao Senhor apesar de fazer parte do povo da Aliança, mas para uma relação filial, porque em Cristo todos os crentes são filhos de Deus, o que se comprova pelo fato do Espírito Santo, que move os seus corações e lábios a chamar a Deus de Pai, e tendo a convicção firme e espiritual que é de fato o Pai deles, porque testifica juntamente com os seus espíritos que todos os que foram remidos em Cristo são verdadeiros filhos de Deus.
Santo Agostinho disse que todo homem tem certeza da sua fé, se ele tiver fé.
E assim se dá com os crentes, eles têm certeza da sua filiação, se são de fato nascidos de novo
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pelo Espírito sendo filhos de Deus de fato e de direito, conforme os méritos de Cristo.
De modo que dizemos que são filhos não por merecimento, mas por direito, porque Jesus comprou tal direito na cruz não com os mérito dos crentes, mas com os Seus próprios méritos.
Paulo chama a Lei cerimonial e civil do Antigo Testamento, e a própria Antiga Aliança de rudimentos fracos que os gálatas queriam servir.
Eles eram pagãos antes de terem vindo a Cristo, isto é, não tinham nenhum conhecimento sobre a vontade revelada de Deus nas Escrituras, e não eram contados em suas nações com o povo de Israel, que era a única nação com a qual Deus estava aliançado no Velho Testamento.
Não que Ele esteja agora propriamente aliançado com todas as nações da terra, mas na dispensação da Lei nenhuma outra nação se encontrava debaixo do regime teocrático, senão Israel, de modo, que naquele tempo todas as demais nações eram consideradas pagãs.
Cada uma destas nações serviam aos seus falsos deuses, até que Cristo veio, e muitos destes pagãos se converteram ao Deus vivo e verdadeiro, como foi o caso dos gálatas, de maneira que deixaram os falsos deuses deles para servirem unicamente ao Senhor que eles
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passaram a conhecer pessoalmente pela revelação do Espírito Santo em seus corações.
Mas ainda que alguns deles ou a maioria deles, apesar desta experiência pessoal com Deus, não O conhecessem da maneira pela qual convém ser conhecido através de um amadurecimento espiritual em santificação que nos habilita a conhecer melhor qual é o Seu caráter e a Sua vontade, no entanto todos os filhos de Deus, sem uma única exceção, são perfeitamente conhecidos por Ele (II Tim 2.19).
Por isso, no ato de se voltarem para os rudimentos fracos da Antiga Aliança, tendo uma vez sido revogados por Cristo, eles eram mais indesculpáveis do que os próprios judeus, porque, afinal, não haviam sido educados nos costumes deles.
Eles serviam a ídolos, e conheceram a santidade do Senhor pelo Espírito e pela palavra do Evangelho, e agora estavam deixando uma adoração espiritual, na liberdade do Espírito, por uma adoração cerimonial que se baseava em guardar dias, meses, épocas e anos sagrados.
É provável que estivessem guardando as festas dos tabernáculos, o sábado sagrado com todas as suas prescrições cerimoniais previstas na Lei de Moisés, e todas as demais festas e celebrações judaicas, pensando que a salvação de suas almas dependia disso.
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Há movimentos denominados de congressos de santidade em nossos dias que estão afirmando a necessidade do cumprimento destas prescrições cerimoniais da Lei de Moisés para que os crentes possam ser santificados.
Eles incorrem no mesmo erro dos judaizantes fascinando o povo de Deus tanto quanto os judaizantes haviam fascinado os gálatas, com práticas errôneas de adoração na presente dispensação, porque tudo isto é uma afronta à graça de Cristo, e ao seu trabalho de Redentor que nos livrou para sempre do jugo da Lei, para que nos regozijássemos na liberdade que conquistou para nós com tão alto preço.
Os judaizantes erravam por afirmar a guarda da Lei cerimonial para a justificação e estes modernizantes erram por afirmarem o uso da Lei para a santificação.
Afinal qual é a eficácia destes usos para purificar o coração?
Qual é o poder do ritual para aumentar a nossa fé, amor, misericórdia e diligência?
Substituiremos a adoração verdadeira que é adoração dO que é invisível, pelo uso de coisas que são visíveis?
A verdadeira fé necessita de apoio do que é visível, uma vez que ela é a firme convicção do que não se vê?
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Não é pela fraqueza da carne, e por uma falta de andar verdadeiro na Palavra e no Espírito que todas estas coisas são praticadas?
Afinal, não afirma nosso Senhor que a verdadeira adoração é em Espírito?
A repreensão do apóstolo aos gálatas também se aplica a estes, e eles fariam bem em atentar para ela e se arrependerem, abandonando de vez os rudimentos fracos que foram abolidos por Cristo na cruz.
Todo este cerimonial aponta para a Lei e dá honra à Lei. Aponta para a Antiga Aliança e despreza a Nova. Exalta a Moisés e rebaixa a Cristo. E todo crente instruído pela Palavra e pelo Espírito abominará tais práticas e não poderá adorar a Deus na liberdade do Espírito.
Deus é espírito e deve ser adorado somente em espírito. Deus é verdade e deve ser adorado somente em verdade. E a graça e a verdade foram trazidas por Cristo, de modo que não se sirva mais a Deus nas bases de um antigo pacto que Ele revogou.
Lembremos que Deus nunca prometeu salvar qualquer pessoa pela observância religiosa de cerimônias e rituais.
Aqueles que confiam em tais coisas servem um deus, que é a própria invenção deles, e não o verdadeiro Deus.
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O verdadeiro Deus tem isto para dizer: Nenhuma religião me agrada por meio da qual o Pai não é glorificado pelo Filho.
Portanto, o que eles fazem, nesta nova dispensação não é obediência à Lei de Moisés, porque esta exigência já passou, mas idolatria, porque não é culto direcionado àquilo que Deus tem determinado para a Nova Aliança, mas simples prazer carnal em realizar cerimônias e rituais não para obediência e aprazimento de Deus, senão dos próprios desejos carnais deles.
Mas o pecado dos gálatas era ainda maior do que o destes dos chamados grupos de busca de santidade baseada nos cerimoniais e rituais da Lei, porque estes como dissemos buscam adorar a Deus e se santificarem por este meio, e os gálatas procuravam prioritariamente usar disto para serem justificados, isto é, para obterem a salvação que a maioria deles já havia conquistado pela graça, mediante a fé em Cristo Jesus.
E que nem mesmo a desobediência deles poderia desfazer, mostrando assim que a salvação em Cristo não é um rudimento fraco, como o de estar aliançado nos termos da Antiga Aliança, porque todo crente é nascido do Espírito, é filho de Deus por adoção, e está firme e seguro na graça que o salvou, porque a sua justificação não depende dele próprio senão dAquele que o salvou, e que carrega nos Seus
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próprios ombros todas as ovelhas que estavam perdidas.
Por isso Paulo rogou humildemente aos gálatas, como um pai que insta com seu filho perdido, a voltarem ao mesmo bom caminho em que andavam antes da sua perdição.
Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que estava perplexo com o que eles haviam feito, e receava então que não tivesse trabalhando em vão em relação a eles.
Mas como que logo lembrando imediatamente da condição deles de terem sido feitos filhos de Deus, tal como ele havia sido feito também, ele desce ao nível deles, não no que se refere ao pecado, mas da miséria deles, e por um momento também se sente miserável com eles, ante a impotência de poder fazer por si mesmo algo em relação a eles, de modo que todo o seu trabalho e cuidado por eles não se tornasse infrutífero.
Assim, ele lhes fez recordar quão grande era o afeto que eles tinham por ele quando lhes pregou o evangelho pela primeira vez, e como eles lhe haviam tratado tão bem, mesmo diante da sua fraqueza na ocasião, provavelmente em razão de alguma possível enfermidade, pois ele lhes diz que eles estavam dispostos até mesmo, se possível fora, a arrancarem os seus próprios olhos para darem ao apóstolo, podendo isto ser
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uma referência a alguma enfermidade que Paulo tivera nos olhos quando anunciou o evangelho pela primeira vez na Galácia.
Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos judaizantes naquela região.
O livro de Atos conta detalhes do que ocorreu ao apóstolo quando pregava o evangelho nas cidades da Galácia (Perge, Derbe, Listra, Antioquia da Psídia e Icônio).
Em todo o caso, não importa qual era o tipo de fraqueza, e sabemos que não era nada relativo a pecados, porque se o fora o apóstolo não teria poder para ministrar a eles, e pecado não é fraqueza mas rebelião.
Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e impotência pessoais, serviram aos propósitos de Deus, porque o poder de Cristo, a Sua graça, se aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que quando somos fracos então é que somos fortes, porque trocamos a nossa incapacidade pelo poder do Espírito Santo, que nos assiste nas nossas fraquezas.
Deste modo, Paulo chamou os gálatas de irmãos. Ele quis demonstrar que apesar de apóstolo de Cristo ele não se envergonha de chamá-los de irmãos, desde o maior até o menor deles, porque efetivamente o eram, assim como o nosso Salvador também não se envergonha de
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nos chamar de irmãos, apesar de ser o nosso Senhor.
No amor cristão as diferenças se dissolvem. Na comunhão da lareira de Deus o pai é igual aos filhos, e se tornam todos servos de Deus e irmãos uns dos outros, porque esta será a condição definitiva que todos os filhos de Deus terão no céu.
Assim como Cristo se rebaixou deixando a glória dos céus, por amor dos eleitos, também devemos nos humilhar para que possamos ser úteis àqueles que se encontram em miséria espiritual.
Não devemos lhes falar do alto da nossa autoridade e importância, porque esmagaríamos a cana quebrada e apagaríamos o pavio fumegante, e certamente não é este o ministério do Senhor Jesus neste mundo, porque tem se compadecido das nossas misérias.
Quando o próprio Paulo havia pregado o evangelho a eles pela primeira vez, os gálatas superaram por causa do seu amor a ele, a tentação que foi para eles vê-lo naquela fraqueza.
Eles não o desconsideraram e nem o desprezaram como possivelmente estavam fazendo agora, por causa dos argumentos dos judaizantes, porque procuravam por todos os
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meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante dos seus olhos, afirmando que se fosse verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito a tantas tribulações, fraquezas e perseguições, conforme costumava ocorrer com Paulo.
Estes falsos apóstolos se gloriavam das suas honrarias, das suas posses e conquistas terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus por observarem a Lei de Moisés.
E agora os gálatas não haviam conseguido vencer a tentação de considerar Paulo alguém que não era bem sucedido segundo os padrões do mundo.
Assim, devem ter se escandalizado não meramente em Paulo, mas principalmente no próprio Cristo, considerando-Lhe incapaz de muar as circunstâncias de Paulo para melhor. E isto não passava de um juízo carnal.
Por isso Paulo rogou que eles voltassem a ser como foram no princípio. Que não julgassem segundo a aparência, e que não interpretassem as tribulações como prova de um possível desfavor de Deus.
Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que estiver errando, e se o irmão errado tiver algum senso ele agradecerá ao seu amigo.
Na verdade o mundo odeia quem fala a verdade, e este é considerado um inimigo.
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Mas entre amigos não deve ser assim, muito menos entre cristãos.
O apóstolo queria que os gálatas soubessem por que ele lhes tinha falado a verdade, para o próprio bem deles, e que não pensassem que ele os repugnava.
Ele lhes falou a verdade porque os amava.
“17 Eles têm zelo por vós, não como convém; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.
18 É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco.
19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós;
20 Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito.” (Gál 4.17-20).
O apóstolo alerta aos gálatas sobre as reais intenções do judaizantes.
Eles protestavam que tudo o que estavam fazendo era por causa do zelo deles em relação aos gálatas.
Mas Paulo lhes disse qual era a real motivação por detrás daquele suposto zelo: eles odiavam a
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doutrina de Paulo e queriam jogá-la fora da vida dos gálatas. Eles queriam afastar os corações deles do coração de Paulo. Eles queriam em última instância afastá-los de Cristo.
Eles agiam movidos por inveja porque lhes incomodava o modo como o evangelho avançava rapidamente no mundo, ganhando muito mais adeptos do que o judaísmo, que nos dias de Jesus havia se transformado numa religião pervertida baseada em mandamentos de homens, enfatuados em sua compreensão carnal.
Enquanto a mensagem dos judaizantes estava completamente afastada da revelação das Escrituras, o cristianismo nos dias de Paulo seguia fielmente esta revelação, e o evangelho estava plenamente em conformidade com tudo o que os profetas do Velho Testamento haviam falado da parte de Deus a respeito dele.
Então que zelo era aquele que os judaizantes afirmavam ter pelos gálatas?
Aquilo que parecia um grande zelo era na verdade ausência de sinceridade e amor à verdade. E é costume dos sedutores insinuarem muito afeto pelas pessoas, somente com a intenção de ganhá-las para as causas deles.
Eles as adulam, e envolvem-nas com apelos emocionais e sentimentais, e procuram agradá-las dando-lhes aquilo para o qual a natureza
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delas está inclinada, sem levar em conta se estas coisas estão em conformidade com a vontade revelada de Deus.
O diabo não se importa nem um pouco em concordar com todos os nossos desejos e em estimular a realização de todos os nossos sonhos.
Neste sentido ele é o maior amigo dos pecadores, só que o que ele faz é agravar ainda mais a miséria espiritual deles, e a culpa pelos seus pecados.
Ele usa sempre a mesma estratégia do Éden, pois promete mundos e fundos, tal como fez descaradamente até com o próprio Jesus na tentação do deserto.
Foi a mesma velha Serpente que prometeu onisciência divina a Adão e a Eva, e que procurou se mostrar mais amigo deles do que o próprio Deus, dizendo-lhes que eram livres e deveriam fazer um bom uso da liberdade deles fazendo tudo o que desejassem, inclusive comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Ele não disciplina, não cura feridas com remédios amargos, antes sempre sinaliza o que é doce e agradável, promete riquezas, fama e honrarias, e não são poucos os que caem nos seus laços vitimados pelas suas próprias cobiças pecaminosas.
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Então o trabalho do diabo é basicamente este de estimular a própria natureza decaída do homem a pecar e a se desviar da verdade, não importando que a Palavra de Deus seja transgredida e que os autênticos ministros que Deus tem levantado para nos servir sejam feridos por nossas ingratidões e rebeliões.
Foi assim que o diabo agiu no céu quando da sua queda e ele tem procurado ardorosamente discípulos na terra entre os homens que estejam dispostos a seguir os seus passos.
O que os gálatas haviam feito então foi um ato de rebelião contra a verdade revelada, para seguirem após o diabo, virando as costas para o Senhor que lhes havia salvado.
Deste modo, todo zelo verdadeiro deve ser sempre zelo pelo bem (Gál 4.18), e um zelo sincero e bem disciplinado que exista não somente na presença dos homens, mas em todas as ocasiões da nossa vida, porque não é zelo para agradar a homens, mas para agradar a Deus. Assim como um bom empregado é aquele que tudo faz bem sem que o patrão esteja presente.
O sentimento de Paulo em relação aos gálatas era o de que ele necessitaria gerar de novo neles a vida de Cristo.
Isto não seria necessário quanto à regeneração, porque eles eram nascidos de novo pelo
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Espírito, e por isso Paulo os chama de “meus filhinhos”. Mas que eles necessitavam ser renovados na Palavra da verdade, na vida e no andar no Espírito, certamente isto era necessário em face do procedimento deles.
Isto era algo que havia deixado o apóstolo inteiramente perplexo. Eles haviam se afastado da verdade em muito pouco tempo.
Todo pastor deveria ser como Paulo no esforço de formar Cristo no coração dos seus ouvintes. Assim todo pastor é um pai espiritual que forma Cristo nos corações dos seus ouvintes.
Os Gálatas haviam perdido a forma de Cristo, mas Paulo estava dizendo que estava disposto a reformar Cristo neles, isto é, a formá-lo de novo em seus corações.
Paulo expressa que gostaria de fazer isto estando presente entre eles, e mudando o seu tom de voz, porque em face do arrependimento que visse neles à medida que lhes expusesse estas coisas, ele mudaria também o tom de suas palavras repreensivas.
Ele preferiria fazê-lo realmente com outro tom de voz porque é muito doloroso para todo pai ter que corrigir duramente os seus filhos, à altura da gravidade dos erros que eles cometeram, mas todo pai amoroso sempre abaixará o tom da sua voz quando perceber um sincero
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arrependimento no filho que se submeteu à sua repreensão.
“21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.
25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora.
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30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.
31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.” (Gál 4.21-31).
Paulo demonstra nesta seção da epístola que o que estava ocorrendo com os gálatas era o mesmo que havia ocorrido entre Ismael e Isaque, filhos de Abraão, porque Ismael zombava de Isaque porque era filho da mulher livre (Sara), e ele, filho de uma escrava (Agar).
De igual modo, os dois povos que haviam se formado como descendência de Abraão, o terreno (Israel na Palestina) e o celestial (os crentes) estariam na mesma condição relativa a Isaque e Ismael, pois os que nasceram como povo no Sinai, onde a Lei foi promulgada e Deus fez aliança com este Israel terreno através de Moisés, viria a perseguir o povo nascido pela aliança firmada no sangue de Jesus derramado no monte Sião, e cuja pátria não é a Jerusalém terrena, mas a Jerusalém celestial.
Então não era nada surpreendente que aqueles judeus estivessem perseguindo a Igreja de Cristo para sujeitá-la à escravidão da Lei.
Os gálatas deviam estar bem inteirados disto de maneira que entendessem qual era a verdadeira natureza do assédio que estavam sofrendo da parte dos judeus.
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Deus havia profetizado que colocaria Israel em ciúmes com os gentios, porque em face do endurecimento deles ele estenderia a salvação aos gentios, e eles não concordariam, do ponto de vista religioso deles, que pagãos pudessem ser aceitos por Deus, ainda que se convertendo a Ele, fora dos termos da Aliança que havia sido feita no monte Sinai.
“19 Mas digo: Porventura Israel não o soube? Primeiramente diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo, Com gente insensata vos provocarei à ira.
20 E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam.
21 Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.” (Rom 10.19-21).
Assim, como no dizer de Paulo, Agar e Sara representam alegoricamente duas alianças, duas dispensações diferentes.
Uma que gera filhos para servidão (Agar) porque não são nascidos segundo a promessa de Deus, tal como fora Isaque.
E a Jerusalém terrena gerou filhos para servidão na Antiga Aliança, isto é, debaixo da Lei, porque não havia naquela aliança nenhuma promessa
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de Deus relativa à vida eterna, tal como há na Nova.
Deus salvou naquela dispensação também pela graça, mediante a fé, mas não por alguma promessa que houvesse naquela dispensação para os que faziam parte da Antiga Aliança.
As promessas que encontramos nos profetas do Velho Testamento neste sentido se referem à Nova Aliança que ainda seria inaugurada com a morte de Jesus.
Elas apontavam para o futuro, e assim Agar, que é a Antiga Aliança não poderia jamais gerar um Isaque, senão um Ismael, porque o filho da promessa foi prometido a Sara, a esposa daquele que tinha as promessas a saber, Abraão.
A igreja é a noiva de Cristo, e é nEle que se cumprem as promessas de Deus relativas à vida eterna celestial.
É em Cristo, que é o Isaque da Igreja, que se cumpre a promessa de Deus de gerar filhos espirituais contados na Sua descendência. Deste modo, os que não descendem de Cristo, não podem ser contados como filhos de Deus, como verdadeiros judeus. Assim, quanto à geração de filhos pela promessa divina, Isaque foi também um tipo de Cristo na Antiga Aliança.
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Aqueles que são nascidos por promessa são filhos da mulher livre (Sara que representa a Jerusalém celestial).
Estes e somente estes podem contar com a liberdade porque nasceram por promessa, tal como Isaque, da mulher estéril e que Deus tornou abundantemente fecunda para trazer muitos filhos espirituais à luz.
A Jerusalém celestial ainda não foi manifestada, e pode-se dizer dela que é uma mulher estéril, por ora, tal como Sara, mas no momento aprazado pelo Senhor ela estará cheia de filhos, filhos que viverão eternamente, porque o que Deus tem prometido, cumprir-se-á a seu tempo.
Os judeus, que ainda hoje permanecem com seus filhos, resistindo à Aliança da Graça, por estarem apegados à justiça da Lei, permanecem em estado de escravidão e não conhecerão a liberdade dos filhos de Deus caso não se convertam voltando-se para Cristo.
Enquanto isto, os gentios que não conheciam a revelação de Deus estão se convertendo pelo mundo afora porque são filhos da promessa, e vivem na liberdade do Evangelho, e não sob o jugo da Antiga Aliança.
Devemos considerar que aqueles que são das obras da Lei, ainda em nossos dias, perseguem aqueles que vivem na graça de Cristo.
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Os próprios crentes legalistas são assassinos da graça, e apesar de livres, agem como se fossem escravos porque querem viver debaixo da Lei, não sabendo que em Cristo não estão mais debaixo da Lei e por isso não devem viver debaixo dela, colocando-se debaixo de um jugo do qual foram livrados pela promessa que Deus fez acerca dos seus filhos gerados na Nova Aliança.
Deste modo ninguém se surpreenda caso encontre grande resistência da parte destes legalistas, toda vez que pregar e ensinar a doutrina da graça.
Eles têm pavor da liberdade da graça porque suas consciências são fracas e eles temem servir a Deus na liberdade do Espírito.
Eles encontram na Lei um certo senso de segurança. Eles temem perder o mérito e louvor pessoal pelo esforço próprio, pensando que guardam todos os mandamentos, e não lhes agrada transferir toda a glória e louvor à graça de Cristo.
Eles se sentem melhores e superiores a muitos comparando-se com eles, e não poderiam fazer isto vivendo na graça, senão somente na Lei.
Eles fazem um uso inadequado da Lei, fora dos propósitos que Deus designou para ela, e perseguirão movidos ou não pelo diabo, todos aqueles que estiverem desfrutando da graça,
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sob a falsa alegação de uma injusta acusação de que exageram demais os méritos de Cristo, e a depravação da natureza terrena.
Eles não gostam de ouvir a verdade que a graça faz de que são pecadores necessitados da misericórdia divina.
Não lhes agrada ouvir que sem Jesus nada poderão fazer, porque eles se iludem que tudo o que se refere à vontade de Deus são eles próprios que fazem, e é o dever deles fazê-lo, só que são como Ismael e não como Isaque. São como Agar e não como Sara.
A Jerusalém deles é terrena e não celestial. E em vez de olharem o monte Calvário em Sião, agrada-lhes mais voltar suas atenções ao Sinai, uma vez que lhes agrada mais o pensamento de um mediador como Moisés, que deixa muito para ser feito por eles, do que um Mediador como Cristo, que nada deixou para ser feito por eles nos assuntos relativos à sua redenção, justificação, regeneração e até mesmo santificação.
Dizemos até mesmo santificação porque até nossas boas obras dependem da graça do Senhor, porque é Deus quem realiza em nós tanto o querer quanto o efetuar, de modo que podemos dizer como Paulo que trabalhamos muito para o Senhor, todavia não nós mas a Sua graça.
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Na verdade, nada podemos fazer de nós mesmos para Deus, porque somos completamente insuficientes para sequer vencer os poderes espirituais que se levantam contra nós quando nos dispomos a fazer a Sua santa vontade, e muito menos para reproduzirmos a vida abundante de Jesus Cristo.
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Breve Comentário de Gálatas 5
“1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
3 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.
4 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.
5 Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.
6 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.
7 Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade?
8 Esta persuasão não vem daquele que vos chamou.
9 Um pouco de fermento leveda toda a massa.
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10 Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação.
11 Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou, pois, perseguido? Logo o escândalo da cruz está aniquilado.” (Gál 5.1-11).
Tendo argumentado no capítulo anterior quanto à liberdade que os crentes têm em Cristo por serem filhos da promessa, da Jerusalém celestial, por terem sido libertados em Cristo da condenação e da maldição da Lei, é dever deles viverem para Cristo, não como escravos, mas como livres que são.
O crente é livre até mesmo da escravidão do seu próprio ego, da sua própria vontade, porque é livre para poder escolher e viver segundo a vontade de Deus pelo poder do Espírito.
Portanto, uma vez que os gálatas retornassem à obediência à verdade do Evangelho deveriam ter o devido cuidado de não retornarem a cair na mesma sedução que lhes havia vencido e removido da liberdade em que se encontravam, para serem sujeitados ao jugo de servidão que lhes foi imposto pelos judaizantes.
A perseguição do filho da escrava ao filho da livre não é sem propósito, pois os que são escravos querem também escravizar outros a eles próprios.
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Há poderes terríveis operando no mundo espiritual, e eles disputam pelo governo total de nossas vontades e espíritos.
A carne sempre tentará trazer o crente de novo à sujeição total que exercia sobre ele, quando andava no mundo sem Cristo.
O mundo também faz o mesmo tentando cativar totalmente a vontade e os afetos do crente nos tesouros terrenos, sejam eles lícitos ou não.
Satanás, o diabo, dispensa comentários quanto a isto, quer agindo diretamente, quer usando os seus ministros que se transfiguram em ministros de justiça, para enganar os crentes.
A liberdade com que Cristo nos libertou é muito ampla, mas Paulo tem em mente aqui nesta seção de Gálatas, a liberdade relativa ao jugo da Lei que havia sido colocado pelos judaizantes sobre os crentes gálatas.
Aprouve a Deus salvar e libertar os pecadores através da fé, conforme revelou ao profeta Habacuque (2.4). Então a mensagem de salvação e libertação do evangelho é a pregação da fé e não das obras da Lei.
Nós não devemos evangelizar alguém que esteja a ponto de passar desta vida para outra, em seu leito de enfermidade, dizendo-lhe que se deseja ir para o céu deve circuncidar o seu prepúcio, ou então que deve guardar todos os dez
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mandamentos da Lei de Moisés, ou qualquer outra coisa diferente de que deve confiar apenas em Cristo como seu Salvador, arrependendo-se dos seus pecados, e crer no seu coração que Ele é o Senhor.
Se as forças lhe permitirem deve confessá-lo com a sua boca invocando o Seu nome, porque Deus prometeu salvar todo aquele que invocasse o nome do Seu Filho para que seja salvo.
É importante frisar que Paulo não estava combatendo a circuncisão como se ela fosse um mal, pois poderia ser mantida por costume por todo crente judeu que assim o desejasse, mas que este não pensasse nem de longe que há alguma eficácia espiritual no ato da circuncisão seja para que propósito for, muito menos para a justificação.
Todo crente que não obedecesse isto, e colocasse a sua confiança que o modo de agradar a Deus seria pela simples circuncisão do prepúcio ou por qualquer outro expediente carnal, segundo Paulo, estava com isto dando uma prova do seu afastamento da comunhão com Cristo por esta grande ofensa feita a todo o grande trabalho de expiação e redenção que Ele fez em nosso favor, para que tributássemos a Ele e somente a Ele toda a glória por todos os atos que foram operados em nós, relativos à salvação, e uma declaração formal expressa de
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que não desejamos depender dEle para progredirmos em nosso amadurecimento espiritual.
Estes muitos evangelhos que não ensinam que Cristo é o tudo da nossa salvação, e que é olhando sempre para Ele com os olhos espirituais da fé, que progredimos espiritualmente, sempre produzirão este efeito de nos separar da comunhão com o Senhor, ainda que afirmemos que é em Seu nome que nos submetemos às práticas que são estranhas ao evangelho.
Uma vez estando separado da comunhão com o Senhor, por se entristecer e apagar a atuação do Espírito Santo, com este pecado de ingratidão e de desconsideração para com Ele e com tudo o que fez por nós, a consequência imediata é a de se decair da graça, ou seja, ficar privado do crescimento na graça, e das consolações da graça pelo Espírito.
A propósito, faremos bem em considerar que a graça não é uma filosofia, mas um poder, na verdade, o maior poder operante neste mundo, porque é por ela que se destrói o pecado, e que se transforma progressivamente pecadores em santos, pelo processo da santificação.
Como o objetivo dos gálatas era o de serem justificados pela circuncisão, Paulo lhes lembrou que isto era muito pouco ou quase
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nada, porque segundo a justiça da lei, para a justificação, é necessário cumprir perfeitamente todos os demais mandamentos e isto continuamente por toda a vida. E temos demonstrado anteriormente que isto é uma tarefa impossível, porque o homem é pecador.
Nós não estamos tratando agora de um assunto sem importância. É uma questão que envolve liberdade perpétua ou escravidão perpétua. Porque a libertação da ira de Deus pelo ofício amoroso de Cristo não é um benefício transitório, mas uma bênção permanente, assim como o jugo da Lei, para os que permanecem debaixo da maldição da Lei, por não terem sido libertados por Jesus, não é um temporário mas uma aflição perpétua.
Contudo os gálatas haviam sido encantados e estavam cegos quanto a esta verdade que lhes havia sido ensinada, mas na qual eles não haviam ficado firmes. Eles não permaneceram firmes na graça, e decaíram da graça. Porque não há outro modo de permanecer na graça a não ser o de ficar firme nela, sem se deixar remover na mente ou no espírito, dando crédito a doutrinas que afirmam o oposto da nossa segurança em Jesus.
Este descaimento, como afirmamos anteriormente é consequente da desonra que se dá ao poder do Senhor e à Sua graça, quando se
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pensa que há outro modo de se agradar a Deus a não ser pela fé.
A falta de fé naquilo que Deus tem afirmado é incredulidade, e isto é um pecado terrível.
Deixar de crer naquilo que a boca de Deus tem proferido para se dar crédito ao homem ou ao diabo, é falta de fé, e é por isso que Paulo afirma que é pelo Espírito da fé que aguardamos a esperança da justiça, isto é, esta fé é operada pelo Espírito, de modo que temos plena esperança da justiça (Gál 5.5) que temos recebido em Cristo Jesus, e vale destacar que a noção bíblica de esperança não é incerteza quanto ao futuro, mas segurança de que receberemos tudo o que Deus nos tem prometido. E Paulo afirma que não é ser judeu ou gentio que tem qualquer valor, mas ter esta fé que opera pelo amor (Gál 5.6).
O amor é sobretudo a união do crente com Cristo que é a fonte do amor. Isto significa então que não é possível ter fé à parte da comunhão com Cristo.
E se os gálatas estavam se desligando de Cristo para se ligarem aos judaizantes e ao ensino pervertido deles, que fé eles poderiam ter? Como uma fé que não atuava pelo amor poderia aumentar?
Tal como a igreja de Éfeso citada em Apocalipse, os gálatas haviam abandonado o seu primeiro
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amor, e como a igreja de Laodiceia tinham deixado Cristo do lado de fora dos seus corações batendo à porta para que se arrependessem.
O Senhor estava fazendo exatamente isto, através da epístola que Paulo escreveu aos Gálatas.
Jesus mesmo o inspirou a isto para buscar as Suas ovelhas que haviam fugido do aprisco. O lobo tinha-lhes atacado e não poucas estavam muito feridas.
A perplexidade de Paulo em relação aos gálatas estava fundada no fato de que eles vinham correndo bem a carreira cristã, eles estavam progredindo na fé, e de repente, por terem permitido serem removidos da sua própria firmeza por darem ouvido aos judaizantes, ficaram paralisados e impedidos de continuar a carreira que vinham efetuando.
Nós já citamos no início deste comentário que qualquer igreja está sujeita a isto, e os crentes devem vigiar constantemente contra este perigo, especialmente os ministros do evangelho, de modo que todo o trabalho que tiverem realizado não seja perdido num instante por um vento de falsa doutrina.
Lembremos que a nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra Satanás que semeia o joio do erro enquanto dormimos, isto
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é, quando descuidamos na nossa vigilância e diligência.
Paulo esclareceu aos gálatas que quem lhes havia persuadido àquela insensatez que eles haviam cometido não fora o Senhor que os chamou, mas o diabo através dos seus instrumentos, com o fim de separá-los da comunhão com Cristo.
O diabo sabe quão difícil é a reconciliação de um crente desviado com o seu Senhor.
Por isso Satanás tudo fará para trazer dores aos crentes, por saber que não os terá mais consigo no inferno depois que eles saírem deste mundo
Portanto eles deveriam ter muito cuidado com o fermento do erro, porque não é necessário muito fermento para levedar toda a massa de crentes, desviando-os da verdade.
Toda heresia deve ser resistida e rejeitada logo na sua origem.
Todo pastor fiel logo expulsará o lobo e o manterá distante do rebanho tão logo perceba que ele está se aproximando.
Paulo não disse que os gálatas, que haviam decaído da graça por terem se circuncidado pensando obter a justificação que já haviam alcançado em Cristo, de uma vez para sempre no dia da conversão, que eles seriam
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condenados, mas ele fez esta afirmação em relação aos falsos apóstolos que lhes haviam fascinado, porque seguramente eles não conheciam pessoalmente a Cristo, e não haviam sido libertados por Ele da condenação eterna.
Há muitas considerações que podem ser feitas sobre o decair da graça, mas nós devemos ter em conta que não é possível alguém cair de uma posição na qual nunca estivera dantes.
Então o versículo não se aplicaria a incrédulos, por nunca terem estado debaixo da graça, senão da maldição da Lei.
Entretanto, podemos considerar, que se deixarmos de lado a mera interpretação de palavras, e levarmos em conta qual era a ideia a que Paulo queria se referir, então nós podemos admitir que haja também uma inclusão no versículo daqueles que ainda não conhecendo a Cristo estavam tentando ser justificados pelo simples ato da circuncisão, e não exclusivamente pela fé.
Assim a palavra do apóstolo seria também uma advertência para estes gálatas incrédulos que haviam se associado à igreja, pois uma vez que a justificação por obras da Lei é impossível, eles estavam afastados da graça, e neste caso não poderiam ter qualquer benefício de Cristo, por não estarem ligados a Ele pela fé.
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Assim, permanece verdadeiro que tanto num caso quanto noutro Cristo de fato de nada aproveitará, conforme o dizer de Paulo, a crentes justificados que se desviam da fé e àqueles que pensando estarem agradando a Deus, no entanto não chegaram sequer a ser justificados porque estão confiando em práticas religiosas para alcançarem a justificação que é obtida somente pela graça, e mediante a fé.
Os profetas haviam predito que a morte do Messias faria com que Ele se tornasse numa Rocha de escândalo para os judeus, porque no entendimento e expectativa carnais deles, jamais admitiriam uma tal coisa, pois sempre esperaram um Messias poderoso segundo o mundo e que lhes desse poder temporal sobre as demais nações do mundo.
O Messias que eles esperavam era militar e político. E que grande decepção Jesus não se tornou para eles em seu ministério terreno, e eles se ofenderam e se escandalizaram nEle, quando lhes afirmou que era o Messias prometido.
Eles não somente O rejeitaram como também O crucificaram por causa disto.
Por muitos anos, mesmo depois da morte de Jesus eles perseguiram todos os Seus seguidores.
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Todo aquele que pregava o evangelho era motivo de escândalo para os judeus e suscitava a perseguição deles.
O verso 11 deve ser entendido da seguinte forma, porque o que ali se afirma é como se Paulo o dissesse deste modo, em outras palavras: “Porém, irmãos, se é verdade que eu continuo a anunciar que a circuncisão é necessária, por que é que sou perseguido? Se eu anunciasse isso, então a minha pregação a respeito da cruz de Cristo não causaria dificuldade para ninguém.”.
Isto implica que é possível que os oponentes de Paulo podem ter até mesmo usado o seu nome para enganar os gálatas, dizendo-lhes falsamente que Paulo dizia que a circuncisão era necessária para a salvação. E isto explicaria a defesa que ele fez ironicamente desautorizando o que haviam falado a seu respeito.
“12 Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.
13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor.
14 Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
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15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros.
16 Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
17 Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
19 Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia,
20 Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
21 Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
22 Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
23 Contra estas coisas não há lei.
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24 E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
25 Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.
26 Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.” (Gál 5.12-26).
Ao se referir aos judaizantes no verso 12 dizendo: “Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.”, parece que o apóstolo tinha em mente a circuncisão que eles tanto prezavam e pregavam como o fim mesmo da vida com Deus, e assim ele diz, já que eles gostam tanto de cortar os prepúcios, que eles então se mutilem totalmente.
Parece que Paulo estava falando de modo irônico para deixar nos gálatas uma impressão bastante forte quanto à religião que eles estavam querendo seguir: baseada na carne e não no Espírito. Ele vai falar logo a seguir da luta da carne contra o Espírito e do Espírito contra a carne.
Na ilustração do capítulo anterior ele havia demonstrado que é um princípio inalterável esta luta entre o que é carnal e o que é espiritual no exemplo que ele havia fixado em Ismael e Isaque, em Agar e Sara, entre a Jerusalém terrena e a Jerusalém celestial, entre o escravo e
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o livre, entre o nascido por promessa e o não nascido por promessa.
Todas estas comparações tinham em vista conduzir ao entendimento de que o crente estará sempre empenhado numa luta contra a carne (natureza terrena), não propriamente ele, senão o Espírito que nele habita (nova natureza obtida pela fé em Cristo).
Aquelas ilustrações do capítulo anterior tinham em vista ensinar que o que é nascido da carne, não herdará o céu e tudo o que é espiritual, celestial e divino, juntamente com o que é nascido do Espírito.
Porque o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
O homem não herdará o céu, a menos que tenha sido transformado em espiritual, e isto é uma obra exclusiva do Espírito Santo que é dado somente àqueles que creem em Cristo.
Foi somente a estes que Deus fez a promessa de conceder o Espírito, porque disse a Abraão que daria esta bênção somente aos que estivessem unidos ao seu descendente, que é Cristo, verdade à qual Paulo já havia se referido no terceiro capítulo.
Ao chegar a este nível de argumentos na epístola, Paulo vai deixar de lado o assunto da circuncisão para se concentrar na fonte que
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havia dado causa ao problema dos gálatas. Ele vai colocar o dedo na ferida para extirpar a infecção que havia contaminado toda a igreja.
Ele fez o diagnóstico espiritual e afirmou a eles que haviam caído não por uma mera troca de doutrina. Não foi meramente a circuncisão que lhes havia afastado da comunhão com Cristo. Algo tinha acontecido com eles antes de terem sido fascinados pelos judaizantes, e foi isto que permitiu a facilidade de semear sua heresia entre eles.
Eles haviam feito um mau uso da liberdade que alcançaram em Cristo. Eles não usaram a liberdade da graça para crescerem no amor servindo uns aos outros.
Antes, eles usaram esta liberdade para dar ocasião às suas cobiças carnais.
Eles pensaram que ser livrado por Cristo significava liberdade para fazerem o que fosse do agrado deles, isto é, para fazerem a vontade do ego. Eles perderam de vista o jugo e o fardo de Jesus, que é a obediência devida a Ele. Eles perderam de vista a cruz que deve ser carregada diariamente, e o dever da autonegação.
Contudo quem é suficiente para estas coisas? Então eles perderam também de vista a necessidade de se estar debaixo da influência do Espírito Santo, praticando a Palavra de Deus (andar no Espírito) para que então, estas coisas
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ordenadas pelo Senhor possam ser cumpridas e vividas.
A liberdade cristã não é liberdade para a carne, mas liberdade para a nova criatura. A carne deve ser mortificada, e por isso foi crucificada juntamente com Cristo quando Ele morreu na cruz do Calvário.
A nova criatura, esta sim, é livre, ela é celestial e não terrena.
Ela é responsável e perfeitamente santa.
É a semente da vida eterna que foi semeada no coração do crente.
É a nova vida do céu que foi implantada nele, e que está destinada a crescer e a vencer a antiga natureza, assim como a Nova Aliança revogou e substituiu a Antiga.
Ela é o odre novo no qual o Senhor está colocando o seu vinho celestial da verdadeira alegria.
É por viver e andar no Espírito, no crescimento progressivo da nova natureza, que os crentes são habilitados e capacitados a viverem em unidade sendo um só corpo em Cristo, unidos pelo vinculo do amor. E assim se cumpre o propósito de Deus em relação a eles.
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Porém, quando se deixam governar pela carne, e negligenciam os deveres que lhes são ordenados na Palavra, quando deixam de ser diligentes no hábito da santificação, esquecendo de purificar seus corações pela Palavra, pelo poder do Espírito, e de permanecerem continuamente nisto por todos os dias das suas vidas, então o que se verá são todas as manifestações que são designadas por obras da carne (dissensões, iras etc) e não o fruto do Espírito, que é amor, paz etc.
Os que andam na carne jamais cumprirão a Lei, e se iludirão se pensarem que a estão cumprindo.
Os que andam no Espírito têm cumprido a Lei, e por isso não estão debaixo da Lei (v. 18), porque não há lei que possa ser contrária ao fruto do Espírito Santo (v. 23).
Como toda Lei se cumpre no amor (v. 14) que é fruto do Espírito, então nenhum crente deve negligenciar o dever de amar a Deus e ao próximo, para que não seja achado em falta quanto ao cumprimento da Lei. Porque se diz que aquele que ama tem cumprido a Lei.
Quão distantes estavam os gálatas de compreenderem isto!
Quão distantes estão os crentes da nossa própria época, envolvidos com questões religiosas, congressos, debates, estratégias e tantas outras
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coisas que tratam de tudo e de todos, exceto do dever de amar por um andar no Espírito.
É muito fácil errar esse alvo, e é aí que Satanás encontra facilidade para semear o joio.
Não basta somente defender a sã doutrina, é necessário praticá-la por um viver no amor de Deus.
Aqueles que deixam este primeiro amor, que perdem de vista que o propósito de Deus é a unidade espiritual dos seus filhos, e isto determina o dever de todos eles de serem espirituais por um mortificar da carne e por um andar no Espírito, que se traduz em andar efetivamente debaixo da sua instrução e direção, sendo obediente à vontade de Deus revelada na Palavra, podem estar certos que em vez de aprovação estão sujeitos à repreensão e correção de Cristo, por maiores que sejam as suas obras, e por maiores que sejam os seus esforços para agradarem a Deus no tocante a tudo o que façam até mesmo para cumprirem os mandamentos da Lei, porque o farão de modo carnal e legalista, longe de uma verdadeira obediência de coração, que é eminentemente espiritual e celestial e não carnal e terrena.
É por isso que Paulo diz no verso 24 que: “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”.
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Ora se Deus sentenciou à morte a carne com suas paixões e cobiças na cruz, como podem os crentes viverem debaixo desta influência, em vez de se despojarem de tudo isto, uma vez que a vontade de Deus é que este corpo de morte de pecado não seja apenas morto, mas também lançado fora?
A nós é dado o dever de fazermos este trabalho de despojamento pelo Espírito Santo, em vez de hospedarmos o velho homem que já foi morto desde o dia que nos convertemos a Cristo e passamos a pertencer a Ele.
Deste modo quanto mais uma igreja se torna carnal mais ela estará sujeita à influência das falsas doutrinas.
Elas serão recepcionadas com muito maior facilidade, porque é somente sendo espirituais que podemos discernir não somente estas coisas, porque o homem espiritual discerne todas as coisas, principalmente as coisas que são do Espírito, porque elas se discernem espiritualmente.
Portanto é nosso dever nos interessarmos por esta luta do Espírito contra a carne, para apoiarmos a parte que deve ser apoiada, e destruir a que deve ser despojada.
Paulo fala disto como sendo o dever não somente dos gálatas, mas de todos os crentes.
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Nós devemos então estar profundamente interessados em aprender sobre o significado de tudo o que se refere à nossa santificação, não somente no que ela significa, isto é, qual é a natureza da verdadeira santificação, como também em aprendermos o que devemos fazer para nos santificarmos todos os dias das nossas vidas.
Se é por um andar no Espírito que se vence a cobiça da carne, então devemos nos empenhar firmemente em não apenas aprender o significado disto, como também o modo correto de praticá-lo.
A vida cristã não é uma vida contemplativa, não é uma mera devoção mística, porque é possível ser isto e estar completamente distante da verdade revelada.
Antes é uma vida que deve ser aprendida, antes de ser vivida.
É uma prática, é um hábito, é um constante crescimento na graça e no conhecimento de Jesus (II Pe 3.18).
Paulo argumenta fortemente com os gálatas dizendo que se é pelos pecados, que são as obras da carne, que os praticantes deles serão deixados do lado de fora do céu, como podem os crentes, que ganharam o céu por Jesus Cristo, permanecerem na prática destas mesmas obras pecaminosas?
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É dever de todos eles purificarem seus corações pela Palavra, mediante o poder do Espírito.
Lembremos sempre que é dito que é o Espírito que vence a carne, porque é Ele que luta contra a carne, uma vez que somente Ele pode vencê-la.
Que nenhum crente se lance à obra de santificação sem depender do Espírito.
É andando nEle que somos libertados santificados. De modo que se afirma na Palavra que onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade, e que a santificação é do Espírito.
Como a salvação é pela graça, mediante a fé, então uma pessoa pode ser salva (justificada e regenerada) com muito pouco evangelho, mas nenhum crente poderá prevalecer contra a carne sem muito evangelho.
Todas as graças contidas no evangelho são necessárias ao seu amadurecimento espiritual, e assim todo crente fará bem em se esforçar para não somente se inteirar delas, como também em praticá-las no Espírito.
Como ser constante e perseverante na oração e na meditação da Palavra sem isto?
Como ser grato por tudo sem isto?
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Como viver contente no Senhor em toda e qualquer circunstância sem isto?
Dizemos que não é fácil o aprendizado progressivo destas coisas.
É tarefa para toda a vida.
Elas devem ser sempre recordadas para que possam ser vividas porque somos limitados e dados a esquecer facilmente tudo o que aprendemos, a não ser que isto se torne um hábito pela prática constante.
Daí ninguém deve ficar constrangido, mesmo em programas formais de ensino, em repetir os ensinos que já foram ministrados pelo próprio ou por outrem, porque nunca é demais aprender e recordar continuamente a Palavra de Deus.
Porque em vez de ser algo cansativo, neste caso é algo necessário, porque contribui para a fixação da doutrina de maneira que nunca sejamos desviados dela.
Nós vemos assim que não é pequena a tarefa de nos aplicarmos ao conhecimento da verdade.
Que nenhum ministro de Cristo se deixe vencer pela tentação de abreviar o seu dever de se inteirar devidamente de tudo o que se refere à verdade revelada, para que assim tenha poder não somente para instruir o povo do Senhor,
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como para combater os contradizentes e os que se opõem à sã doutrina.
Lembremos que o cristianismo não é somente deixar de fazer o mal, como também fazer o bem.
Nosso cristianismo não somente nos obriga a mortificar o pecado, como também a viver em retidão, não somente se opondo às obras da carne, como também e principalmente produzindo o fruto do Espírito.
Então, se isto estiver acontecendo nós pertencemos realmente a Cristo, porque este é o trabalho da sua graça operante em nós.
É muito fácil sabermos se estamos andando na carne ou no Espírito, isto é, se temos sido crentes carnais ou espirituais, porque os que andam na carne se inclinam para as coisas da carne, e os que andam no Espírito se inclinam para o fruto do Espírito, de maneira que uma vez detectada a nossa inclinação para a carne devemos nos arrepender e em oração sincera e humilde pedir a Deus que nos perdoe e que nos conduza a andar verdadeiramente no Espírito, sabendo que isto exigirá de nós todo empenho e diligência em cumprir os deveres que nos são ordenados na Palavra de Deus.
Consideradas todas estas coisas, lembremos ao desfrutar da liberdade que temos em Cristo, que Satanás gosta de mudar esta liberdade em licenciosidade.
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O apóstolo Judas se referiu a homens que tinham convertido a graça do Senhor em lascívia (Jd 4).
A carne pode argumentar falsamente a nós que já que não estamos debaixo da lei e sim da graça, então devemos aproveitar para viver no pecado por sabermos que os nossos pecados foram perdoados em Cristo, e que na condição de crentes fomos livrados da condenação eterna.
Quanto perigo há para quem procede desta maneira.
Estas pessoas se esquecem que é exatamente por causa do pecado que o mundo de ímpios será destruído e condenado por Deus, e como Ele poderia ficar indiferente a esta atitude, mesmo que seja naqueles que se tornaram Seus filhos pela fé em Cristo?
Certamente Ele os corrigirá e lhes fará sofrer o dano a que Paulo se refere em I Cor 3.15, certamente quando comparecerem diante do tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal (Rom 14.10; II Cor 5.10).
No seu Comentário da Epístola aos Gálatas Lutero afirmou muitas coisas interessante a respeito desta seção da epístola, e dentre as quais destacamos as seguintes:
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Paulo colocou primeiro o fundamento doutrinal para que então pudesse construir sobre ele com ouro, prata e pedras preciosas de boas obras.
Agora, não há nenhum outro fundamento diferente de Jesus Cristo. Neste fundamento o apóstolo ergueu a estrutura das boas obras que ele define aqui com as palavras “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Acrescentando tal preceito de amor o apóstolo envergonhou os falsos apóstolos, como se ele estivesse dizendo aos gálatas: “eu descrevi para vocês o que é a vida espiritual, e agora eu também ensinarei o que são verdadeiramente as boas obras.
Eu estou fazendo isto para que você possa entender que as cerimônias tolas das quais os falsos apóstolos praticam são muito inferiores às obras do amor cristão”.
Os falsos mestre somente podem construir com madeira, feno e restolho porque eles pervertem a pura doutrina.
Seria estranho que os falsos apóstolos que nunca foram tais campeões sérios na prática das boas obras, que eles pudessem requerê-las.
A única exigência deles era que deveriam ser observadas a circuncisão, dias, meses, anos e tempos. Eles não poderiam pensar em qualquer outra boa obra.
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A isto que é dito por Lutero podemos acrescentar que isto continua ocorrendo em nossos dias, especialmente entre as religiões que abundam em rituais, porque eles usam isto como escudo para disfarçar a incapacidade deles de viverem em unidade harmoniosa em amor, porque como poderiam ter isto se é um produto do Espírito Santo naqueles que são verdadeiramente nascidos de novo e que andam em retidão de vida?
Então estarão empenhados em muitas obras chamadas de caridade, enquanto não conseguem viver e praticar entre eles próprios o verdadeiro amor cristão, que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé não fingida, isto é autêntica, e recebida como um dom de Deus, quando nos convertemos a Cristo.
Mas Lutero também nos ajuda a compreender bem isto a que estamos nos referindo:
O apóstolo exorta todos os cristãos a praticarem boas obras depois que eles abraçaram a pura doutrina da fé, porque embora eles tenham sido justificados, eles têm ainda a velha carne para lhes impedir de fazer o bem.
Então se torna necessário que os pastores sinceros cultivem a doutrina das boas obras tão diligentemente quanto a doutrina da fé, porque Satanás é um inimigo mortal de ambos.
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Não obstante a fé tem que vir primeiro porque sem fé é impossível saber o que é uma ação agradável a Deus.
Paulo sabe explicar a lei de Deus.
Ele condensa todas as leis de Moisés em uma breve oração.
A razão se ofende com a brevidade com que Paulo trata a Lei.
Então a razão deve olhar a doutrina da fé e suas obras verdadeiramente boas.
Servir um ao outro em amor, isto é, instruir o errado, confortar o aflito, elevar o caído, ajudar o próximo de todos os modos possíveis, lutar e ser paciente com as fraquezas dele, suportar sofrimentos, ingratidão na Igreja e no mundo, e por outro lado obedecer o governo, honrar os pais, ser paciente em casa com uma esposa resmungona e uma família incontrolável, estas coisas não são consideradas como boas obras.
O fato é que elas são obras excelentes que o mundo não pode calcular possivelmente o verdadeiro valor delas.
Meu próximo são aquelas pessoas que necessitam da minha ajuda, como Cristo explicou no décimo capítulo de Lucas.
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Até mesmo se uma pessoa me fez alguma injustiça, ou me feriu de qualquer forma, ele ainda é um ser humano com carne e sangue.
Contanto que uma pessoa permaneça um ser humano, ela deve ser objeto do nosso amor.
Quando a fé em Cristo é subvertida a paz e unidade se acabam na igreja.
Opiniões diversas e dissensões sobre doutrina e um membro morde e devora o outro, isto é, eles condenam um ao outro até que eles são consumidos... Quando a unidade do Espírito for perdida não pode haver nenhum acordo em doutrina ou vida. Erros novos aparecerão sem medida e sem fim.
Não é uma questão fácil ensinar fé sem obras, e ainda requerer obras.
A menos que os ministros de Cristo sejam sábios controlando os mistérios de Deus eles podem confundir fé e boas obras facilmente.
Ambos, a doutrina da fé e a doutrina das boas obras devem ser ensinadas diligentemente, e ainda de um tal modo que ambas as doutrinas fiquem dentro da esfera que Deus delimitou para elas.
Se nós ensinarmos somente em palavras, como fazem nossos oponentes, nós perderemos a fé.
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Se nós somente ensinamos sem praticar as boas obras as pessoas de fé virão a pensar que as boas obras são supérfluas.
A luxúria da carne nunca está completamente extinta em nós.
Se levanta novamente e novamente e luta com o Espírito.
Nenhuma carne, nem no verdadeiro crente, está tão completamente debaixo da influência do Espírito que não morderá ou devorará, ou pelo menos negligenciará o mandamento do amor.
À provocação mais leve enfurece e exige vingança, e odeia o próximo como um inimigo, ou pelo menos não o ama tanto quanto deveria ser amado.
Então o apóstolo estabelece esta regra de amor para os crentes.
Sirva um ao outro em amor.
Suporte as fraquezas de seu irmão.
Perdoe um ao outro.
Sem tal posicionamento e contenção da carne, enquanto nos doamos e perdoamos, não pode haver nenhuma unidade porque ofender e retribuir ofensas são inevitavelmente humanos.
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Sempre que você estiver bravo com seu irmão por qualquer causa, reprima suas emoções violentas pelo Espírito.
Seja paciente com a fraqueza dele e o ame.
Ele não deixa de ser seu próximo ou irmão porque ele o ofendeu.
Pelo contrário, ele agora mais do que nunca requer sua atenção amorosa, mais do que dantes.
Quanto à concupiscência, ou luxúria, ou cobiça da carne citada por Paulo no verso 16, Lutero citou inclusive a sua experiência pessoal para descrever como lidou com isto:
“Quando eu era um monge eu pensei que sempre estaria perdido quando eu sentia uma emoção má, luxúria carnal, ira, ódio, ou inveja. Eu tentei aquietar minha consciência de muitas formas, mas não funcionou, porque a luxúria sempre voltava e não me dava nenhum descanso. Eu dizia a mim mesmo. Você permitiu este e aquele pecado, inveja, impaciência, e outros semelhantes. Seguir esta ordem sacra foi em vão, e todas suas boas obras são boas para nada. Se naquele momento eu tivesse entendido esta passagem, que a carne luta contra o Espírito e o Espírito contra a carne, eu poderia ter me poupado do tormento por muitos dias do meu ego. Eu teria dito a mim: Martinho, você nunca
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estará sem pecado, porque você tem a carne. Não desespere, mas resista à carne.
Eu me lembro como Staupitz dizia a mim: “eu prometi a Deus mil vezes que eu me tornaria um homem melhor, mas eu nunca mantive minha promessa. De agora em diante eu não vou fazer mais nenhum voto. A experiência me ensinou que eu não posso mantê-los. A menos que Deus seja misericordioso a mim por causa de Cristo e me conceda que seja santificado, eu não poderei me levantar diante dEle." O seu desespero foi agradável a Deus. Nenhum crente deve confiar na sua própria justiça, e deve neste particular, imitar o exemplo de Davi (Sl 143.2; 130.3).
Todo mundo deve estar consciente da sua fraqueza e vigiar contra isto. Vigie e lute em espírito contra a sua fraqueza. Até mesmo se você não puder superar isto completamente, pelo menos você deveria lutar contra isto.
De acordo com esta descrição um santo não é ninguém que é feito de madeira e nunca sente qualquer luxúria ou desejos da carne. Um verdadeiro santo confessa a retidão dele e ora para que os pecados dele possam ser perdoados. A Igreja inteira ora para o perdão de pecados e confessa que acredita no perdão de pecados.
Quando a carne começa a picar o único remédio é pegar a espada do Espírito, a Palavra de salvação, e lutar contra a carne. Se você deixou a
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Palavra longe do alcance da vista, você está desamparado contra a carne. Eu sei isto por ser um fato. Eu fui assaltado por muitas paixões violentas, mas assim que eu agarrava alguma passagem da Bíblia, minhas tentações me deixaram. Sem a Palavra eu não poderia ter me ajudado contra a carne.”
Quem dera que esta sinceridade e humildade de Lutero, em seu testemunho pessoal com o fim de nos ajudar a entender a sã doutrina, a verdade, estivessem em todos os ministros fiéis de Cristo.
Como o rebanho seria ajudado se em vez de tentarem aparecer como super heróis da fé diante deles, confessassem as suas fraquezas que são comuns a todos os homens, de maneira que eles se sentissem incentivados a progredirem em santificação.

The Physical Object

Format
Paperback
Pagination
xxxix, 402p.
Number of pages
402
Dimensions
21 x 14,8 x 2 centimeters
Weight
482 grams

ID Numbers

Open Library
OL25938169M

Work Description

Religião cristã

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September 2, 2016 Edited by Silvio Dutra Edited without comment.
August 22, 2016 Edited by Silvio Dutra Edited without comment.
August 9, 2016 Edited by Silvio Dutra Edited without comment.
August 9, 2016 Created by Silvio Dutra Added new book.